cartas_piauióvski
| Edição 41, Fevereiro 2010
ARTUR TEM UM PROBLEMA
Procurar entender como funciona a cabeça de uma pessoa – o que poderia apontar para um estudo neurológico, psicanalítico ou até mesmo antropológico – é, antes de tudo, um gesto de aproximação. A matemática é bela, a filosofia também. O perfil “Artur tem um problema” (piauí_40, janeiro 2010), por estranho que pareça, soa familiar. Demonstrar como funciona a cabeça de um grande matemático se revela de uma maneira tão clara para mim, quiçá por ter convivido na infância com adultos – pais e tios – que se ocupavam, com paixão, da matemática, filosofia, teologia e biologia na Universidade Federal e na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
O salto da lagarta para a borboleta, o mergulho de batiscafo, o microscópio puramente lógico e a recomposição da figura no quadro de Georges Braque são imagens exatas, perfeitas. E belas. De fato, o delineamento da matemática parece ocorrer pelo seu quase isolamento do mundo exterior – o que não acontece com as outras ciências –, fazendo a mente se alimentar da própria mente.
Contudo, não concordo com pequenos pontos, sendo um pertinente à filosofia. Acredito que não somente a matemática, mas toda pesquisa científica rigorosa é refratária a hierarquias. Penso que a matemática não é a única ciência, por seu caráter perene, que lida com a verdade. A verdade não é determinada ou revelada por sua permanência no tempo e outras ciências também a enfrentam.
São observações mínimas frente a um texto preciso e belo. Obrigada pelo mergulho e pelo escafandro também.
ÂNGELA BEATRIZ S. M. VIANNA_PORTO ALEGRE/RS
A reportagem serviu para mostrar que é possível, apesar de muitos pensarem o contrário, que brasileiros tenham sucesso na matemática pura, não devendo nada às grandes potências científicas. O público precisa conhecer os grandes cientistas brasileiros da atualidade, principalmente numa área tão carente como essa.
ECLÉSIO F. SANTOS_ARAGUAÍNA/TO
Após ler a matéria “Artur tem um problema”, é impossível não fazer uma relação com o texto publicado na edição 37, “Em defesa do romance”. Apesar do talento indiscutível, de ser um gênio ímpar e merecedor da Medalha Fields, Artur não se interessa por literatura. Há nove anos ele não lê um livro. Vargas Llosa ficaria com pena do nosso matemático. Artur está alheio à literatura; logo, alheio à paixão e ao que nos faz dialogar e nos reconhecer. A literatura ensina e diverte.
ELTON URICI_SÃO PAULO/SP
PORTFÓLIO IMAGINÁRIO
A matéria “O progresso avança pelo asfalto” (piauí_39, dezembro 2009) defende a pavimentação sobre os rios? Que horror. É uma insensatez absurda.
JAIME PEREIRA DA SILVA_SÃO PAULO/SP
Aqui, a tal revitalização (e morte) do antigo córrego canalizado resultou no Boulevard Arrudas. Fazendo jus à sonoridade galante do nome, as centenas de pistas logo ganharam nova vida e vêm sendo usadas por movimentos de rua, ocupações espontâneas em grupos ou individuais, além de uma miscelânea de eventos que estão tirando Beagá da inércia. Simboliza a própria ressurreição da cidade.
JOSEANE JORGE_BELO HORIZONTE/MG
NOTA DA REDAÇÃO: convidamos os leitores a reler o título da seção: Portfólio Imaginário. Repetindo: Imaginário.
MEU TIPO INESQUECÍVEL
Sou nascido na Zona Norte de São Paulo. E foi andando pelo Mandaqui que, sem querer, entrei em um supermercado querendo carregar meu bilhete único. Ali, uma vendedora de assinaturas de revista me ofereceu uma boa promoção. Acabei levando a piauí. Logo no primeiro mês vejo uma matéria falando do bairro onde praticamente passei minha vida toda! Apesar de meio controversa sobre os tipos que moram aqui, pessoas como aquelas existem em todos os lugares, disse meu pai. Valeu, Vanessa Barbara!
