O leitor que bota os pingos nos iis e descreve minuciosamente por que não gostou da edição passada
| Edição 68, Maio 2012
A FAVELA E SUA HORA
Olá! Gostaria de parabenizá-los pela matéria “A Favela e sua hora”, de Bruno Carvalho, da edição 67 (abril) da revista. Vários pontos surgem em relação aos estudos e reflexões desenvolvidas sobre a ‘questão favela’, desde que surge como um problema urbano, são um exemplo de como essa tal questão faz volume nas discussões acadêmicas e pseudo-acadêmicas, além da intensa relação que sempre existiu entre aquele âmbito e o poder público, que nunca renunciou à tarefa de higienizar a Cidade Maravilhosa de seu “câncer”. Para maior e mais atualizada discussão, indico duas obras importantíssimas sobre o tema que vêm ao público este ano ainda: a tradução do livro do pesquisador da PUC-Rio e do LeMetro (http://www.ifcs.ufrj.br/~lemetro/) Rafael Soares Gonçalves, “Les favelas de Rio de Janeiro : histoire et droit XIX-XX siècles”, que está no prelo e será lançado por volta de setembro deste ano; e o livro, que é resultado do colóquio “As favelas cariocas: ontem e hoje – 50 anos do relatório SAGMACS”, que tem previsão de publicação este ano ainda; evento também produzido pelo LeMetro, do qual também faço parte, e que é capitaneado pelo Prof. Marco Antônio Mello. Enfim, cá deixo estas indicações e opiniões, esperando já a próxima edição da revista.
GABRIEL BARBOSA, Rio de Janeiro (RJ)
A PRIMEIRA PIAUÍ
Comprei minha primeira Piauí hoje. Confesso que acabei de achar uma fonte preciosa de informação, entretenimento e cultura. Parabéns e obrigado!
GUILHERME HENRIQUE NOGUEIRA DA SILVA, SÃO PAULO (SP)
PIAUÍ_67
Sou assinante há anos, e mantenho duas assinaturas porque gosto de presentear meus amigos com exemplares avulsos. Mas o número 67, de abril, me deixou dúvidas se devo continuar a sê-lo.
Depois de acompanhar a Dorrit Harazim nos passos do Marcelo Freixo (“O estranho do ninho”), esperava coisa melhor. A “inocência” da Fernanda Torres (“Minha cerimônia do adeus”) não foi suficiente para apagar a enésima tentativa de ressuscitar o Millôr (“Pôr do sol em Ipanema”), de página inteira, além do mais. A coisa se agrava quando, tentando usufruir da herança de Tony Judt (“Sobre intelectuais e democracia”), vejo-me compelido a compartilhar as dores e lágrimas da viúva Jennifer A. Homans (“Tony Judt: A vitória final”), com os meus respeitos. E a sensação de triste e próximo fim começa a ficar clara quando as treze páginas de texto massudo sobre transplantes faciais (“Transfiguração”), que ainda não terminaram, me levam em seguida ao texto que parece ser o principal desta edição: o “Papa-defunto”. Este foi o fim.
O que me resta de Borges (“Homem da esquina rosada”) talvez não valha a pena tentar. Alguma outra lúgubre surpresa pode me estragar a semana.
Longa e alegre vida a vocês.
NOTA DA REDAÇÃO: Não nos abandone, Eliezer, do contrário ficaremos ainda mais sorumbáticos e acabaremos por publicar um longo e tedioso ensaio sobre a queda do euro, a derrocada do DEM e o crepúsculo de Ronaldinho Gaúcho.
