A crítica sobre as críticas de piauí
| Edição 53, Fevereiro 2011
IML, NESTROVSKI E BULGÁRIA
Trabalhei por vinte anos como médico-legista, tendo sido responsável por mais de 4 mil necropsias e centenas de exames de lesões corporais, sexologia forense, embriaguez e uso de drogas. Os exames “no vivo” não eram a minha especialidade, mas muitas vezes as circunstâncias me obrigaram a eles. Fui responsável também por muitas necropsias pós-exumação de corpos. Quero parabenizar a revista pela reportagem com as médicas-legistas (“Ouvindo os mortos”, piauí_52, janeiro 2011). Salvo um ou outro detalhe desimportante, foi a reportagem mais fiel que já vi sobre um IML brasileiro. O nosso de Salvador é, reconhecidamente, um dos melhores. Daqui saíram Raimundo Nina Rodrigues, Oscar Freire e, se não me engano, também Afrânio Peixoto. Sou também graduado em flauta e membro há quase 29 anos da Orquestra Sinfônica da Universidade Federal da Bahia. Então apreciei muito o diário de Arthur Nestrovski, a quem admiro há anos, sobre a viagem da Osesp à Europa (“De harpas e bagagens”, piauí_52, janeiro 2011). Mas detesto quando a revista faz uns pastiches fantasiosos sobre países, verdadeiros ou criados por seus quadros. O da Bulgária sobre Dilma Rousseff (“Гйe Bûlgaria Herród”, piauí_51, dezembro 2010) foi ridículo, indigno de uma revista bacana. Não é defesa de Dilma, podia ser com qualquer pessoa.
TUZÉ DE ABREU_SALVADOR/BA
OUVINDO OS MORTOS
O que dizer quando não se tem o que dizer sobre um texto brilhantemente escrito e profundamente humano sobre um tema tão árido e estranho? Doutora Antonieta, morreria com prazer para me encontrar mais intimamente com a senhora.
GILSON ROBERTO PYTLOWANCIV_CURITIBA/PR
DEUS NÃO FAZ MATEMÁTICA VAGABUNDA
Fiquei muito bem impressionado com a qualidade da Esquina “Deus não faz matemática vagabunda” (piauí_52, janeiro 2011). Eu gostaria muito que houvesse mais textos desse nível divulgando a ciência no país. Raramente se vê um texto de divulgação científica em português que consiga inspirar e ser preciso ao mesmo tempo, embora isso esteja melhorando em geral.
ALESSANDRO S. VILLAR_ERLANGEN/ALEMANHA
DISSONÂNCIAS MUNICIPAIS
A matéria sobre a acústica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (piauí_51, dezembro 2010) leva a crer que eu tenha uma opinião desfavorável à qualidade acústica do teatro, o que absolutamente não procede. Citei o fato de que após a reforma os dois espetáculos em que participei foram excepcionais em termos acústicos.
O primeiro, Magdalena, peça de Villa-Lobos, foi escrito para uma execução com a utilização de microfones. E no segundo, Romeu e Julieta, a concepção da direção utilizou o teatro como cenário e, portanto, cantamos em lugares nem sempre utilizados – como, por exemplo, os camarotes e a própria plateia. Nestes dois casos a voz ficou em posição extremamente favorável acusticamente.
Essa opção da diretora foi elogiada no sentido de permitir que em uma ópera como Romeu e Julieta, plena de momentos líricos íntimos, pudéssemos cantar com muita tranquilidade e sem esforço vocal, ao contrário do que o texto insinua erroneamente. A matéria, quando omite essas importantes informações, não traduz absolutamente a opinião de uma cantora que atua há mais de quinze anos no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
ROSANA LAMOSA_RIO DE JANEIRO/RJ
RESPOSTA DA REPÓRTER CRISTINA TARDÁGUILA: Na entrevista gravada (três horas de duração) a cantora relatou diversas situações que a posicionaram de forma clara em relação ao resultado da obra feita no Theatro Municipal e à direção artística de Carla Camurati. Sua crítica, contundente e merecedora de ocupar diversos parágrafos no texto publicado, está arquivada em CD na redação.
LUAN SANTANA
Dando uma olhada nas chamadas da capa da revista deste mês vi: “Luan Santana, superstar” (“Gurizinho vira ídolo”, piauí_52, janeiro 2011). Outro dia vi o gurizinho na tevê e pensei: “Alguém precisa fazer uma matéria com esse rapaz. E só pode ser a piauí. Não sou fã da sua música, mas a vida de rockstars (sertanejostar?) como ele é certamente interessante de se conhecer.
MÁRCIO GARONI_SO PAULO/SP
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Não deixa de ser decepcionante assinar uma revista de jornalismo literário e encontrar uma chamada sobre Luan Santana logo na capa, mesmo que tenha uma reportagem sobre Keith Richards logo na sequência. O que não dá para entender é se é ironia ou heresia da indústria cultural.
