Michelle com o pai, o general da Força Aérea Alberto Bachelet, que morreu na prisão durante a ditadura de Pinochet. "Meus pais não eram de muito agarramento, mas tínhamos muita vida em comum. Muito passeio, muita natureza, muita barraca", contou a ex e futura presidente FOTO: GILLES BASSIGNAC_GETTY IMAGES
O caminho de Santiago
Os traumas e a trajetória de Michelle Bachelet
Patricio Fernández | Edição 89, Fevereiro 2014
“Sabe, o que eu mais gosto é de dançar. Fico relaxada e me esqueço de tudo”, disse a presidente Michelle Bachelet, enquanto se mexia discretamente, sem grandes saracoteios, acompanhando o ritmo de uma orquestra de salsa. Pablo Dittborn, então gerente da editora Random House Mondadori, tinha conseguido que me convidassem para uma recepção em homenagem a ela, em Havana, onde em fevereiro de 2009, último ano de seu primeiro governo, Bachelet fazia uma visita oficial. A presidente estava de pé, cumprimentando os convidados da minha mesa, quando o conjunto começou a tocar; talvez porque eu fosse o mais moço do grupo (e, portanto, o menos comprometedor), ela me tirou para dançar. Foram apenas duas músicas.
Antes disso tínhamos nos visto só uma vez, quando ela começava a despontar como possível candidata presidencial. Na ocasião, ela me surpreendeu com perguntas íntimas sobre minha mulher e meus filhos, e eu, esquecendo-me de que era ela o motivo de minhas investigações, respondi uma por uma. Agora, enquanto rodopiávamos, ela voltou a me interrogar – com tamanha riqueza de detalhes que eu diria que se lembrava dos nomes de meus filhos, mas suponho que seria exagero meu. Acrescentei que acabara de me separar, logo antes da viagem. Durante nossa breve coreografia ela disse uma ou duas frases muito sentidas a respeito, e o resto do tempo foi como se se limitasse a oferecer sua companhia.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
ASSINE