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    CRÉDITO: BRUNO PIMENTEL_2021

ficção

Memória corrompida

Em Neonópolis, as pessoas viviam dispostas a esquecer – e se acostumaram com isso

Waldson Souza | Edição 184, Janeiro 2022

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Do bairro onde morava, eu sentia a brisa do mar e via palmeiras enfileiradas se perderem no horizonte. Era assim por toda a extensão do litoral de Neonópolis, a repetição sustentando a beleza e criando familiaridade. Eu nasci e cresci ali, por isso conhecia cada canto da cidade. Em todos aqueles anos, só vivi em duas casas: na dos meus pais e depois na minha, com a família que comecei a construir. O segundo lugar, mais perto da praia, foi palco da chegada de problemas em sequência, como ondas em maré alta. Tudo mudou quando três se tornaram dois. E eu precisei aprender a me virar sozinho.

Todas as manhãs, eu deixava meu filho na escola antes de ir para o trabalho. Ligava o rádio em uma estação de pop latino – um ritual diário para começar bem o dia. Em Neonópolis, ou você ouve pop ou se acostuma a ouvir pop, porque é o que mais toca em todos os lugares. Eu seguia pela avenida principal, com o mar sempre do lado direito, e continuava por dentro de alguns bairros até chegar à rua dedicada ao comércio de aparelhos eletrônicos e informática. Minha loja ficava ali, pequena, despercebida, a não ser para os que apareciam procurando meus serviços. O ramo de remoção e recuperação de memórias em disco estava cada vez menor, agora que as pessoas podiam fazer isso usando seus próprios celulares e guardar o que quisessem na nuvem.

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