ANA CRISTINY TIGRINHO_CAMPO LARGO/PR
QUAL É?
Achei que a matéria sobre o Luan Santana ficou superficial. Eu esperava encontrar uma abordagem sobre a necessidade da criação de um mito para veneração social ou individual, ou alguma referência sobre que incidência esse fenômeno pode ter na construção da identidade de um jovem que se depara com um sucesso tão repentino. Agora, a pergunta que não quer calar… não que eu tenha qualquer inclinação por esse distinto senhor de pomposas penugens forjadas na região cefálica, mas qual é o problema de vocês com o Eike Batista (“Rumo ao topo”, piauí_50, novembro 2010; “A baleia branca de Rodolfo Landim”, piauí_52, janeiro 2011)?!?! Juro que eu queria saber!!!!
CLÁUDIA FONSECA_RIO DE JANEIRO/RJ
NOTA DA REDAÇÃO: Trata-se de informação privilegiada que somente Roberto Justus e Caetano Veloso estão autorizados a compartilhar.
CRÔNICA DA DECADÊNCIA
Certa feita um ditoso e falastrão pinguim estava aflito, com cabível pseudossapiência (que lhe é particular e costumeira), por encontrar um chamariz popularesco para sua publicaçãozinha mensal. Ainda como ótimo redator (que obviamente sempre o fora), limpou o suor frio que já encharcava sua boina e adejou – não só por cima da sua geladeira – em busca de algo realmente explosivo. Na tevê a sua frente, um ex-gordo falava com afobamento característico sobre o “mais novo” ídolo da música do sertão, agora pantaneiro. A revolução suscitada pelo alvoroço da plateia acéfala do apresentador e pelo meteoro que “cantava” no mágico e abençoado palco multiplicou-se em sua cuca: não tendo piedade de alguns fiéis leitores de seu vômito periódico, resolveu meteorizar a si mesmo e a já tão pobre e falaz revista.
Com as vendas às alturas, o pinguim riu-se satisfeito: trouxe para si os inúteis “fãs” do gurizinho que alguns, sugestivamente, denominam cantor (“Gurizinho vira ídolo”, piauí_52, janeiro 2011). Um estilo: o guri canta sertanejo. Em sua mente diabólica, o pinguim multiplicou o valor do lixo editorial pelos inteligentíssimos e prestigiadíssimos meteorizados e logo legitimou sua escolha com a máxima: é necessário democratizar as matérias que figuram na ordinária revista. De interessante em alguns momentos a revista passou a totalmente dispensável.
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O mais novo vulto da música (uma ironia por si só) não consegue sequer fingir ser o que o denominam. O guri é piegas, repetitivo (tal qual esse protesto), irritante e extremamente descartável. Seus sucessos questionáveis não resistem ao menos uma temporada inteira, e logo os fãs arrebatados e abduzidos por essa música exímia e genial serão, como por magia, resgatados por mais um new star que tremelique suas cordas vocais e entoe algumas notas frágeis e claramente desafinadas.
Tendo como bagagem cultural, extremamente apurada e sólida, os livros do mago inglês e o imenso repertório que traz consigo em seus dedos e mente, os temas preferidos do pantanoso ser são amor, traição e fenômenos extraterrestres. Sua carreira é tão sólida que certamente o veremos alçar grandessíssimos voos nas paragens longínquas, de onde nunca deveria ter saído (infeliz inclusão digital).
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Não satisfeito, o pinguim brindou-nos com uma imensa fotografia do belíssimo popstar ilustrando uma matéria de alta relevância que ocupa, ao todo, cinco páginas da publicação gélida do Spheniscidae. Portanto, para os imunes, a revista possui apenas 53 páginas, já que as restantes caíram como um meteoro, na lata de lixo.
NOTA DA REDAÇÃO: Ufa!
MARCO AURÉLIO ALVES_GOIÂNIA/GO
IRLANDA
Deve ser trágico ver a renda per capita anual de seu país despencar de 50 mil dólares para 45 mil (“O preço da felicidade, o custo da desgraça”, piauí_52, janeiro 2011). Tadinha da Irlanda...
ANTONIO CAMPOS_BRASÍLIA/DF
MUDANÇA DE SEXO
Completamente humana a reportagem de Clara Becker sobre as cirurgias de mudança de sexo no Brasil (“Como mudar de sexo”, piauí_43, abril 2010). A forma de escrita aproxima, ao menos um pouco, o sofrimento dessas mulheres e homens “com um ponteiro a ser ajustado” e a alegria de se perceber que a anatomia não é mais um destino imutável. Muita força para essas pessoas cheias de coragem!
LEILA SAADS_BRASÍLIA/DF