cartas_difamação e exílio
| Edição 32, Maio 2009
DILMA
Em meio às páginas sobre Dilma Rousseff (“As armas e os varões”, piauí_31, abril 2009) está um anúncio do livro Elza, a Garota, que conta a história de uma jovem comunista pertencente ao grupo de Luís Carlos Prestes e morta a mando deste, mesmo sem a certeza de ela ter sido, ou não, uma delatora. Sabe-se que muitos militantes dos movimentos armados de combate à ditadura foram mortos pelos próprios companheiros quando quiseram deixar as organizações guerrilheiras (ou terroristas, já que suas ações também ocorreram em centros urbanos). Fala-se sempre em resgatar a memória dos que foram mortos nos porões da ditadura, mas para ser contada a verdadeira história do Brasil há que se resgatar, também, a memória dos que foram mortos por membros das próprias fileiras.
ENI MARIA MARTIN DE CARVALHO_BOTUCATU/SP
Tenho todas as piauí aqui no meu mafuá. Aprecio com moderação pois sinto um certo ar de conservadorismo, favorecendo mais nossa elite política. A revista traça um perfil da ministra Dilma, ressaltando seu lado guerrilheiro. Num país cheio de preconceitos, que não sabe nem valorizar a luta dos que enfrentaram a ditadura, tudo é feito para prejudicá-la. A mesma revista nunca traçará um perfil do governador Serra, o provável adversário de Dilma, versando sobre a sua fuga do Chile, tão logo ocorre o golpe de Estado em 1973.
HENRIQUE PERAZZI DE AQUINO_BAURU/SP
Muito interessante, e honesta, a reportagem de Luiz Maklouf. Infelizmente manchada por um machismo medieval: por que a formação sentimental da ministra e a chamada “As armas e os varões”? Será que teremos a formação sentimental do FHC ou as fêmeas de José Serra? Ou será que vida amorosa é exclusividade das mulheres, para nossa infelicidade? Escorregões medievais numa revista que se pretende contemporânea?
CARLOS ALBERTO AMARAL KFOURI_PORTO ALEGRE/RS
A reconstrução do início da vida política de Dilma Rousseff foi uma benesse da edição de abril. O artigo poderia ter o dobro do tamanho. Quanto aos ovos do czar, não me emocionaram muito, talvez pelo pouco apreço que devoto aos Romanov. Eu acharia mais interessante ler uma reportagem sobre os curiosos abusos e privilégios da nomenklatura, esta aristocracia ilustrada que substituiu os czares pelo bem da revolução.
Me permito sugerir algumas pautas: me intriga, por exemplo, o fato de o ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, não ter aparecido ainda em letras grandes na revista. Outra figura singular é o dirigente norte-coreano e seu foguete da discórdia, que vem sendo festejado com euforia pelos populares sem rosto do seu país. Me encantam estas personalidades polêmicas.
DIOGO CARVALHO_BRASÍLIA/DF
NOTA DA REDAÇÃO: Ficamos devendo o Mugabe, mas não o Grande Líder. Escreva “Kim Jong Il” no campo de busca do nosso site e deleite-se.
DIFAMAÇÃO
O Guaíba, uma massa de água que margeia Porto Alegre? Um acidente geográfico peculiar. Classificam-no ora como rio, ora como lago, ora como estuário. Mas chamá-lo de lagoa (piauí_31, abril 2009, p. 29)? Um insulto!
AUGUSTO RITTER STOFFEL_PORTO ALEGRE/RS
NOTA DA REDAÇÃO: mais do que um insulto, um ultraje, um achincalhe. Já fizemos a devida correção na versão eletrônica da revista e, no momento, a redação cumpre pena alternativa de aulas de geografia para iniciantes.
KELVIN
Kelvin é muito mais que mera questão de nomenclatura (“Kelvin, esse desconhecido”, piauí_29, fevereiro 2009). Quem diria que um inglês, apaixonado pelas propriedades do calor, 100 anos após seu desaparecimento da corte britânica, reapareceria no interior de singelos orelhões cariocas? Kelvin, decididamente, jamais pretendeu cair na boca do povo; sempre foi um lord e, desde que se mudou para as terras do pau-brasil, pôde vagabundear sob inúmeros apelidos alusivos à sua sabedoria. Kelvin, o apaixonado pelo calor (cuja vida em terras britânicas fora dedicada à descoberta das possíveis temperaturas absolutas máximas e mínimas a serem atingidas), sempre foi conhecido por nomes abrasileirados, nestas terras tropicais. “Kelvin”, mais do que nomenclatura, é uma perspectiva de mundo, uma práxis.
Lançado à rua, nos orelhões, nos postes, nos folhetos distribuídos de mão em mão, ouvindo MC Kelvin cantar “A amante eu tô comendo”, Kelvin cerra fileiras pela boca contra os cabeças-duras. Antropofagia. Contra os tucanos, contra os bicos. Pela boca, pelos beiços. Contra os fernandos (Gabeira, Sarney ou Cardoso), contra os mornos. Pelo Kelvin, pelo calor. Nas portas do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal, dos moinhos da mornidão, Kelvin deixa uma mensagem em língua que os bicudos entendem: “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; oxalá foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca.” (Apocalipse 3,15-16)
HERMES FONSECA, MARECHÁ PANAPANÁ_OSASCO/SP
SENADOR GARANHÃO
Maravilhosa a nota sobre o charme do senador garanhão! Nunca imaginei que Eduardo Suplicy pudesse levantar tantos suspiros assim na mulherada brasileira (“Suplicy: sensual”, piauí_30, março 2009). É por essas e outras que Esquina continua sendo uma das editorias mais hilárias do mundo.
