O mentor do Bolsa Família causa polêmica
| Edição 75, Dezembro 2012
MAIS NOTAS, SENHORES
Num trivial e mínimo esforço metalinguístico, maior abertura para escape daqueles que com o mesmo do mesmo querem falar, sugiro que esta seção de cartas seja abastecida de notas da redação, com o sádico e apimentado humor ali sempre presente. Para minha infelicidade, a derradeira edição desta criticada publicação trouxe apenas uma glosa editorial.
MARCEL LUIZ CAMPOS RODRIGUES_Belo Horizonte/MG
NOTA DA REDAÇÃO: Veja abaixo, Marcel. Feliz?
POTÊNCIA DOS TRÓPICOS
Foi com grande satisfação que recebi a piauí deste mês aqui em Helsinque. A reportagem sobre Ricardo Paes de Barros (“O liberal contra a miséria”, piauí_74, novembro) é muito boa. Estudo economia e o sucesso do Bolsa Família é uma unanimidade na academia, no Brasil e no mundo. Aqui na Finlândia tento vender a ideia do Brasil como potência emergente nos trópicos, com indicadores sociais em ascensão, mas ainda com problemas. É impressionante como os finlandeses saíram de uma sociedade devastada no pós-guerra para uma economia de alto nível com grande segurança social. Temos muito a aprender com eles.
LUÍS CRISTÓVÃO_Helsinque/Finlândia
O perfil de Ricardo Paes de Barros é confuso e não está no bom nível de outros publicados pela revista.
O texto enfatiza que Carlos Langoni e Paes de Barros demonstraram que um maior nível de escolaridade aumentaria a renda, assim como a melhor distribuição da educação melhoraria a desigualdade de renda. Mas, no final do texto, citando estudos do próprio Paes de Barros, mostra justamente que, além da educação (30%), a distribuição e o aumento do valor das aposentadorias (20 a 30%) e o Bolsa Família (10-15%) foram os responsáveis pela melhoria da renda e da sua distribuição. Portanto, a própria reportagem indica que pelo menos esses três fatores estão ligados à renda e que a educação, com 30%, não pode ser considerada o principal fator.
Além disso, o perfil dá a paternidade do Bolsa Família a Paes de Barros, mas o próprio texto mostrou que vários contribuíram para a elaboração do programa, que não teve pai único.
Por fim, não há contraponto às críticas feitas a Marcio Pochmann. Se não conseguiram uma entrevista com o mesmo, deveriam pelo menos ter conseguido contato com pesquisadores do grupo dele.
ALFREDO DA COSTA PEREIRA JR._São José dos Campos/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Na Finlândia gostaram, Alfredo.
Gostaria de parabenizar a revista pela reportagem “O liberal contra a miséria”, que tão bem descreve a evolução das políticas sociais do governo federal, desmistificando o posicionamento dos liberais. É o retrato de como as ideias só evoluem quando são bem compreendidas pelos políticos do momento.
Nesse sentido, fiquei muito decepcionada com a negativa da ministra Belchior de comentar a matéria, pois ela, como titular do Ministério do Planejamento, deveria se preocupar em aprimorar tais políticas.
RENATA MODENESE VIEIRA_Brasília/DF
ENSAIO NOBRE
Foi muito instigante reencontrar o professor Marcos Nobre no ensaio “Depois da formação” (piauí_74, novembro). Nesse ensaio fica uma questão “Tostines”: o projeto de nação é planejadamente inviabilizado pelo Cebrap ou o Cebrap simplesmente investiga que se inviabilizou o projeto de nação brasileiro?
LÚCIO EMÍLIO DO ESPÍRITO SANTO JÚNIOR_Bom Despacho/MG
DIÁRIO
O olhar estrangeiro de Rema Nagarajan (“Uma mallu no Brasil”, piauí_74 , novembro) se mostra peculiar quando diz que: “… o que mais me impressionou foi o fato de as mulheres terem filhos muito cedo e os pais dessas crianças serem na maioria ausentes. Avós na casa dos 30 anos, com filhas de 16 que já são mães. Pudera, com a Igreja contra o aborto. As mulheres usavam roupas justas e curtas, sobretudo as adolescentes. Até meninas tinham uma aparência erotizada. Isso me pareceu um problema, mas talvez seja porque eu venha da Índia, que é tão conservadora.”
