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    Antiga moradia de internos de uma colônia de hansenianos ainda em atividade em Itu, São Paulo: “Se morre a pessoa que mora na casa, eles lacram ou então derrubam, porque querem acabar com o Pirapitingui”, lamenta uma paciente CRÉDITO: LUIZA SILVESTRINI_2023

questões sociomedicinais

Eles ainda estão lá

A história dos brasileiros que foram forçados a viver em colônias de hansenianos

Luiza Silvestrini | Edição 213, Junho 2024

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Os fins de semana são sempre movimentados no Hospital Estadual Especializado em Reabilitação Dr. Francisco Ribeiro Arantes, na cidade de Itu, no interior paulista. Naquele domingo, dia 26 de fevereiro do ano passado, o local estava ainda mais agitado. Na varanda de um dos pavilhões do hospital, uma mulher tocava teclado enquanto um grupo de pessoas a acompanhava na canção Quem sabe?, de Carlos Gomes e Bittencourt Sampaio. No interior do imóvel, sobre uma mesa decorada com fotos antigas e enfeites dourados, havia um bolo de três andares e um balão em formato de coração em que se lia: “Mafalda 100 anos.”

Deitada em uma cama disposta perto da mesa de aniversário, Mafalda Nardo ouvia, muito sorridente, as canções escolhidas para a festa e recebia os cumprimentos dos parentes e amigos pela passagem do seu aniversário, dez dias antes. Ela é a paciente mais longeva e a mais antiga do hospital. “Eu me lembro de tudo”, diz Nardo, conhecida entre os amigos por sua ótima memória. Foi assim: em 1936, quando tinha 13 anos, começaram a aparecer manchas estranhas em sua pele e a família procurou ajuda médica. “Voltei chorando”, ela conta. “O médico disse que era doença de lepra. Eu levei um choque, chamei ele de mentiroso e disse que eu não era essa doença.” Pouco tempo depois do diagnóstico, por imposição do poder público, Nardo foi levada pelas irmãs para o Asilo Colônia Pirapitingui, como era então chamado o hospital em Itu, inaugurado em 1931 e uma das mais antigas instituições para hansenianos ainda em atividade no país.

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