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    Zé Celso, no Oficina, em 1983: “Ele perguntava a mesma coisa, várias vezes seguidas, e se esquecia da resposta. Ficava preocupado e me perguntava: Será que estou com Alzheimer? Eu respondia: ‘Não, Zé, você só fuma maconha há muito tempo.’” CRÉDITO: ANTONIO CARLOS PICCINO_AGÊNCIA O GLOBO_1983

despedida

A última tragycomedyorgia de Zé Celso

Como foi o velório do diretor que revolucionou a dramaturgia brasileira

Angélica Santa Cruz | Edição 203, Agosto 2023

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O comentário inevitável era entreouvido pelas pessoas que – empoleiradas no famoso emaranhado de tubos de aço que formam a plateia do Teatro Oficina – acompanhavam o velório de José Celso Martinez Corrêa: de cabo a rabo, a cerimônia fazia jus à obra do dramaturgo e diretor. Na noite de 6 de julho, uma quinta-feira, a despedida foi recheada de nuances entre tristeza e alegria, poesia e contestação, congraçamento em que tudo fazia sentido e mixórdia em que ninguém entendia nada. Tudo com horas e horas de duração e tendo, como pano de fundo, um aspecto profundamente ritualístico. Igualzinho, portanto, ao climão geral das peças que, ao longo das últimas décadas, viraram a assinatura de Zé Celso.

Às 21 horas, jovens atores começaram a varrer o chão de madeira laminada da passarela de 50 metros que serve de palco do belíssimo Oficina, hoje uma referência cultural do bairro do Bixiga, na região central de São Paulo. O público já começava a lotar o ambiente que, iluminado com luzes vermelhas, ganhava um efeito cênico levemente dionisíaco. Às 22 horas, uma banda improvisada puxou uma toada de canções. Primeiro, Menino Bonito, de Rita Lee. Depois, Carinhoso, de Pixinguinha e Braguinha. A lotação começou a aumentar perigosamente, com gente escalando os pedaços da arquibancada que permaneciam vazios. Em nome da segurança, a plateia foi lentamente esvaziada. A pequena multidão, então, passou a esperar do lado de fora pela chegada do corpo de Zé Celso.

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