Ora, algo não fecha ou não se encaixa na análise da moça, que veio estudar o SUS e o Bolsa Família para melhorar a rede de proteção social na Índia: gravidez na adolescência se resolve com aborto?
À sua explicação é que falta coerência. Reputar que há mães de 16 anos porque a Igreja é contra o aborto é como explicar que existe lixo na rua porque não existem tapetes suficientes para cobri-lo!
MÁRCIO XAVIER_São Paulo/SP
LULISMO
O chato de se pegar para ler uma revista que se define apartidária é topar de cara com uma análise do resultado das últimas eleições, feita pelo diretor de redação (“A reciclagem do lulismo”, piauí_74, novembro), claramente parcial. Como é, a rigor, a grande maioria dos balanços pós-eleitorais. De tudo que se extrai do artigo, a dedução lógica é o céu de brigadeiro em que passeiam o PT e seu futuro risonho. Só para efeito de conjectura, dentro de possibilidades concretas, e se Marcos Valério, por exemplo, botasse a boca no trombone e comprometesse o restante das lideranças petistas que ainda não foram condenadas e sentenciadas pelo STF? O prognóstico de Fernando de Barros e Silva ainda valeria?
LUÍS ROBERTO N. FERREIRA_Guarujá/SP
Parabéns ao jornalista Fernando de Barros e Silva, que numa única página, no artigo “A reciclagem do lulismo”, fez uma análise concisa e precisa do atual quadro político brasileiro, com o diagnóstico perfeito do fracasso de Serra nas eleições municipais, por sua inapetência e incompetência política (farsa e tragédia), e as novas perspectivas que surgem no horizonte com a ascensão do Eduardo Campos, excelente gestor, que só aguarda uma eventual deterioração do quadro econômico, o qual poria em risco a reeleição da Dilma, para assumir sua candidatura em 2014.
DIRCEU LUIZ NATAL_Rio de Janeiro/RJ
IMPRESSÕES DE NOVEMBRO
Ao ler a edição 74 da revista comecei pelo relato sobre as trips de Oliver Sacks (“Estados alterados”, novembro), na esperança de que sua visão de médico acrescentasse algo de novo na antiquíssima relação homem–drogas. Qual o quê, uma das matérias que merecem estar no panteão da Boring Magazine. Doidão na época da faculdade chega a ser um clichê.
Sem esmorecer, passei para a matéria sobre o escritor Daniel Galera (“A hora e a vez do homem sem nome”), na esperança de me deparar com um jovem autor vibrante e com uma história de vida que justificasse sua presença neste nobre espaço. A tentativa de impregnar com glamour um sujeito tão patético não foi das mais felizes. E seu livro é chato.
Já em dúvida se seria a mesma revista que busco ansiosamente na caixa de correio todo mês, paro na matéria “A transição”, e, enfim, reconheço minha velha e boa piauí de todas as horas.
Ainda não refeito do relato de Robert A. Caro, que me fez sentir dentro do avião presidencial tal a riqueza do texto, chego à matéria sobre o economista Ricardo Paes de Barros (“O liberal contra a miséria”), um desses brasileiros que fazem um tipo de trabalho cuja importância provavelmente nunca será reconhecida como merece. Passei da época das pautas magras para a época das pautas gordas em questão de horas, e finalmente pude respirar aliviado ao sentir que nem tudo estava perdido na redação da piauí.
RONALDO SILVA ROSA_Volta Redonda/RJ
LYNDON JOHNSON
Instigante o texto de Robert A. Caro (“A transição”, piauí_74, novembro) sobre os últimos momentos de John Kennedy e os primeiros momentos do até então sombreado Lyndon Johnson. As expressões e o comportamento de Johnson revelados na reportagem mantêm a dúvida sobre a possibilidade de uma conspiração. O texto crítico de piauí mostra que, se aqui temos nossos esqueletos, especialmente os relacionados ao período da ditadura, os vizinhos americanos têm talvez uma vergonha a mais, um assassinato mal explicado em franco período democrático.