VÍTOR LUIZ DA COSTA_CURITIBA/PR
QUANTO?
Quanto vocês recebem para atacar o governo e blindar a oposição e, sobretudo, a imprensa golpista que favorece o senhor Daniel Dantas?
FABIO MOURA DUARTE_ SÃO PAULO, SP
NOTA DA REDAÇÃO: somos caros. Além de auxílio-moradia, verba indenizatória, cota para viagens e acesso irrestrito à casa do BBB, cobramos um mimo em espécie. Este varia, por depender da cotação diária do dólar.
ALLAN SIEBER
Apesar do tom irônico como foi escrita a história em quadrinhos “Eduardo tem que salvar a humanidade” (piauí_30, março 2009), parabenizo o escritor pela forma minuciosa com que apresentou tal relato. Detalhes que só um “bom” adventista ou um bom pesquisador conhece. Infelizmente, talvez com a intenção de tornar seu texto mais engraçado, ele retratou um personagem que “batia com a cabeça na parede”. Posso garantir-lhes que uma parcela significativa dos adventistas são pessoas equilibradas e bem resolvidas na vida. Na verdade, senti muita pena do Eduardo e das pessoas que o cercam (fictícias ou não). Não as achei engraçadas. Tenho certeza no que creio e sei que Deus utilizará esta história de uma forma especial, alcançando corações sinceros que buscam a paz interior.
JANINE BERGOLD_FLORIANÓPOLIS/SC
Os quadrinhos de Allan Sieber deturpam o que é ser adventista do Sétimo Dia e são preconceituosos. Dizer que a maioria dos adventistas se baseia nos livros do Deuteronômio e Levítico (ambos escrevem-se no singular) é uma inverdade. Temos toda a Bíblia Sagrada como fundamento. Se o massacre dos huguenotes (Noite de São Bartolomeu), ocorrido na França do século XVI, tivesse sido perpetrado por adventistas, o que o autor diria? E se fosse adventista o bispo católico que negou a existência do holocausto na Segunda Guerra Mundial, e que foi recentemente reabilitado por Bento XVI? Qual tratamento o autor daria às declarações do arcebispo de Olinda e Recife, dom Dedé, sobre o estupro da menina de 9 anos, fosse ele um pastor adventista?
JOSÉ DE SOUZA FILGUEIRA NETO_NATAL/RN
NOTA DA REDAÇÃO: A história em quadrinhos de Allan Sieber retrata apenas, com verve, uma experiência pessoal.
MÁRIO & PIO
Quase não tenho familiaridade com o assunto, pois de Mário de Andrade só li Macunaíma. Mas Gilda de Mello e Souza (“O arcaico e o moderno”, piauí_31, abril 2009) achou um jeito de escrever que me fez entender tudinho. O cheiro de mato exalava da revista.
JOÃO MELLO_SÃO PAULO/SP
CÂNTICO DOS CÂNTICOS
Sobre o artigo “Lira do júbilo carnal”, de Walnice Nogueira Galvão (piauí_30, março 2009) lembro, apenas para registro, que em 1923 Cecília Meireles publicou o livro Poema dos Poemas, numa clara alusão ao Cântico dos Cânticos.
ANA MARIA DOMINGUES DE OLIVEIRA_ASSIS/SP
O CASO SEAN
Assunto tão delicado (“A diplomacia entra em campo”, piauí_30, março 2009) não deve ser decidido por pressões e ingerências de um ou outro representante do Congresso dos EUA, certamente movido por interesses eleitorais. Menos ainda por gestões pouco sutis de algum agente diplomático que deveria saber que não pode fazer pressão sobre membros do Judiciário de nosso país. Imagine-se se fosse o inverso: um funcionário de algum consulado brasileiro fazendo lobby em um tribunal norte-americano. Certamente seria convidado a se retirar tout court.
Acho que o presidente Lula exprime o que me parece ser o mais sensato: o assunto está em mãos do Judiciário brasileiro, e cabe a ele decidir.
MARCO ANTONIO D’UTRA VAZ_SÃO PAULO/SP
Como pode uma revista tão conceituada por suas matérias e ensaios publicar uma matéria assinada por uma jornalista que não sabemos quem é (ou será que sabemos?) chamada Dorrit Harazim (de onde veio ela??). Questiono a revista por traduzir reportagem de uma pessoa estrangeira, possivelmente norte-americana (não sabemos, a piauí não informou a origem da matéria) completamente tendenciosa a favor de David Goldman.
SEMIRAMIS ZARAMELLA_FALTA INFORMAR A CIDADE
NOTA DA REDAÇÃO: Dorrit Harazim é piauiense.
REFORMA ORTOGRÁFICA
Talvez vocês já tenham explicado em alguma edição anterior, mas como não as li, pergunto: por que vocês deixaram de utilizar o trema nos textos da piauí, mas estão ignorando as outras novas regras de acentuação?
MARILIN NOVAK_SÃO PAULO/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Despedidas são dolorosas, Marilin, e somos sentimentais. Pranteamos primeiro a perda do trema (piauí_27, dezembro 2008) e ainda estamos enlutados. Os próximos passos serão dados ao longo do período oficial de adaptação à reforma, que termina em 2012.
EXÍLIO
Moro no interior da floresta amazônica, distante 210 quilômetros de Belém, mas leio a piauí desde o primeiro número. Por isso, minha surpresa com a edição 31. As matérias são excepcionais, mas a pouca quantidade de páginas – 58 ao todo – foram uma decepção. Não dá para esperar um mês exilado aqui na selva e receber apenas a introdução de um belo texto. Por favor, escrevam mais… Saudações florestais e intelectuais.
JOÃO MELO_TAILÂNDIA/PA