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Leblon em chamas [2]

Ao se aproximar a Copa do Mundo, há sinais de que protestos de rua com consequências imprevisíveis se tornarão cada vez mais frequentes pelo País afora. Exemplo disso ocorreu sábado passado (22/2/2014), em São Paulo.

Há duas semanas, no Rio, os responsáveis pela morte do cinegrafista Santiago Andrade teriam sido pagos para provocar a reação da polícia, conforme foi noticiado? Questão que não foi esclarecida, mas se confirmada atestaria a tentativa de manipular as manifestações, desencadeando a repressão, com propósitos eleitoreiros.

| 24 fev 2014_13h23
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Ao se aproximar a Copa do Mundo, há sinais de que protestos de rua com consequências imprevisíveis se tornarão cada vez mais frequentes pelo País afora. Exemplo disso ocorreu sábado passado (22/2/2014), em São Paulo.

Há duas semanas, no Rio, os responsáveis pela morte do cinegrafista Santiago Andrade teriam sido pagos para provocar a reação da polícia, conforme foi noticiado? Questão que não foi esclarecida, mas se confirmada atestaria a tentativa de manipular as manifestações, desencadeando a repressão, com propósitos eleitoreiros.

Os manifestantes serão capazes de conter o ímpeto dos depredadores, sem o que perderão a batalha pelo apoio da opinião pública? Haverá tempo e disposição para superar o despreparo e a brutalidade da polícia que agride indisciminadamente manifestantes e jornalistas? Apesar do perigo real que cinegrafistas e repórteres correm, as emissoras de televisão serão capazes de fazer uma cobertura menos radiofônica e parcial?

A probabilidade das respostas a essas questões serem negativas permite prever tempo sombrio nos próximos meses. Corremos o risco de estarmos nos encaminhando para a desolação sinalizada na gravação postada no YouTube em 2013, reproduzida neste blog em 19 de julho do ano passado, na qual vemos um campo de batalha depois do combate – a avenida Ataulfo de Paiva, no Leblon.

Esse registro é uma rara demonstração de sensibilidade em meio à enxurrada de imagens claudicantes, amadoras e profissionais, veiculadas pela internet.

Na época, a mensagem que lançamos ao ar convidando o responsável anônimo pela gravação a entrar em contato ficou sem resposta. Graças, porém, ao jornalista Bruno Yutaka conseguimos entrar em contato com Luiz Carlos Neves de Azambuja e colhemos por e-mail seu depoimento sobre as circunstâncias em que fez a gravação:

“Gravei esse vídeo com um celular Samsung Ace, por volta das onze horas da noite, indo de bicicleta da minha casa para a dos meus pais que moram na outra extremidade do Leblon. Era uma bike comum, não era elétrica, não, e o celular estava na minha mão. O pessoal que participara do quebra-quebra já se deslocara para Ipanema. Caminhões dos bombeiros e carros pipa da polícia haviam começado o rescaldo. Nunca imaginei que o video pudesse causar impacto. Acho que foi sorte de principiante.”

Gravado sem interrupções, a câmera avança pela avenida, passando pelos escombros. Registro bruto, não há edição ou acréscimo de ruídos, música ou comentário. A suavidade do movimento e a firmeza da câmera, somados a ocasionais panorâmicas que prolongam a observação de detalhes, além de serem um feito digno de um equilibrista profissional, fazem de Leblon em chamas um belíssimo réquiem.

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