ELIEZER BENI PONTE DE SOUZA, Camanducaia (MG)
A FAVELA E SUA HORA
Certamente, a civitas imaginada por Lucio Costa para o Plano Piloto de Brasília está muito mais próxima da cidade medieval e da favela carioca que do traçado reto e impessoal da urbs modernista (“A favela e sua hora”, piauí_67, abril). Basta reparar que, comparada com qualquer esquina da labiríntica Rocinha, onde moradias e serviços se mesclam e propiciam o contato humano e a vida no espaço público, a Barra da Tijuca, com seus condomínios fechados, pistas expressas e regras de zoneamento, mais se assemelha a um bonito e ordeiro deserto humano. A postura de Lucio Costa, para o qual a urbanização da favela não é uma opção, me leva a crer que o urbanismo modernista estava deslocado da realidade, mais comprometido com a criação de uma utopia do que com a resolução de problemas recorrentes das cidades. O grande corolário deste raciocínio é Brasília, cidade monumental, mas de escala inumana, belíssima na prancheta e áspera na interação cotidiana. Se a urbs pode ser feita de croquis, a civitas só se consolida com pessoas. No afã de matar a rua, os modernistas mataram a cidade.
É curioso, inclusive, verificar a rendição do modernismo à sociedade do automóvel como visão de futuro. Todos os finalistas do concurso para a nova capital do Brasil propõem cidades-jardim, de grandes espaços vazios e circulação rodoviária. Um dos projetos afirma categoricamente que o quarteirão convencional deveria ser abolido, uma vez que o automóvel havia tornado as distâncias “obsoletas”. Penso que os senhores que defendiam essas peças de futurismo retrô, há meros sessenta anos, levarão algum tempo para chegar ao céu – ou ao inferno, porque vai estar rolando um baita engarrafamento no caminho.
DIOGO CARVALHO, Brasília (DF)
A FAVELA E SUA HORA
A propósito da tese defendida no texto “A favela e sua hora”, temos que discordar. Ao contrário do que quer fazer crer seu autor, a favela não pode ser, a um só tempo, problema e solução de si mesma. Um magote de barracos incrustados na encosta de um morro, nos quais se empoleira um sem-número de pessoas pobres e marginalizadas pelo poder público, não é e jamais será um modelo urbanístico viável. Precisamente o oposto: é corolário da falta de um modelo urbanístico capaz de contrabalancear as consequências nefastas de um desenvolvimento econômico desigual, excludente e centralizador de renda. O equívoco do autor é compreensível. Ao centrar seu ponto de vista em aspectos estético-artísticos e culturais, ele perde de vista todo um complexo de questões socioeconômicas que moldou a realidade das favelas. Idealizar essa realidade, em uma espécie de “neobucolismo”, em nada nos ajuda a compreender a problemática, pelo contrário, a mascara sob o subterfúgio da pretensa beleza que floresceria em condições de vida as mais adversas. Não que do morro não desçam exemplos ímpares de humanidade. Mas, como já dizia, chistosamente, um memorável carnavalesco, “quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta de luxo”.
JOÃO GABRIEL VIEIRA BORDIN, Assis (SP)
TRANSFIGURAÇÃO
No artigo de Raffi Khatchadourian (“Transfiguração”, piauí_67, abril), ele descreve as implicações dos transplantes sob os pontos de vista científico, médico, político, econômico, social, familiar, emocional e, principalmente, do indivíduo. O ponto de partida é a vida de Dallas Wiens. Lendo o artigo comecei a valorizar partes e funções do meu corpo, comparando com o trabalho que os médicos e o próprio Wiens tiveram para fazê-lo funcionar. Sentir cheiro, piscar o olho, sugar um canudinho – nunca imaginei que isso desse tanto trabalho. Fiquei emocionada quando Raffi descreve as sensações de Wiens quando “os cílios em particular o deixaram comovido” e o quanto “é maravilhoso ser capaz de sentir um beijo…”. O texto me fez valorizar coisas simples e naturais. Estou torcendo para que aquele olho de Wiens, que ficou preservado pelos cirurgiões de Parkland, seja restaurado.
REGINA CAJAZEIRA, Salvador (BA)
FREIXO
Graças ao tietismo e à parcialidade, a matéria sobre Marcelo Freixo foi a pior das 67 edições de piauí. Agradeceria o respeito à inteligência dos leitores e a não repetição de artigos laudatórios, afinal já temos a imprensa oficial.
