O banheiro público é o reflexo da cultura de uma sociedade e sua mera existência já indica o estágio da história de um povo. A limpeza, o conforto e a sua disseminação apontam para o patamar de uma civilização – não necessariamente superior ao de certas sociedades indígenas que desconhecem o conceito de banheiro.
Duas canadenses, a fotógrafa Sian James e a psicóloga e escritora Morna E. Gregory se conheceram ainda jovens quando, para sobreviver, recolhiam esterco no centro equestre da cidade de Alberta. Elas rodaram o mundo colecionando imagens e histórias de banheiros e, em 2006, publicaram na Inglaterra o livro Banheiros do Mundo, do qual foram selecionadas as fotos a seguir.
Quem se depara, em Londres, com esses ovos gigantes pode se indagar se não se trata de abrigos para alienígenas de passagem. Mas são compartimentos sanitários perfeitamente normais, refúgios relaxantes, ainda que desaconselháveis aos claustrofóbicos. São fabricados em fibra de vidro por uma empresa especializada em construção de cascos de navios. Os ovos cor-de-rosa, obviamente, são para as moças e os azuis, para os rapazes.
Banheiros temporários são preparados para a festa anual dos templos eróticos de Khajuraho, na Índia. Das tendas revestidas de seda rosa (que lembram os sáris das indianas), exala um perfume acentuado de especiarias. A versão masculina tem apoios de concreto para os pés. A feminina se resume a um buraco no chão.
O banheiro dobrável é uma boa alternativa para quem viaja para os cantos mais reclusos do interior da Austrália. Por ser leve e prática, a “Thunderbox do Jimmy” – ou “Caixa de Tempestade” – pode ser dobrada e desdobrada sem o menor trabalho em um solo plano. Aí é só cavar um buraco e colocar a Thunderbox em cima. É quase tão confortável quanto o que se tem em casa.
Durante a semana, os pedestres caminham distraídos sobre o que parece ser uma simples placa de esgoto na calçada do Soho, em Londres.
Nos fins de semana, no entanto, emerge da placa um mictório com capacidade para três pessoas. Destinados apenas aos homens, os banheiros de fim de semana são uma resposta à falta de espaço nas metrópoles.
Os primeiros banheiros públicos de Johanesburgo, na África do Sul, foram construídos em 1911. A palavra gentlemen indica que eles eram reservados somente a homens: não ficava bem uma dama ir ao banheiro fora de casa. Luxuosos, tinham água corrente e cabines individuais, e um empregado distribuía toalhas e engraxava sapatos. Atrás do prédio, havia duas entradas discretas, reservadas aos negros. O contraste entre os dois tipos de banheiros era enorme. Os dos negros eram buracos em forma de fechadura, cavados na pedra.
Um restaurante de Tóquio oferece uma experiência inusitada às mulheres. Uma vez sentada no vaso, uma cabeça gigantesca começa a se mexer lentamente e avança para frente, enquanto ressoa uma música trovejante. A cabeça ameaçadora acaba por parar bem rente à mulher e lhe dá um beijo – no joelho.
No mesmo restaurante, o mictório destinado aos homens subitamente ganha vida. Uma música começa a tocar e uma grande boca sorridente se desloca de um lado para o outro. Ao fazer xixi, o usuário é obrigado a se mexer para acompanhar o gingado da boca. Mas a cabeça gira em torno de si mesma, cacarejando. Enquanto isso, uma das seis mãos tira fotos do sacolejante freguês.
Os banheiros de uma badalada boate em Johanesburgo refletem a luz cintilante emanada pelas paredes onde os mictórios de aço estão presos. O design e a luz filtrada oferecem um lugar de relaxamento, ao menos em comparação com o caos rítmico da pista de dança.
Eis o modelo Oblic: o mictório feito sob medida pela fábrica de cerâmica Villeroy & Boch para a sua sede social, em Mettlach, na Alemanha. O pequeno mictório enganchado na parede dispõe de uma tampa móvel, que pode ser fechada quando o aparelho não é utilizado. Basta deslizá-la. Decorativo e discreto, é eficaz em lugares com pouco espaço.
Essa “ilha” coberta de cactos gigantes, que parece ter sido tirada de uma pintura surrealista, fica no meio de um deserto de sal de 12 mil quilômetros quadrados, no platô boliviano. Longe de tudo, ali as coisas são fabricadas com os materiais que se tem à disposição. Os banheiros públicos foram esculpidos em troncos de cactos ressecados, único material abundante na região, além do sal. Para maior conforto do usuário, os espinhos foram retirados. Situados ao longo de trilhas, os banheiros são colocados sobre buracos cavados no solo.
No espaço, os banheiros têm que levar em conta a ausência de gravidade. Um complexo sistema de eliminação de detritos foi acoplado embaixo dos assentos sanitários dos astronautas para separar as matérias líquidas das sólidas. Como as consequências de se jogar dejetos sólidos no espaço são desconhecidas, a Nasa comprime os dejetos em discos chamados “rodelas pessoais”. Eles são levados de volta à Terra para serem estudados em laboratórios. E também para evitar que asteróides de fezes caiam sobre a cabeça de algum terráqueo distraído.
Na época vitoriana, a pequena abelha pintada na porcelana era usada como alvo para os nobres que utilizavam esse mictório.O objetivo era reduzir os respingos de urina. Havia um trocadilho com a origem latina da palavra abelha: apis. Em inglês,
to take apis (pegar a abelha) é um trocadilho com
to take a piss.Situadas no 28º andar do hotel Peninsula, em Hong Kong, colunas de linhas contemporâneas valorizam uma experiência considerada banal. Uma cachoeira em miniatura, comandada por um sensor eletrônico, é ativada na parte de trás do mictório quando alguém se aproxima. Do alto de uma espécie de pódio onde fica instalada a coluna, pode-se contemplar a cidade de Kowloon. O restaurante Felix, o bar e os mictórios foram enfeitados pelo decorador Philippe Starck.
Os peregrinos que passam pela montanha Bulbul, na Turquia, podem usar o banheiro e admirar a bela vista – que dizem ter sido
contemplada pela própria Virgem Maria, entre os anos 37 e 45 d.C. É o local aonde João Batista teria levado Maria depois da crucifi cação de Jesus. Conhecido como a Casa da Virgem Maria, o lugar atrai visitantes cristãos do mundo inteiro.