LUCAS PASCHOLATTI CARAPIÁ_SÃO PAULO/SP
Qualquer semelhança entre o mandaquiense e os famas de Julio Cortázar é mera coincidência?
PEDRO NOVAES_GOIÂNIA/GO
NOTA DA REDAÇÃO: cronópios, famas e esperanças são encontráveis no bairro do Mandaqui, na redação da piauí e, certamente, também em Goiânia.
O PÃO E A GLÓRIA
Excelente o perfil do advogado Thomaz Bastos (piauí_39, dezembro 2009). Apesar de longo, fácil de ler. Merecia até mais espaço. Como, desse tamanho, só indo para o livro. Parta para um livro sobre os advogados da Nova República, Maklouf! Destrinche mais os fios enrolados e recuperará toda a meada explicativa. Só o “caso Lubeca” merecia uma ampla e elucidativa reconstituição. Sugiro já um título para a obra: Os Advogados da República: Nova e Velha.
LÚCIO FLÁVIO PINTO_BELÉM/PA
Esse negócio de “Vultos da República” parece coisa de assombração, o que procederia já que eles não fazem nada às claras mesmo. O dr. Márcio tem trinta ternos e essa informação já bastaria para traçar o perfil do jurista sobre o qual ninguém sabe o que realmente pensa. Desisti antes da metade. Será que perdi algo relevante?
GIBA ROCHA_PORTO ALEGRE/RS
Sapatos e pés representam simbolicamente os pontos de vista, segundo a psicologia analítica. O hábito de mandar engraxar os sapatos todos os dias sugere, portanto, que quem assim procede é patrulhado pelo próprio inconsciente, à revelia do ego.
NICOLAU GINEFRA_RIO DE JANEIRO/RJ
Com o perdão da miopia, mas ficou opaco o perfil “Pão e glória”. Forte nas tintas do contorno da construção do mais respeitado advogado criminalista em atividade, a matéria pouco ou nada esboça sobre a gestão de Márcio Thomaz Bastos à frente da pasta da Justiça. O Ministério fora ocupado por nove ministros em oito anos antes de sua chegada. Lembro bem do caos que encontramos. Apenas para pincelar alguns dados, foi feita a reforma do Poder Judiciário, com a instituição do controle externo que acabou com o nepotismo, impôs-se teto salarial para um poder da República e deu-se resposta à velha pergunta: quem julga os juízes? Bastos fundou o Sistema Penitenciário Federal que ajudou a acabar com as megarrebeliões carcerárias e estruturou a Estratégia Nacional de Combate à Lavagem de Dinheiro, que bloqueou mais de meio bilhão de reais desviados do país. Para além do achado da meditação em flor de lótus – surpresa até para os que achavam que o conheciam bem –, parece ter faltado alguma atenção às cores do trabalho danado que fez o ministro.
MARCELO BICALHO BEHAR, EX-ASSESSOR ESPECIAL DE MÁRCIO THOMAZ BASTOS NO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA_SÃO PAULO/SP
A matéria sobre Márcio Thomaz Bastos me repugnou. O lacaio se senta na antessala da covardia quando diz que defende os clientes da culpa legal, mas julgamentos morais ele deixa com Deus. A pergunta que ele deveria se fazer é como esse mesmo Deus o tratará lá em cima. Sem pudor nem vergonha, fala que cobra caro. Mas o fato de não ser hipócrita não o absolve de seus despautérios. Quando defende Edir Macedo, tem, como desculpa, o fato de a Igreja Católica ter feito o mesmo por séculos. Logo, um erro justifica sim o outro. E quando esses mamparras defendem um traficante. Cobram caro? Com qual dinheiro o traficante pagará esses serviços? Com o dinheiro da droga? Ou alguém pode ter uma leitura diferente quando isso acontece. E quando defende corruptos? Alguma diferença?
