O colapso da Venezuela na visão dos leitores
| Edição 139, Abril 2018
O COLAPSO
Acabo de ler o diário de Paula Ramón (“Notícias de Maracaibo”, piauí_138, março) e, com lágrimas nos olhos, tudo o que quero é abraçá-la, bem como a sua mãe, a Pedro, a Pablo e tantos milhares de outros venezuelanos que “sangram pela fronteira”. O relato é estarrecedor não só pelo conteúdo – que é suficiente para deixar qualquer leitor comovido –, mas sobretudo por sua absoluta sinceridade. Admiro a autora duplamente: pela coragem em enfrentar as constantes e permanentes adversidades do cotidiano venezuelano (que parecem se impor ao cotidiano dos venezuelanos no exterior) e pela coragem em se expor em toda a sua fragilidade (emocional, familiar, financeira etc.).
CAROLINA COOPER_RIO DE JANEIRO/RJ
Muito além do imaginável o sofrimento do povo venezuelano sob as botas do regime “bolivariano” de Nicolás Maduro. É bem para onde o PT estava levando o Brasil em seus anos de desgoverno.
ENRIQUE T. C. ALVITE_UBATUBA/SP
Na edição de maio de 2017, ao responderem uma missiva minha sobre uma reportagem que dava conta dos problemas que a Hungria vinha sofrendo (“A fronteira”, piauí_127, abril 2017), vocês informaram que estavam juntando bolívares para darem notícias venezuelanas.
Pois bem, assumindo tratar-se de uma promessa, considero-a parcialmente cumprida. Descontando o fato de que não deve ser fácil enviar um correspondente àquele país, justamente por causa da dramática situação muito bem descrita por Paula Ramón, não pude deixar de notar que, à parte o nó na garganta que dá ver o sofrimento oriundo de uma separação familiar causada pelo esfacelamento, inclusive, da própria noção de civilização, faltou um relato mais detalhado do porquê se chegou àquele estado de coisas, à moda do que a revista fez com o regime de Viktor Orbán. Em outras palavras, senti o drama, mas não o porquê do drama.
Enfim, penso que seria elucidativo se a revista tivesse repetido o procedimento observado com relação à Hungria, dado que vivemos tempos especialmente confusos, nos quais a democracia precisa ser salvaguardada.
JOSÉ RENATO DE MORAIS MIARELLI_CAMPOS GERAIS/MG
A POLÍTICA DOS GENERAIS
Contrastando com a objetividade e conteúdo da matéria “Mal-estar na caserna” (piauí_138, março), lamenta-se a repetição do chavão mais do que gasto (e há no mínimo quatro décadas desatualizado) da “[…] ilha da fantasia que é o Plano Piloto […]”. Essa infeliz e inverídica alusão deriva possivelmente de o escriba habitar em outras realidades de cidade que não uma das mais de vinte urbes que formatam o Distrito Federal, e provavelmente desconhece nosso dia a dia em Brasília, que, lembro, não se restringe à Esplanada dos Ministérios e à Praça dos Três Poderes.
A matéria ficou comprometida por essa imagem falsa e preconceituosa que nos ofende, brasilienses e candangos moradores e/ou frequentadores do Plano Piloto para trabalhar, estudar, transitar, enfim, viver nossa realidade que em nada é fantasiosa.
Os pesadelos que afligem a todos(as) nós brasileiros(as) são de responsabilidade dos ocupantes eleitos e nomeados que todo o Brasil despeja aqui, como seria em qualquer outra cidade sede do governo da União e, em verdade, em muito se parece com muitas das capitais estaduais e sedes municipais, com seus respectivos parlamentos.
ROBERTO RODRIGUEZ SUAREZ_BRASÍLIA/DF
Todo mês, após a leitura de alguma reportagem de fôlego da piauí, me decido a escrever para a redação, mas a vontade se perde pelo caminho, na montanha de afazeres. Dessa vez, tão logo terminei de ler a reportagem de Fabio Victor, escrevi minha impressão sobre ela. Bastidores muito bem contados que nos revelam comportamentos surpreendentes dos militares chamados a intervir na segurança pública do caótico Rio de Janeiro. O ranço do autoritarismo pós-1964 preocupa – e continua vivo nas mentes e corações de muitos. Mas a reportagem descreve uma liderança militar, apesar das divisões internas, comprometida com a democracia. Tomara que continue assim.
HELTON FRAGA_VOLTA REDONDA/RJ
ATRÁS DO JABUTI
Sobre o artigo de Michel Laub (“Notas sobre o fígado”, piauí_138, março), fundamental para quem realmente gosta de ler, destaco o trecho envolvendo Chico Buarque e Edney Silvestre no Jabuti 2010 e toda a polêmica criada a partir daí.
Não é preciso ser expert para sentir a grande diferença de qualidade do texto do compositor/escritor e daquele jornalista. Chamar de “caipirice” a unanimidade quanto a Chico! Para o (que se acha) escritor Edney, o prêmio lhe conseguiu duas coisas: com a grana re-formou seu apartamento, conforme entrevista concedida à época (não me lembro para qual publicação), e agora – glória das glórias – seu trabalho virou minissérie da Rede Globo, da qual é funcionário! Dizer mais o quê?
