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    Eu estava apaixonado e não havia caminho de volta. Mas agora sabia sobre ela algo que precisaria levar em conta. Ela era capaz de pensar um milhão de vezes mais rápido que eu PEDRO FRANZ_2018

ficção

Düssel…

Eu te amo, mas, por favor, me diga se você é de verdade

Ian McEwan | Edição 147, Dezembro 2018

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Você pergunta se foi bom para mim. Para responder, preciso voltar atrás uns cinquenta anos – até a meia-noite de uma sexta-feira quente e o momento em que, com o máximo de delicadeza, sussurrei junto ao ouvido de minha nova amiga a indelicada pergunta. Eu estava por baixo dela, que se mostrava em toda sua glória, nua, só com uma gargantilha de ouro cravejada de lápis-lazúli. Mesmo sob a luz âmbar do abajur, sua pele reluzia, branca. Seus olhos estavam fechados enquanto ela se mexia em cima de mim, para trás e para a frente, os lábios um pouquinho entreabertos, permitindo vislumbrar seus dentes perfeitos. Sua mão direita repousava carinhosamente em meu ombro esquerdo. Dela se desprendia uma leve fragrância, não de perfume, mas de sabonete de sândalo. Aqueles sabonetes, com um antigo veleiro gravado em baixo-relevo, embrulhados em papel de seda e acomodados dentro de uma longa caixa retangular de pau-de-balsa, já tinham sido meus. Ela se encantou por eles assim que pôs os pés em meu banheiro. Por que eu deveria me importar?

Quando fizemos uma pausa, ela se inclinou para a frente e eu, aproximando os lábios do lóbulo de sua orelha, dei-lhe uma lambida; lutando contra uma lufada de prazer sensual que parecia arrancar as palavras de minha boca, eu disse: “Meu bem, sei que não devia, mas preciso te perguntar uma coisa. Não que eu tenha algum direito de saber, mas, depois dessas duas semanas maravilhosas… eu sinto… Jenny querida… me perdoe, eu te amo e sempre vou te amar… mas, por favor, me diga a verdade. Você é de verdade?”

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Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz

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