LUIZ F. OLIVEIRA_SÃO PAULO/SP
KOSOVO BANDEIRANTE
Luciana Toledo e Paulo Roberto Silva são cidadãos dispostos a ajudar de todas as formas possíveis na luta pela liberdade dos povos (“Kosovo bandeirante”, piauí_40, janeiro 2010). Eu mesmo tive grande ajuda destes e de outros amigos quando dirigia uma instituição, no ano de 2009. Quero aproveitar o momento (não como forma de complementar o assunto, mas, talvez, permitindo novas dimensões a tão importante debate) para indicar um artigo que demonstra como a União (lááá em Brasília) vem prejudicando os estados em suas economias: destributando.blogspot.com
WAGNER DA COSTA GODOI_GUARATINGUETÁ/SP
Eu era membro da comunidade Estado de São Paulo, do Orkut, conheci e participei dos debates da comunidade e conheci pessoas envolvidas nesse grupo que usam a comunidade como forma de divulgar suas ideias. Fui agredido por palavras e textos por ser um paulista contrário ao separatismo. Esse grupo é, sim, racista e preconceituoso. Eles usam um contexto universalista e pacificador, mas, se vocês os confrontarem com os seus ideais, verão que tudo é baseado no preconceito racial, social e de origem. Por favor, acredito na democracia e no jornalismo investigativo do meu país: não deem espaço para esses racistas se manifestarem!
FABIO MENEGUINI_SÃO PAULO/SP
Tem que ser muito besta para ficar com esse papo de separatismo. Esse negócio de se achar superior e injustiçado é coisa de gente mesquinha, tacanha e preconceituosa. O fato de São Paulo ter uma forte concentração de capital, tecnologia e gente faz dele um estado influente. Mesmo quando o governante do país não é paulista, São Paulo tem peso nas decisões. Por isso, se dizer o injustiçado é coisa de gente besta, cabeça oca. O fato de ter retorno menor do que contribui está certo, tem que ser assim. A função do governo federal é receber mais de quem pode mais e dar mais a quem mais precisa, visando a igualdade e diminuir as diferenças. O paulista que já pensou em se separar do país pode ir procurar outro canto. Ele não faz falta.
HUMBERTO SILVA_SÃO PAULO/ SP
LUTA DE CLASSES
O artigo “Pós-muro”, de Slavoj Žižek, (piauí 40, janeiro 2010), soa, no mínimo, cômico. O sociólogo ex-comunista (ou seria um comunista saudosista?) acusa a juventude do Leste Europeu (hoje anticomunista) de cair no mesmo erro dos jovens comunistas dos tempos macabros de Žižek. O “pensador” critica o capitalismo hodierno por não ter atendido aos sonhos de toda uma geração que sofreu as agruras de um governo totalitário comunista. No fim do texto, o amante dos barbudos e bigodudos comunistas diz que o povo apenas desejava solidariedade ou uma justiça bruta (sei lá o que isso significa!), ou viver com mais liberdade etc., e não se tornarem capitalistas liberais. Mas a análise histórica do socialismo (de ontem e de hoje) nos revela governos totalitários, crimes contra os direitos humanos, prisões políticas, pobreza generalizada, a escassez de produtos básicos para a sobrevivência. Ainda assim o sociólogo pede para darmos mais uma chance a esta ideologia, que, se empregada com uma face mais humana, seria a ideal. Žižek, acredite, o socialismo é isso mesmo!
RODINEY DA SILVA E SILVA JUNIOR_RIO DE JANEIRO/RJ
CHOQUE DE ORDEM
Não foi o secretário Rodrigo Bethlem que proibiu a venda de coco na areia da praia. A decisão foi do Comitê Gestor da Orla, coordenado pela Secretaria de Meio Ambiente. O modelo das barracas foi uma proposta apresentada por quatro associações de barraqueiros. A reportagem beira o limite da responsabilidade quando afirma, através de barraqueiros não identificados, que o secretário Rodrigo Bethlem estaria favorecendo empresas que industrializam água de coco. A municipalidade não se mete nas relações comerciais entre os barraqueiros e seus fornecedores. A Secretaria determinou o que pode e o que não pode ser vendido nas praias, ou seja: o cumprimento da lei.
