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“Respira-se pó”

    Guerra perto de um dos primeiros prédios residenciais de Brasília, por volta de 1960: “Alguns acham que isto aqui vai melhorar. O capital paulis­ta entrará de rijo, buscando novos mercados” CRÉDITO: PETER SCHEIER_C. 1960_ACERVO INSTITUTO MOREIRA SALLES

anais da micro-história

“Respira-se pó”

O tumulto e a esperança com o nascimento de Brasília nas cartas de um de seus primeiros habitantes

José Augusto Guerra (1926-82) | Edição 215, Agosto 2024

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Foi de um apartamento ainda empoeirado de obra no segundo andar do então recém-construído Bloco K, na Superquadra 106 da Asa Sul, que José Augusto Guerra escreveu as cartas a seguir. Nascido em Maceió em 1926, ele exerceu diversas profissões ao longo da vida – entre elas jornalista, crítico e professor universitário. No início de 1960, atuava como funcionário da Câmara dos Deputados no Rio de Janeiro. Brasília nem havia completado dois meses e meio de sua inauguração quando, em meados daquele ano, ele e outras centenas de funcionários públicos federais foram transferidos à nova capital numa realocação coletiva apelidada de Operação Mudança, organizada pelo deputado maranhense Neiva Moreira.

A destinatária das cartas era Rildacy, esposa de José Augusto. Enquanto esperava Brasília se tornar habitável, ela se mudou temporariamente para o Recife com os dois filhos pequenos – Euclides Augusto (apelidado de Kido), na época com 1 ano, e Ana, com 3. De lá, recebia informações do marido sobre o funcionamento e evolução de estruturas básicas da nova capital. Numa mistura de esperança pelo futuro de Brasília e exasperação ocasional com as dificuldades práticas de viver numa cidade que mal nasceu, Guerra discorria sobre supermercados, escolas, calçadas, mas também sobre o momento político do país e sobre a vida conjugal dos dois, em apaixonadas declarações de amor à mulher, a quem chamava de Dácy.

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