ADILSON ROBERTO GONÇALVES_Lorena/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Pedimos perdão aos leitores pela dupla ocorrência do adjetivo “instigante” numa mesma página.
ILUSTRAÇÕES
Até onde sei, piauí é praticamente a única revista de peso no Brasil a dedicar um espaço tão significativo à ilustração e às histórias em quadrinhos. Contudo, é desanimador quando esse espaço é ocupado por material aquém do nível geral da revista. Isso costuma ocorrer por certa insistência nos mesmos nomes. Por exemplo, não foi à toa que tantos leitores queixaram-se do veterano Gotlib: seus poucos bons momentos não justificavam sua antiga frequência na revista (que, graças, deu uma trégua). Da mesma maneira, a relevância histórica e os momentos interessantes do casal Crumb não justificam a publicação de qualquer coisa feita por eles: até com “astros” é preciso ser seletivo, e parte do material veiculado aqui tem sido repetitivo e dispensável (passei do puro divertimento para o enfado). As histórias longas de Caco Galhardo, por sua vez, têm se tornado sucessivamente mais pretensiosas, desinteressantes e mal desenhadas (passei de admiração inicial à pura indignação). Por favor, não pensem que peço algum “banimento” do artista; apenas aconselho que se apresente aqui material mais decente, do qual temos evidência de que ele é capaz.
Bem sei que nem os melhores acertam sempre, e que a crítica que apresento aqui é, inevitavelmente, um juízo subjetivo.
No mais, permanecem meus parabéns, e que boas histórias em quadrinhos continuem ocupando essas páginas enormes.
GABRIEL GIRNOS_Rio de Janeiro/RJ
NOTA DA REDAÇÃO: Prezado Gabriel, somos insistentes. Nesse número, Caco Galhardo comparece ao lado do não menos pretensioso Reinaldo Moraes. Tome isso como um presente de Papai Noel.
POESIA
Concordo com o que diz Ana Martins Marques no poema publicado no último número da revista (“Por aí a passeio”, piauí_74, novembro): “Poemas podem ser escritos de pé/ mas ninguém nunca escreveu/ um romance de pé/ e isso de estar sempre sentado/certamente acaba/ por interferir nos romances/ e não será de se estranhar/ se tiver arruinado/ um bom número deles.” Faço, apenas, uma ressalva: ninguém, não, Ana; Hemingway os escrevia de pé como consta de suas melhores biografias, e recentemente é mostrado no filme Hemingway & Gellhorn. Por isso, sem dúvida, é que são tão bons. E Proust que os escrevia semideitado? Ora, Proust é Proust. Em tempo: no filme ainda aparece a gentileza com que o escritor descartava as folhas usadas; mas não ponho a mão no fogo por essa informação. Afinal, isso pode ser apenas cinema.
ARMANDO FREITAS FILHO_Rio de Janeiro/RJ
A FENDA DO SAPATO
Carol Pires, parabéns pela excelente reportagem (“El Viejo tupamaro”, piauí 73_outubro) que inclui seu contato com um “aristocrático” ser. Estupro, ainda que metafórico, incomoda. A senhora fez jornalismo da melhor qualidade. Meus respeitos.
MARIA JOSÉ LAZAREVITCH_Rio de Janeiro/RJ
POLÍTICA PARTIDÁRIA
Prezados senhores, gostaria que fosse retificado, na publicação do meu comentário sobre as eleições 2012, (piauí_74) que o prefeito eleito de Belo Horizonte é do PSB.
MARIA BEATRIZ TEIXEIRA_Belo Horizonte/MG
NOTA DA REDAÇÃO: Na política brasileira, pertencer a um partido ou a outro não faz muita diferença. Mas para o jornalismo faz: Marcio Lacerda é do PSB. Maria Beatriz está certíssima.