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anais da campanha

Liberado, Bolsonaro solta a língua

Após alta hospitalar, presidente e candidato à reeleição multiplica suas entrevistas a veículos regionais, principalmente do Nordeste

Marcos Amorozo e Thais Bilenky | 11 ago 2021_14h06
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“Se Deus quiser, nós concluiremos a Transposição do Rio São Francisco até o final do ano que vem. É um grande legado a todos vocês. Vocês merecem isso. É o mínimo que um chefe de estado pode fazer por vocês”, prometeu o presidente Jair Bolsonaro no final de julho a um blogueiro pernambucano. Foi a sexta entrevista exclusiva de uma maratona direcionada a veículos locais que começou no dia 20 de julho, dois dias depois da alta do tratamento do intestino e dos soluços. As quinze entrevistas que constam na agenda oficial em um intervalo de 21 dias quebraram um jejum de pelo menos cinco meses, nos quais concedeu entrevistas exclusivas à imprensa ou algo que simule isso apenas quatro vezes: uma à “repórter mirim” Esther Castilho, em maio; outra a Julio Ribeiro, da Rádio Guaíba, em julho; e outras duas ao apresentador sensacionalista e politicamente alinhado a ele Sikêra Júnior, da RedeTV – em abril, quando posou com uma placa de “CPF cancelado”, e em julho, quando ainda estava no hospital. 

A maratona marca uma ofensiva eleitoral do presidente num momento de alta impopularidade e explicita dificuldades para atravessar o ano que resta até a campanha de 2022. Mostra também a preocupação de Bolsonaro com o Nordeste, única região onde não venceu a eleição de 2018. Oito das quinze entrevistas foram concedidas a veículos nordestinos, quatro a veículos do Sudeste, duas do Sul e uma do Centro-Oeste.

Se, quando fala em rede nacional, o presidente ataca ministros do Supremo, ameaça desacatar a Constituição e questiona o sistema eleitoral brasileiro, em veículos regionais ou locais apela para as promessas de acabar com a seca e aumentar o Bolsa Família – sem deixar de repetir os temas mais frequentes, o voto impresso e o que ele define, sem provas ou fundamentações, como uma armação do sistema para favorecer Lula e tirá-lo da disputa.

“Discutimos o novo valor para o Bolsa Família a partir de dezembro. Nós vamos aumentar no mínimo em 50% porque houve a inflação. Não vou negar que aumentou o preço do gás, da gasolina, do ovo, do óleo, do feijão, do ovo, da galinha”, reconheceu na mesma entrevista ao blogueiro de Pernambuco Magno Martins em que falou da transposição do São Francisco. 

Em 26 de julho, na rádio Arapuan de João Pessoa (PB), Bolsonaro defendeu a aliança do governo com o Centrão para aprovação de projetos como a reformulação e ampliação do Bolsa Família, agora batizado de Auxílio Brasil. Naquela semana já estava acertada a escolha do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para assumir a Casa Civil. “[Os congressistas do grupo] têm sido úteis para nós aprovarmos muita coisa. Por exemplo, nós devemos – não está definido ainda – mandar uma proposta de emenda à Constituição para acertarmos a questão do Bolsa Família [o que foi oficializado nesta segunda]. Se eu não tiver apoio dos partidos de centro, o Bolsa Família não tem como ser reajustado agora para novembro e dezembro”, justificou-se. 

Quando menciona hipotéticas fraudes não comprovadas nas urnas eletrônicas, relaciona-as à vitória de Lula, hoje seu principal adversário na eleição de 2022, favorito nas pesquisas de intenção de voto. “Eu não estou aqui para criticar poder nenhum. Mas tiraram o cara [Lula] da cadeia, tornaram ele elegível, para não ser presidente? É improvável. Agora, por que tiraram aquele cara da cadeia, por que o tornaram elegível? Passou na primeira instância, segunda instância, terceira instância. Na quarta: ‘Ah, o foro dele não é em Curitiba.’ Pelo amor de Deus!”, disse à TV Piauí, em 2 de agosto. 

Na segunda-feira seguinte, 9 de agosto, quando convidou os chefes dos três poderes para um desfile de tanques da Marinha na Esplanada dos Ministérios, o presidente já admitia a derrota do voto impresso no Congresso. “Se não tivermos uma negociação antes, um acordo, vai ser derrotada a proposta. Porque o ministro Barroso apavorou alguns parlamentares, e tem parlamentar que deve alguma coisa na Justiça, deve no Supremo”, disse em entrevista à Rádio Brado da Bahia, acompanhado do ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos-BA). Ainda assim, não recuou nos ataques ao sistema eleitoral. “Se a gente entrar não precisa nem fazer perícia, está comprovado. O TSE comprovou, o TSE assina embaixo. Apagou os rastros, apagou as digitais na cena do crime. Isso é mais do que suficiente para nós sim aprovarmos o voto impresso.”

O Supremo e seus ministros têm sido alvo constante de ataques. “O que não podemos admitir é que o ministro [do Supremo Luís Roberto] Barroso participe da soltura de Lula e depois da apuração secreta dos votos”, afirmou a uma rádio de Novo Hamburgo (RS) – apesar de Barroso não ter “participado” da soltura de Lula, ao contrário, ter votado contra o entendimento do Supremo que permitiu sua saída da prisão. Além disso, na condição de presidente do TSE, cargo que ocupa hoje, Barroso não tem acesso às urnas, mas sim a responsabilidade de garantir o seu sigilo.

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