vultos da república
O herdeiro
João Campos, o jovem prefeito do Recife, e os dramas agrestes de uma dinastia política
Consuelo Dieguez
O prefeito do Recife, João Campos, se aproximou do topo da escadaria do Alto do Buriti, em uma comunidade pobre da capital pernambucana, apreciou por alguns instantes a vista da cidade iluminada abaixo dele e apontou para o Parque da Macaxeira, localizado quase ao pé do morro. Com 10 hectares de extensão, o parque foi inaugurado às pressas por seu pai, Eduardo Campos, em seu último dia como governador (2007-14). Com o braço estendido e entusiasmo na voz, o filho disse: “Meu pai gostava tanto deste projeto que acompanhava a obra diariamente. Este é o maior parque da cidade.” Em seguida, com uma expressão marota, fez uma provocação. “Mas eu vou barrar ele. Vou fazer um parque ainda maior”, e deixou o riso escapar por debaixo da máscara que lhe cobria o rosto.
Era começo da noite de 12 de janeiro e João Campos, embora completasse quase doze horas de trabalho, não aparentava cansaço. Eleito prefeito da cidade pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) em novembro passado, desde que tomou posse ele ocupa parte do seu dia visitando bairros da cidade. Faz tudo acompanhado de uma equipe de cinco pessoas, que grava todos os seus movimentos e suas falas, que são imediatamente postados nas redes sociais. A presença constante nas ruas do Recife, sempre misturado aos moradores dos lugares que visita, levou adversários políticos a dizerem que ele continua em campanha. Campos não se abala. “Parte do trabalho de um prefeito é ir para a rua, ouvir os moradores da cidade, entender seus problemas e suas necessidades”, diz.

Consuelo Dieguez
Repórter da piauí desde 2007, é autora da coletânea de perfis Bilhões e Lágrimas, da Companhia das Letras