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Novas etiquetas para acervos de museus

    CRÉDITO: FAW CARVALHO_202

poesia

Novas etiquetas para acervos de museus

Edimilson de Almeida Pereira | Edição 199, Abril 2023

A+ A- A

CÂMERA SUPER-8

SEQUÊNCIA 1

nada se vê além de objetos

humilhados

depois de sua passagem o ciclone

ameaça

desde a fotografia

 

SEQUÊNCIA 2

o peso de um fruto sobre a cabeça

tirou a ciência

do sono

 

no sonho as iguanas dissecam

a metafísica

 

SEQUÊNCIA 3

a história não registra

os micropontos de luz: sem eles,

no entanto,

como ver o substantivo?

 

CORTE E MONTAGEM

o essencial dura uma cãibra.

 

 

HISTÓRIA DO RUÍDO

um homem conserta o portão

– ao abrir

a caixa de ferramentas

se desconcerta:

onde a chave?

a vida que se queria em forma?

 

é tarde, pelo andar da carruagem,

não se termina o serviço.

 

um homem a ferros não rende

o que um pássaro

faz pousado.

 

se abrisse a porta do arco-íris

quando

dorme        e não produz

beija

e desfaz as horas

detonaria o dique que o comporta.

 

 

LONG-PLAY

Double Fantasy. John Lennon & Yoko Ono.

Geffen Records, 1980

 

LADO A

o beijo fixado sob holofotes

era pose             não era este

em desejo

magnetizado

 

o casal à mercê do foco sobre

seus corpos

uma foto para mudar a moda

: talvez

o mundo sob o céu granulado

 

LADO B

por algum motivo – J. L. & Y.O. –

o disco e os livros ficaram lado

a lado

num sebo

: seria inverno não fosse ainda

o sol no peito

a mão acaricia o canto

em tempo outra vez de risco

 

era sábado quando no estúdio

se compôs a foto?

 

era um sopro – quem saberia?

 

 

DIANTE DA MÁSCARA DE UM DEUS SEM DEVOTOS

notas

os seres fantásticos

ainda são projeções da repulsa

e sedução

pelo desconhecido?

 

sentimos medo de ácaros gigantes

mas

a imagem

da mulher-borboleta vende de tudo

no metrô.

 

míopes, apostamos

na sorte para a sobrevida da espécie.

 

análise

no confronto entre a TECHNÉ

(que domestica o estranho

em forma de pixels)

 

e a NATURA

(onde exilaram os seres

infinitos)

 

geramos álibis para todos os crimes.

 

 

TEORIA-REALIDADE

no abraço do pai não te abraçam

corpos antigos.

como dizer isso

na celebração do clã?

 

o que era rijo nem é nuvem.

 

os pares estão aí para o que fazes?

não é desonesto

cavarem sob os próprios pés.

 

é o hábito

(não é) TRAIÇÃO.

 

ninguém sabe o que leem

os dedos

na loja de fotocópias

nem o que dança

o limpador de telhas.

 

o que dançavas, quando perdias

os ossos

na tempestade?

 

a tempestade que arrancou o teto

e libertou a paisagem.