Antonio Candido datilografa, em 1967, na Royal que ganhou de Sérgio Buarque de Holanda: “A Remington quem usava era minha mãe. Meu pai se ajeitava também com a Hermes Baby acionada com os dois indicadores, já que nunca fizera curso de datilografia” CRÉDITO: ANA LUISA ESCOREL_1967
Histórias em torno de um livro…
... que não pretendia fazer história
Ana Luisa Escorel | Edição 210, Março 2024
AFormação da literatura brasileira, momentos decisivos 1750-1880, de Antonio Candido, meu pai, é um livro cercado por histórias de todo tipo, provavelmente dadas as condições pouco usuais em que foi concebido, escrito e a relevância que adquiriu desde o lançamento, em 1959, nos campos da história, da crítica e da análise literárias no Brasil. Em 2024 estará chegando à marca respeitável dos 65 anos, objeto de edições, reedições e reimpressões sucessivas, num país em que se lê pouco e no qual a multiplicação dos cursos superiores, nesse intervalo, não contribuiu em nada para aumentar a tiragem média do livro brasileiro.
Desde o surgimento da Formação muita coisa aconteceu, muita coisa mudou, aqui e lá fora. Algumas, atingindo profundamente seu autor, como o ceticismo que se abateu sobre as ideologias de viés socialista e o poder crescente dos sistemas econômicos voltados para o lucro a qualquer preço, acentuando desigualdades sociais e agressões violentas ao meio ambiente. No que se refere ao Brasil, sucederam-se no campo político os ataques a projetos que tentaram interferir em nossa sociedade, na intenção de torná-la menos injusta, mas que, tendo atuado por tempo breve, não chegaram a se constituir em alternativas, a dissolver os vestígios autoritários do passado colonial nem o arbítrio praticado nos 21 anos da ditadura militar, golpe fundo do qual meu pai jamais se recuperou.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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