JOSÉ LUIZ FÉLIX DA CUNHA_MONTES CLAROS/MG
O relato de Michel Laub como jurado dos concursos literários dos quais participou, quando recebia uma mixaria para selecionar mais de uma centena de autores, faz lembrar uma crônica de Graciliano Ramos, “Conversas de bastidores”, do livro Linhas Tortas.
Nela, o alagoano conta suas desventuras como jurado do concurso de contos Humberto de Campos, patrocinado em 1938 pela Livraria José Olympio. Da comissão participavam também os escritores Marques Rebelo, Peregrino Júnior, Prudente de Morais Neto e Dias da Costa. Eram mais de cinquenta originais, de leitura aborrecida e burocrática. No entanto, entre os concorrentes havia um volume de 500 páginas, com uma dúzia de contos enormes, assinados com o pseudônimo Viator. Graciliano ficou encantado com a qualidade do trabalho, embora houvesse alguns momentos decepcionantes em meio a tantos sublimes. Por esse motivo, ele escolheu outro concorrente para a premiação. Foi uma disputa acirrada, com a divisão dos jurados, vencendo Maria Perigosa, do pernambucano Luís Jardim.
Para a tristeza de Graciliano, Viator desapareceu sem deixar pista. Eis que em 1946 é lançado Sagarana, de João Guimarães Rosa. As 500 páginas iniciais foram depuradas, algumas histórias eliminadas e ele acabou sendo o livro que revolucionou aquele momento literário. O mais intrigante nessa crônica é a visão premonitória de Graciliano, como se lê no último parágrafo da crônica, arrepiante: “Certamente ele fará um romance, romance que não lerei, pois, se for começado agora, estará pronto em 1956, quando os meus ossos começarem a esfarelar-se.” Em 1956 saiu Grande Sertão: Veredas. Graciliano Ramos morreu em 1953 de câncer, cumprindo totalmente sua profecia.
DIRCEU LUIZ NATAL_RIO DE JANEIRO/RJ
CAPA_138
Poucas vezes uma capa de revista me tocou tanto quanto a da última piauí. Tanto que quase penso em emoldurá-la. Os motivos são vários, mas sobretudo o fato de ter nascido no Chile, vivido e experimentado a ditadura pinochetista e ter compreendido claramente a postura militar reinante à época. Porém, pesquisei sobre a foto que deu origem à vossa capa e não encontrei paralelo entre as figuras chilenas retratadas (tirando o Pinochet, é claro) e as presentes na ilustração brasileira. Na verdade, nesta história torta que experimentamos nem é possível pensar em algo reto, quanto mais paralelo. Seja como for, não sei se todos fizeram a conexão com a foto chilena (por que não publicam a original?). Independentemente disso, acho que vou emoldurar a capa, sim.
RODRIGO CONTRERA_TABOÃO DA SERRA/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Rodrigo, publicamos a foto original na página 4 da edição anterior. Espia lá.
Bravo! Queimo minha língua um semestre depois de ter pedido que Nadia Khuzina diminuísse suas contribuições na seção de capas. Simplesmente sensacional.
Quanto às reportagens da piauí_138 (março), “Notícias de Maracaibo” foi de uma sinceridade desconcertante. Parabéns à autora. As minhas favoritas, no entanto, teriam sido “Santo Agostinho, inventor do sexo” e “Uma suruba no inferno”. A justaposição do divertidíssimo texto de Reinaldo Moraes ao de Stephen Greenblatt deu outra qualidade ao conjunto da revista.
Diante de tão boa edição, não pude deixar de recomendar a uma amiga (Nicole) que comprasse e lesse a revista. A opinião dela, infelizmente, não foi tão lisonjeira.
GUILHERME NUNHO_SÃO PAULO/SP
DIRCEU LUIZ NATAL
Quem precisa de louco de palestra quando se tem Dirceu Luiz Natal, o louco das cartas (ou louco dos resumos)? O segundo lugar do campeonato de cartas vai para o Adilson Roberto Gonçalves, de Campinas.
JÉSSICA BARBOSA DE ARAÚJO_SÃO PAULO/SP
NOTA EM UNÍSSONO DA REDAÇÃO: Dirceu Natal é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo.
Vamos dar um rosto e uma história a este nome! Sugiro uma entrevista (com foto) do comentarista mais assíduo da seção. Bem, serve uma esquina, com caricatura.
NATHALIA FERREIRA MASSON_SÃO PAULO/SP
PIAUÍ
Leitor assíduo da piauí e contumaz comprador das edições nas bancas, não posso deixar de comentar como piauí é imitada. O jornal paulistano ahlof ed s oluap* e seu caderno cultural domingueiro, desde que surgiu na esteira da piauí, têm a proposta de criar textos maiores, apetitosos ao leitor. Agora surgiu a nova acopÉ* da Editora Globo na mesma linha. Claro que não foi a piauí quem inventou a estratégia de seduzir leitores com caudalosos textos. Mas é possível perceber a influência dessa espetacular revista nessas outras citadas e mais algumas. Alvíssaras. (*Nomes invertidos.)
