Os herdeiros de Mussolini e uma mensagem para o alienígena
| Edição 79, Abril 2013
ÁLCOOL DA DISCÓRDIA
O texto de Consuelo Dieguez (“Colheita amarga”, piauí_78, março) sobre o etanol de cana é emblemático para que se entenda a falta de planos estratégicos e o descaso dos governantes com grandes questões nacionais. Lembremos que o Proálcool foi muito bem-sucedido. Houve ganhos extraordinários de produtividade agrícola, ganho industrial, inclusive na ponta do consumo com os carros flex. Uma usina de açúcar/álcool tem uma característica única: quando moderna e bem estruturada, é superavitária em energia.
O que poucos sabem é que junto com o Proálcool foi criado o Pro-Óleo, com participação extraordinária da Embrapa, desenvolvendo tecnologia que permite a produção de biodiesel renovável em substituição ao diesel do petróleo. Caso tivesse recebido o mesmo apoio, baratearia o custo do transporte de cargas e do transporte público. Só não o foi por interferência direta da Petrobras, aparelhada por dirigentes sintonizados com outros interesses.
VIRGILIO DA SILVA ROCHA JR._RIO DE JANEIRO/RJ
Consuelo Dieguez faz uma radiografia completa das controvérsias do etanol, demonstrando a incompetência do governo no tratamento da questão ao puxar o tapete dos empresários que acreditaram nas promessas da “Arábia Saudita verde”. Com a política demagógica e eleitoreira de manutenção de preços irreais da gasolina, a atual gestão sacrifica sua principal estatal e inviabiliza a utilização preferencial do etanol como combustível. Os principais produtores nacionais que acreditaram no discurso lulista e fizeram pesados investimentos deram com os burros n’água.
DIRCEU LUIZ NATAL_RIO DE JANEIRO/RJ
Não esperava um artigo tão bem elaborado e completo como “Colheita amarga” sobre a conjuntura atual da produção de etanol no Brasil. O setor sucroalcooleiro precisa de amadurecimento. Investimentos devem ser feitos visando à lucratividade em longo prazo, não imediatista. Há os que assim enxergam e investem, citados na reportagem, mas ficou a impressão da choramingação reinante, como se o setor estivesse falido. Se as cifras apresentadas são bilionárias, é porque os lucros acompanham esse patamar.
ADILSON ROBERTO GONÇALVES_LORENA/SP
O artigo “Colheita amarga” conduziu a proverbial pulga para trás da orelha: seriam tamanhas omissão e parcialidade quanto aos aspectos ambientais da cana-de-açúcar produtos apenas de pouca pesquisa, depoimentos escamoteados e más leituras?
Pois então, como a afirmação do ex-presidente da união dos produtores de açúcar de que a cana “não vai invadir a Amazônia” passa em brancas nuvens no momento em que a Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados (veja lá os currículos dos membros da comissão) exerce intensa e pública pressão para a liberação do plantio da cana no Pantanal e na Amazônia?
O médico paulistano mencionado na reportagem pode estar certo quanto aos menores índices de poluentes nas cidades graças ao uso do etanol, mas e os muitos médicos interioranos, que poderiam ter relatado a grave incidência de doenças respiratórias na época da colheita da cana? Dada a gravidade e relevância do assunto, não teriam sido apropriadas pelo menos algumas referências imparciais à concentração de renda, às miseráveis condições de trabalho e aos inúmeros e notórios trambiques entre usineiros e políticos?
ATHAYDE TONHASCA JR._BIRNAM/ESCÓCIA
VÁRIAS PIAUÍS
Venho achando a piauí muito sisuda. Tirando o “Diário da Dilma” e as notas da redação, não há mais humor na revista. Aquele texto refinado que beirava o deboche (também nas reportagens sérias) foi embora. O sarcasmo sumiu. Continuo leitor fiel, pois o compromisso com pontos de vista diferentes do jornalismo tradicional e o aprofundamento das reportagens ainda existem. Mas sinto falta de sorrir de uma “alfinetada” bem dada pela revista, em diversas seções. Ou tudo isso foi exilado para o Piauí Herald na internet?
MARCOS ANDRÉ LESSA_RIO DE JANEIRO/RJ
Fiquei satisfeitíssimo com a riqueza de detalhes das reportagens da piauí_77, de fevereiro. Primeiro, com o cacique Raoni no texto do Rafael Cariello (“A onça e a barragem”). Mais adiante me deliciei com “O cru, o cozido e o cérebro”, de Bernardo Esteves. Depois me deparei com a linda foto da Lindsay Lohan na reportagem “É isso que dá escalar Lindsay Lohan para seu filme”. Fiquei imaginando como é o dia a dia desses famosos malucos. Deve ser difícil conviver com a LiLo, mas a intensidade dela é fantástica, assim como o texto do Stephen Rodrick que a retratou. Às vezes, na empolgação, eu deixava passar batidas as ilustrações e tinha que voltar algumas páginas para ler as charges de super-heróis em situações ridículas.
