anais do sertão
Era uma vez a transposição
Projeto de levar água do São Francisco para o sertão empaca com erros do governo e descaso das empreiteiras
Paula Scarpin
Em outubro de 2009, uma equipe de assessores da Presidência foi enviada ao canteiro de obras da transposição do rio São Francisco na cidade de Floresta, interior de Pernambuco. A comitiva de Luiz Inácio Lula da Silva chegaria dali a uma semana, e os prospectores estavam em busca de boas histórias que Lula pudesse mencionar nos palanques – o que sempre gostava de fazer. A comerciante Eliane Lisboa, então com 35 anos e o rosto envelhecido pelo sol, era uma das personagens cujo enredo servia aos propósitos do ex-presidente. Pensando numa forma de lucrar com as obras, havia abandonado o roçado onde trabalhava com o marido para vender coxinhas, pastéis e refrigerantes nos canteiros. Os salgados fizeram sucesso. E logo Eliane montou um pequeno restaurante na garagem de casa para servir café, almoço e jantar aos operários. Em pouco tempo, precisou construir um anexo e contratar funcionários. “Desde criança sonhava em ter um negócio. Só precisava de uma oportunidade”, disse três anos mais tarde, deitada no sofá de casa numa tarde de setembro.
No palanque montado no canteiro em que trabalhava o Exército, Lula mencionou a história da empreendedora. Quando a comitiva presidencial se retirava, Eliane se apressou para falar com ele. “Lula me chamou para almoçar. Me sentei à mesa com ele e o governador Eduardo Campos”, contou. “Ele quis saber como eu comecei, eu disse que me inspirei nele. Ele chorou, me abraçou muito.” O clima era de confraternização.

Paula Scarpin
Foi repórter da revista por doze anos, e fundou a rádio piauí. É diretora de criação da Rádio Novelo.