NOTA DA REDAÇÃO: Xi, sendo assim decidimos não repetir o texto nesta edição, como pretendíamos.
MAURO GARCIA CORREA JR., São Paulo (SP)
FREIXO
Que inefável surpresa deparar-me com a matéria intitulada “O estranho do ninho”. Através do primoroso texto, o leitor teve a oportunidade de conhecer melhor a interessante figura do deputado estadual fluminense Marcelo Freixo, referência para aqueles que sonham com uma política pautada pela ética e pela participação popular. Fiquemos todos “de olho nele”!
LEANDRO MATHIAS, Rio de Janeiro (RJ)
FREIXO
A excelente reportagem de Dorrit Harazim sobre o deputado estadual Marcelo Freixo, do PSOL/RJ (“O estranho do ninho”, piauí_67, abril), traz uma impropriedade ao mencionar que eu, colega de partido de Freixo, teria feito “a defesa de José Dirceu na Câmara dos Deputados, à época do mensalão”. Foi o contrário. No dia 27 de outubro de 2005, durante a sessão do Conselho de Ética anunciei meu voto pela cassação do mandato do ex-ministro. Ali disse claramente: “Não estamos aqui discutindo uma grande biografia, que realmente o Zé Dirceu tem, mas analisando uma coleção de malfeitos que levou ao sequestro dos nossos sonhos. Trata-se de um processo deletério de desconstrução da cidadania que teve o Zé como um de seus artífices. Tragicamente, ele não está sendo condenado por sua trajetória política e pelo que representou, mas pelo que deixou de representar.”
NOTA DA REDAÇÃO: O deputado tem toda a razão quanto a seu voto e justificativa na sessão do Conselho de Ética, em 2005. Foi em fevereiro de 2004 que o parlamentar, então ainda do PT, declarou à Folha de S.Paulo: [As acusações] “não atingem o ministro da Casa Civil, pois as denúncias [contra Waldomiro Diniz, ex- subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência da República] precedem a organização do governo”. Propomos que nosso erro, generosamente qualificado de impropriedade pelo deputado, seja atribuído a uma manobra de Carlinhos Cachoeira ou da Delta para desviar as atenções de suas respectivas encrencas.
CHICO ALENCAR, LÍDER DO PSOL NA CÂMARA DOS DEPUTADOS, Brasília (DF)
A QUEDA DO SISTEMA
Divertido, criativo e muito pertinente o artigo de Vanessa Barbara. Sou psicóloga clínica e trabalho bastante com pacientes que requerem apoio psiquiátrico. Quando ouço essa desculpa de que “o sistema está fora do ar”, fico pensando que, no fundo, meu trabalho opera basicamente nesse registro. Eu só trabalho com sistemas que estão “fora do ar”. Só que nele não há espaço para resignação. É com ele mesmo que eu me insiro, sou praticamente “o menino do TI”.
BRUNA PINNA, Rio de Janeiro (RJ)
A QUEDA DO SISTEMA
Fazia tempo que não ria tanto numa publicação (“A queda do sistema”, piauí_67, abril). A jornalista teve o dom de transformar um pesadelo numa comédia muito inteligente.
NOTA DA REDAÇÃO: Solange, em função de sua carta a jornalista pediu aumento. Ou seja, a comédia virou pesadelo. Francamente.
SOLANGE MARIA COSTALONGA VAREJÃO, São Paulo (SP)
CAPA LEE LEE
Atribuo todos os olhares de suspeição lançados sobre mim na banca, agora à noite, à capa da revista piauí_67.
DARLAN MOREIRA, Ceará-Mirim (RN)
CAPA NOSSA SENHORA
Não entendo o motivo de gente que não gosta da Igreja Católica utilizar imagens sacras para chamar a atenção de leitores (Capa, piauí_66, março). Uma revista que sempre aborda negativamente a religião católica deveria buscar símbolos laicos ou próprios para expressar suas opiniões. A Igreja é bem-vinda ao universo dos autossuficientes somente quando é útil para fazer troça. Funciona assim: se precisam de uma imagem forte para passar uma imagem imbecil aos leitores, aí utilizam algo católico. Já que não gostam da Igreja, fiquem com suas imagens “modernas”, usem seus “dons” sem blasfemar.
