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    ILUSTRAÇÃO: NADIA KHUZINA_2015

despedida

O cabrito, a realpolitik e a crise

A adega onde se forjou a era Lula fecha as portas

João Almeida Moreira | Edição 107, Agosto 2015

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Antonio teve duas ideias. A segunda foi convencer Leone, o vizinho, a abrir seu restaurante no dia da folga semanal e reservá-lo só para ele. Leone aceitou: afinal, Antonio era uma autoridade na cidade e ia receber o seu chefe nacional, figura importante, célebre, merecedora de particulares e redobradas atenções. Como o chefe de Antonio sempre apreciou bacalhau, o restaurante português de Leone era, os dois concordaram, o lugar ideal para a reunião.

Não bastava, no entanto, reservar o espaço. Antonio também pediu a Leone que dispensasse todos os garçons, que atendesse pessoalmente os comensais, que desligasse as linhas telefônicas, reservasse uma mesa para os seguranças e mantivesse a porta fechada, tão fechada como se aquela segunda-feira de maio de 2002 fosse, para quem passasse pela rua, um dia normal de folga do restaurante. “Tudo bem”, respondeu o proprietário, consciente da gravidade do momento.

Antonio, o chefe dele e outros quadros destacados da organização precisavam de privacidade absoluta porque aquela não era uma reunião qualquer: durante o almoço, redigiriam e aprovariam uma carta que podia mudar os seus destinos para sempre. E os destinos do Brasil. Essa carta foi a primeira ideia de Antonio. Antonio Palocci.

 

Recém-licenciado do cargo de prefeito de Ribeirão Preto, Palocci agora se dedicava em tempo integral à candidatura ao Palácio do Planalto do chefe, Luiz Inácio Lula da Silva, e não queria falhar. Não podia falhar: porque o chefe já falhara nas três tentativas anteriores e porque as circunstâncias – baixa popularidade do rival Fernando Henrique Cardoso e, por extensão, do PSDB – conspiravam a favor.

Leone, de sobrenome Rufino, era um homem acostumado a servir de anfitrião aos intelectuais e endinheirados de Ribeirão Preto, como os Palocci. E sua mulher, a Anabela, perdera a conta dos elogios ao seu tempero, recebidos ora de clientes importantes, ora da crítica especializada – a Adega Leone foi considerada um dos quatro melhores restaurantes portugueses do Brasil anos a fio, e ganhou dezessete estrelas do prestigiado Guia Quatro Rodas.

Mas receber gente da relevância de Lula e da cúpula nacional do PT, assim, todos de uma vez? Nunca antes na história daquele restaurante.

 

 

Leone Rufino é um homem de estatura mediana, magro, calvo, mas com cabelos brancos nas têmporas. Nascido em Lisboa e criado no Porto, cujo sotaque cantado se revela quando recita Camões à mesa dos clientes mais chegados, Rufino aterrissou no Rio de Janeiro em 1965 com a mulher e os dois filhos para assumir o cargo de gerente de marketing da Coca-Cola. A multinacional havia fechado a sucursal onde ele trabalhava, em Angola, durante a guerra colonial entre o país africano e o Exército português, e o Brasil virou a sua nova casa. Do Rio, passou, cinco anos mais tarde, para a filial de Ribeirão Preto, onde, em 1994, encerraria a carreira na Coca-Cola e iniciaria a aventura na Adega Leone.

A Adega, um típico restaurante português, com azulejos por todo lado, trilha sonora permanente de Amália Rodrigues e pão e vinho sobre a mesa, foi uma das primeiras casas comerciais no Boulevard, bairro posteriormente transformado em região nobre do comércio de Ribeirão Preto. Vivia cheio antes daquele almoço de Lula e companhia. Continuaria cheio durante o tempo em que Lula e companhia estiveram no poder.

Naquela tarde de segunda-feira, a poucos meses do penoso fim do segundo mandato de FHC, meia dúzia de políticos ilustres comeram e conversaram animadamente a um cantinho do salão. Rufino tentou citá-los de cabeça: “Ora, estavam o Lula, o Palocci, o Dirceu, o Genoino, o Mantega, o Mercadante, o Duda Mendonça…”

 

A determinada altura, recorda Rufino, Duda se levantou e leu, em alto e bom som, uma versão da Carta ao Povo Brasileiro perante os companheiros. E perante Rufino. No documento, o PT trocava o ideário de esquerda em matéria econômica por uma espécie de radicalismo de centro. Rendia-se à realpolitik do Plano Real e piscava o olho para o PIB nacional. De charuto na mão, estômago afagado e sorriso no rosto, Lula, que por causa dessa carta se tornaria hóspede do Palácio da Alvorada por oito anos, aprovou.

“Pediram então mais vinho”, disse Rufino. “Beberam Cartuxa tinto, no total umas dez ou doze garrafas, e comeram um cabrito à Fornos de Algodres e uma tibornada de bacalhau com batatas a murro. E o Lula repetiu as batatas a murro”, completou Anabela, orgulhosa de sua memória e de suas batatas.

Depois desse almoço e dessa carta, todos sabemos o que aconteceu ao grupo de comensais e signatários. Lula saiu da Adega Leone quase direto para o Planalto, e do Planalto para a liderança espiritual do PT. Pelo meio, continuou a trocar piscadelas de olho com o PIB nacional. Palocci, ziguezagueando entre governo e iniciativa privada, enriqueceu. Dirceu e Genoino, de presos políticos, passaram a políticos presos, com um Mensalão pelo meio. Mensalão do qual Duda Mendonça escapou ileso. Mantega foi eterno na Fazenda enquanto o amor de Dilma durou. E Mercadante está eterno ao lado da presidente enquanto o amor durar.

Mas e o anfitrião e seu restaurante? O que é feito deles? Leone Rufino e sua adega resistiram enquanto puderam. Acreditaram que a marolinha que foi derrubando, uma a uma, cada casa comercial no Boulevard nunca chegasse a tsunami. Engano: a crise levou com ela a premiada instituição ribeirão-pretana fundada 21 anos atrás. “Não tem jeito, em época de crise, são os restaurantes, os bares ou os cinemas as primeiras coisas que as pessoas cortam: tive que fechar a Adega Leone no dia 1º de junho de 2015”, revelou o português, pesaroso e resignado, hoje com 77 anos, ao lado da mulher e Anabela, de 67.

Custos fixos elevados, impostos cada vez mais pesados, aluguel alto, movimento fraco, o cansaço do casal para enfrentar nova recessão – ou, em resumo, a situação econômica do país – foram os motivos que o levaram a fechar as portas, explicou Rufino. Assim a Adega, berço da tomada do poder pelo PT, chegou ao fim por culpa de uma crise econômica exatos treze anos depois de ali redigirem a Carta ao Povo Brasileiro, e ainda durante a gestão do mesmo partido. Leone Rufino, com o sorriso de quem gosta de iniciar polêmicas, faz uma previsão: “Depois de nós, o próximo a fechar as portas é o governo do PT.”

João Almeida Moreira

João Almeida Moreira, jornalista português, é correspondente no Brasil dos jornais Diário de Notícias e A Bola, entre outros.

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