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    O colhereiro, cercado por pássaros de plumagem monótona, exibe toda a exuberância de sua beleza: há casos exemplares da capacidade da natureza de levar criaturas a extremos estéticos CRÉDITO: SCOTT SURIANO

questões científicas

A beleza e a evolução

O extravagante esplendor do reino animal não pode ser explicado apenas pela seleção natural – então, como foi que ele surgiu?

Ferris Jabr | Edição 162, Março 2020

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O Sericulus aureus ardens macho é um pássaro de beleza incandescente da família dos ptilonorinquídeos. Sua plumagem transita suavemente do vermelho-escuro ao amarelo solar. Mas esse brilho radiante não é suficiente para atrair uma parceira. Quando os machos de boa parte da família dos ptilonorinquídeos estão prontos para cortejar uma fêmea, eles começam a construir a estrutura que lhes é peculiar e que se assemelha a um caramanchão: um conjunto de galhos a que dão a forma de um coruchéu, de um corredor ou de uma cabana. Decoram, então, esse caramanchão com toda sorte de objetos coloridos, como flores, frutinhas vermelhas, conchas de caracóis ou, quando próximos de uma área urbana, tampas de garrafa e talheres de plástico. Alguns desses pássaros chegam mesmo a dispor os itens de sua coleção em ordem crescente de tamanho, do menor para o maior, formando, assim, uma passarela que os torna, a eles e a seus adornos, ainda mais chamativos aos olhos das fêmeas – uma ilusão de ótica conhecida como perspectiva forçada, algo que os humanos só foram aperfeiçoar no século XV.

Mesmo essa extraordinária exibição, no entanto, não é o bastante para a fêmea. Caso ela demonstre algum interesse inicial, o macho precisa agir depressa. Ele então olha fixamente para ela, as pupilas dilatando-se e encolhendo-se ao ritmo das batidas do coração, e dá início a uma dança que poderia ser descrita como provocante e psicótica. Sacode, agita e estufa o peito. Agacha-se bem e, depois, se ergue lentamente, brandindo uma asa à frente da cabeça como a capa de um mágico. De repente, seu corpo todo se convulsiona como um despertador de corda. Se a fêmea aprovar, vai copular com ele por dois ou três segundos. E nunca mais se encontrarão.

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Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz

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