Assim se vestia um perfume parisiense em 1920: C’est?, da Silka, que fi cou fechada durante a II Guerra FOTO: CHRISTIE MAYER LEFKOWITH
Frascos fresquíssimos
Sorry, periferia: nem precisava, mas eles ainda têm perfume dentro
Christie Mayer Lefkowith | Edição 24, Setembro 2008
Um frasco de Myrbaha, um perfume fabricado em 1913, está à venda na internet por 1 650 euros. É uma relíquia da Bichara, grife de um libanês estabelecido em Paris no fim do século XVIII, que se apresentava à sociedade da belle époque como “perfumista sírio”. O vidro, que tem na tampa uma cabeça de faraó em cristal fosco, é uma peça numerada da Baccarat, vidraria estabelecida na Lorena ainda no reinado de Luís XV, sob os auspícios do ministro Jean-Baptiste Colbert, cujas normas industriais inauguraram, para os artigos de luxo franceses, a fama que eles desfrutam até hoje.
Decadente, a Bichara fechou as portas na década de 1950. Não restou nenhuma gota de Myrbaha dentro do vidro. O frasco é, por si só, uma peça de coleção, típica do que Christie Mayer Lefkowith, comerciante de arte decorativa, considera o apogeu do luxo engarrafado: a virada do século XX, quando o rótulo tradicional em garrafa anônima já não bastava. Desenhistas como René Lalique, pintores como Salvador Dalí e costureiros como Paul Poiret começaram, de uma hora para outra, a engendrar invólucros de perfumes cada vez mais ostentatórios. Eles ganharam plumas, fitas, madeiras raras, filetes de ouro, estojos de jóia, curvas de esculturas em art nouveau e até adereços de baquelita, o primeiro plástico a entrar na moda. Lefkowith é autora de um guia para quem quiser fuçar as obras-primas da perfumaria clássica sem usar o nariz, mas os olhos. Eis algumas das peças que ela coleciona, descreve e recomenda.
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