GERALDO MAIA_BELO HORIZONTE/MG
CARATÊ NELES!
Em referência ao artigo “O dia em que aprendi a lutar caratê” (piauí_135, dezembro 2017), escrito pela jornalista e colaboradora Vanessa Barbara, no qual a autora tece de maneira infeliz e equivo-cada críticas ao Movimento Bandeirante (MB), demonstrando falta de conhecimento dos princípios, valores, método e histórico da instituição, vimos por meio desta requerer o exercício de nosso direito de resposta.
Em um esforço malsucedido de ensaiar algo sobre a questão de gênero, diminuindo e denegrindo o papel pioneiro desta instituição para a causa do empoderamento feminino no Brasil, a autora e seu veículo de comunicação demonstram total desconhecimento sobre a condição feminina no país e prestam um desserviço à sociedade brasileira. Apenas para ciência da revista e de seus leitores, o MB foi fundado em 1919, na cidade do Rio de Janeiro, pela jovem Jerônyma Mesquita aos 29 anos e destinava-se à formação de meninas e moças. Ao aceitar o desafio, Jerônyma deu todo seu apoio à organização desse movimento pioneiro numa época em que poucas senhoras ousavam sair do âmbito de suas atribuições domésticas.
Sua fundadora foi uma mulher à frente de seu tempo e uma ativista pelo empoderamento da condição feminina no país, sendo responsável por inúmeros feitos que contribuíram para a emancipação dos direitos da mulher. Foi uma das fundadoras da Pró-Matre; da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), em 1922; pioneira do voto feminino no movimento sufragista de 1932, e fundou o Conselho Nacional das Mulheres em 1947. Sua luta possibilitou que muitos avanços sociais e políticos fossem conquistados pelas mulheres no Brasil e inspirou a lei que institui o Dia Nacional da Mulher, comemorado todo dia 30 de abril, data de seu nascimento.
Não foi a primeira vez que a jornalista se aproveita do ambiente de trabalho para difamar a imagem da instituição, conforme pode ser verificado no artigo da edição nº 30, de março de 2009, sobre o mundo encantado do terceiro setor, intitulado “Sem xixi na galocha”.
Difamar um movimento mundial e centenário por seus associados serem corteses, gentis e cuidadosos com o próximo é inaceitável. Ao longo de sua história de mobilização social, o MB cresceu ocupando seu lugar como uma entidade que tem se preocupado em investir na educação, contribuindo para a formação de crianças, adolescentes e jovens mais conscientes de seu papel na sociedade e na melhoria da comunidade em que vivem. Através de uma metodologia própria, a ação do bandeirantismo é desenvolvida em conjunto com a escola e a família, ajudando a juventude a conhecer a sociedade em que vive, a pensar criticamente e a agir de maneira responsável.
Respeitamos o jornalismo da piauí, mas, da maneira como o MB foi exposto, é notório que a revista não conhece o movimento apropriadamente para autorizar a publicação desse tipo de artigo, escrito apenas com base na experiência pessoal, ferindo normas e procedimentos éticos que regem a atividade jornalística e a conduta desejável esperada pelo profissional.
O artigo referido demonstra ainda total ignorância sobre a tradição/modernidade do MB, seus projetos, atuações, posições no mundo e, principalmente, sobre a diferença que faz na vida dos mais de 10 milhões de crianças e jovens no mundo inteiro. Com a construção de seu texto, a jornalista desmerece a história e o legado da Associação Mundial de Bandeirantes (WAGGGS) – a maior organização feminina mundial, presente em 150 países, reconhecida pela ONU como parceira estratégica para garantir que a voz das meninas seja ouvida no mundo –, denegrindo com o principal argumento, a “especialidade de cortesia” que alega ter tirado em 1993.
Muito nos entristece que alguém que fez parte do nosso movimento não tenha aprendido a ser leal e respeitar a verdade.
Uma instituição de 98 anos de existência no país, presente em catorze estados brasileiros, tendo beneficiado mais de 1 milhão e meio de pessoas, não pode ter sua imagem denegrida desta forma. Estamos falando de quase um século de um trabalho responsável, ininterrupto e que envolve crença, valores e princípios.
A imprensa é livre para se posicionar da forma que bem entender, no entanto, repudiamos a conduta da jornalista por ter sido irresponsável com as associações inverídicas que norteiam o artigo. Não se trata de uma questão de opinião, e, sim, de questões pessoais e supostas experiências negativas que a autora imputa ao MB e que são fruto de sua própria vivência e interpretação da qual não podemos sequer atribuir veracidade.
MARIA DE FATIMA BLANCO PAIVA_PRESIDENTE NACIONAL DO MOVIMENTO BANDEIRANTE DO BRASIL
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