ANA CARVALHO, ASSESSORA DE IMPRENSA DA SECRETARIA DE OBRAS PÚBLICAS_RIO DE JANEIRO/RJ
MISSIVAS
Garanto que tão curiosas quanto as cartas enviadas para o excelentíssimo sr. presidente (“Quem escreve para Lula”, piauí_39, dezembro 2009) são as mandadas à piauí. Estudioso dessa seção há dois anos, posso revelar que ainda não pediram casas, empregos ou hospitais. Porém, é comum pedirem pinguins em miniatura, milhares de revistas grátis ou se autonomearem para cargos imaginários (sendo o mais conhecido o esculhambador geral da piauí). Há quem escreva simplesmente para se apresentar, ou aqueles que não perdem a chance de acusar a linha editorial de petista ou tucana (varia de acordo com o último perfil de político publicado e seu respectivo partido). As cartas às vezes recebem respostas, nunca à altura de um Cláudio Soares Rocha, o diretor do Departamento de Documentação Histórica da Presidência. (Talvez porque o salário da editora não beire os 9 mil reais.) Mas vale dizer: o português é sempre impecável.
ROBERTO ROMERO_BELO HORIZONTE/MG
CONTAS
Vocês não fazem mais concursos de contos?
FERNANDO FARIAS_RECIFE/PE
NOTA DA REDAÇÃO: por enquanto, estamos nos dedicando a fazer contas.
PIAUÍCES
Levei as edições de novembro e dezembro para as minhas férias na Praia dos Ingleses, em Florianópolis. Pois bem, levei as revistas para ler à beira-mar, junto com o meu chimarrão e a cervejinha. Os banhistas que passavam me olhavam com espanto. Um se dirigiu a mim em espanhol pensando que eu era argentino (arghh) ou algo assim, pois nunca tinha visto uma revista daquele tamanho e com a capa tão colorida. Coloquei a leitura em dia. Sensacional.
CARLOS TADEU PANATO JR_PORTO ALEGRE/RS
Em um mês, os leitores os tacham de oposicionistas, subversivos e burgueses, devido a um perfil de José Serra. Na edição seguinte, a revista é tachada de governista, inescrupulosa e subserviente, por ter matérias com pessoas ligadas ao presidente e propagandas oficiais. Agora, com Marina Silva, imagino que a revista será criticada pela sua postura criacionista, evolucionista e ambientalista. Os leitores têm memória curta ou a revista é bipolar?
GUILHERME BLATT_CUIABÁ/MT
Tive uma sensação de déjà vu ao ler a matéria “Do Piauí ao Planalto” (piauí_39, dezembro 2009). O assunto – cartas da população ao presidente Lula – foi objeto de outra reportagem quase idêntica há alguns meses. Eu poderia folhear minha coleção de piauí em busca do exemplar passado, não fosse para tão maçante empreitada tão curto o domingo. Deixo aqui meu protesto contra o expediente de requentar matérias.
LUIZ ROBERTO DE ASSIS_SÃO PAULO/SP
NOTA DA REDAÇÃO: fizemos um mutirão para salvar o seu domingo. A reportagem anterior à qual você se refere foi publicada em maio de 2009 (esquina “Compreendemos a sua indignação”, piauí_32) e tratava de outro assunto, a Ouvidoria Parlamentar. O verão carioca anda tão escaldante que preferimos não requentar matérias.
Acho que o título da seção tem um erro de grafia: deve ser PiauiÓvski, e não Piauivoski, como se lê. Se não há erro de grafia, há de sonoridade dialética. Óvski é muito mais onomatopaico que voski. Junte-se com piauí e temos: PIAUIÓVSKI, muito mais saboroso.
JACKSON TÁVORA_RIBEIRÃO PRETO/SP