MARCELO DOS SANTOS, Uberlândia (MG)
CAPA LEE LEE
Repúdio à capa de péssimo gosto e aos quadrinhos, o setor – com raras exceções – sempre mais fraco da piauí: a mistura pervertida de infantilidade com erotismo/pornografia é uma sobreposição doentia que agride a decência humana e as noções mais elementares e inteligentes sobre mitologia e arquétipos.
NICOLAU GINEFRA, Rio de Janeiro (RJ)
MILLÔR
Não sei se Milton-Millôr (“Pôr do sol em Ipanema”, piauí_67, abril) aprovaria, mas vocês poderiam acrescentar como subtítulo da revista algo como: Leia piauí: existem muito mais coisas entre Miami e o Prozac (Projac?) do que sonha nossa vã filosofia…
CARLOS EDUARDO DOMENE, São Paulo (SP)
TONY JUDT
Sugiro que numa próxima edição vocês publiquem um artigo que mostre que Tony Judt não era nem sombra do intelectual que os dois textos publicados pela revista fazem parecer ser (“Sobre intelectuais e democracia” e “Tony Judt: a vitória final”, piauí_67, abril). Como um bom começo, deem uma olhada no “necrológio” que a New Left Review fez há pouco tempo: “Tony Judt: A Cooler Look”, de Dylan Riley.
JOSÉ CARLOS SIQUEIRA, São Paulo (SP)
FUTEBOL
Lavou minha alma (“Depois do 4×0”, piauí_66, março). Só mesmo um ensaio profundo como esse – porra, seis páginas!!! –, que se propõe a lançar luzes sobre uma tragédia com isenção, inteligência, lágrimas e dor, publicado por este bastião da pluralidade ludopédica que é piauí, para a gente começar a entender e explicar melhor aqueles 4×0!!!! Concordo: Ganso, Robinho, Neymar e André. O ataque dos 100 gols. Esse era o conceito que precisava ser mantido. Parabéns. Incluir o Zé Love nesse ataque é meio forçação de barra?
FERNANDO TEPERDJIAN, São Paulo (SP)
FUTEBOL
Penso que a escrita de Nuno Ramos (“Depois do 4×0”) se beneficiaria de um uso mais contido dos parênteses.
DANIEL SERRANO, Campinas (SP)
LACI E FERNANDO
Parabenizo a jornalista Consuelo Dieguez pela matéria “Acossados” (piauí_66, março). Sou estudante de jornalismo e li a matéria coincidentemente no dia 7 de abril, dia do jornalista. Estou em um momento do curso em que questiono qual o papel do jornalismo em nossa sociedade hoje. No decorrer da leitura percebi que é possível encontrarmos profissionais compromissados com a função social do jornalismo. Fiquei emocionada. No período em que estourou o caso de Laci e Fernando acompanhei a repercussão na mídia. São frequentes os casos de discriminação praticada por instituições públicas que deveriam nos proteger. Apesar da existência de órgãos de defesa aos homossexuais, muitas vezes estamos sós – como o casal.
LORENA MORAIS, Cachoeira (BA)
MINHA CERIMÔNIA DO ADEUS
Eu ainda estava sob o impacto das imagens e da música do filme Xingu, do Cao Hamburguer, e foi um imenso prazer acompanhar, pelo texto sobre as filmagens de Kuarup, os momentos memoráveis, os momentos de desespero, os problemas logísticos, as dificuldades dos “caras-pálidas” no convívio com a natureza e tudo o mais. Além de falar da experiência em si, o texto nos conta um pouco da história do cinema ao longo dos anos da ditadura, depois sob os desmandos democráticos de Collor/Zélia Cardoso, e aborda a formação de uma nova geração de cineastas diante da questão técnica versus dramaturgia.
LAÍS PLATTEK, Rio de Janeiro (RJ)