No final, li as cartas dos leitores e as respostas sarcásticas da redação e pensei: “Foda-se, também vou escrever.”
MATHEUS RADDI_CAMPINAS/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Matheus, não precisava se empolgar tanto no final. Muito agradecidos, aproveitamos para pedir encarecidamente que você empreste a sua piauí ao Marcos Lessa, autor da carta anterior. É que seu exemplar está bem mais divertido que o dele.
NUNO NO HOSPITAL
Destaco na revista de março o artigo de Nuno Ramos (“O turista infeliz”, piauí_78, março) e as charges. Gostei do número do começo ao fim e gostaria de registrar que comentar os dois últimos números me acalmou numa fila de hospital, a ponto de eu recusar o analgésico que a enfermeira me ofereceu. Disse a ela que só me lembrar da piauí já tinha sido suficiente. Que bom que existem revistas assim. Nuno Ramos, você é o cara!
EUGÊNIA TEREZA CORREIA_JOÃO PESSOA/PB
LEITOR SOLITÁRIO
Resido em uma cidade pequena do interior de São Paulo e, como conheço o entregador da revista, fiz-lhe a seguinte indagação: seria eu o único assinante da piauí em Piracaia? Ele respondeu que sim. Pasmo, fiquei me perguntando: como falta bom gosto e cultura neste país e, notadamente, em minha cidade. Continuem assim, a revista é deliciosa.
RICARDO FERREIRA DE CARVALHO_PIRACAIA/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Contamos com você, Ricardo. Uma coisa que não falta em Piracaia é gente modesta.
HABEMUS PAPAM
Depois do texto de Marco Politi “Sob a névoa do conclave” (piauí_78, março), a névoa – a fumaça – passou de preta a branca em apenas cinco votações. Foi mais rápido do que se esperava. Foi mais surpreendente do que se poderia imaginar. Nenhum dos nomes citados pelos “especialistas”, nem mesmo pelo articulista da piauí. Um latino-americano, sim, mas nenhum dos papáveis do continente.
Francisco parece disposto a inovar, pelos seus primeiros atos públicos. Esperemos confiantes.
GILBERTO COSTA RIBEIRO_RECIFE/PE
MUSSOLINI
É impossível não esboçar um paralelo entre o minucioso retrato de Benito Mussolini feito por Boris Fausto (“Pontífice de uma religião leiga”, piauí_78, março) e a chegada de Silvio Berlusconi à política italiana nos anos 90, além do surpreendente resultado alcançado pelo Movimento 5 Estrelas do comediante Beppe Grillo nas eleições parlamentares italianas de fevereiro.
Assim como o ditador fascista, o magnata das comunicações Berlusconi arrastou multidões ao surgir como novidade num cenário político estremecido pelo fim de um ciclo. Em vez do entreguerras, o ocaso da polarização entre Estados Unidos e URSS, que significou, na Itália, o enfraquecimento de democratas cristãos e comunistas. Berlusconi fez o diabo e responde a processos de abuso de poder, evasão fiscal e prostituição de menores.
Grillo, por sua vez, aliado ao especialista em redes Gianroberto Casaleggio, lançou seu movimento em 2009 na internet e prometeu levar ao Parlamento os ditos cidadãos de bem, os “cinco estrelas”, vítimas de um sistema ao qual não estariam relacionados de maneira alguma. Resultado: com uma ideologia vaga, por vezes euro cética, contrária aos imigrantes e defensora da internet gratuita, seu “antipartido” foi o mais votado e só não garantiu a maioria na Câmara porque não costurou uma coligação antes do pleito, transformando-se no fiel da balança das negociações capitaneadas pela engessada centro-esquerda do Partido Democrático.
“Aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo.” É provável que a mensagem chegue ainda mais contundente aos ouvidos italianos, sempre tão ávidos pelas palavras dos “homens novos”.
PLÍNIO PAULOS_SANTOS/SP
DÚVIDA
“O radical de centro” (piauí_77, fevereiro) foi uma “pré” para o lançamento da Rede? Salve Marina!
FLÁVIA RODRIGUES BORGES_SÃO GONÇALO DO SAPUCAÍ/MG
PARA DIZER A VERDADE
É com tristeza que minha primeira carta enviada à piauí seja logo para criticar a publicação, quando, a bem da verdade, sou grande fã do seu conteúdo em geral. Ao ler o texto “Para dizer a verdade”, de Jorio Dauster (piauí_77, fevereiro), senti a necessidade de me manifestar em defesa de nada menos que a nossa espécie.
Sendo pessoa ávida por astronomia, ciências que a circundam e ficções criadas ao seu redor, me animei após ver uma bela ilustração retratando um ambiente espacial e ler a passagem utilizada como subtítulo.
No entanto, fui murchando ao passo que avançava na leitura. Cansei-me de textos sobre a irracionalidade e autodestruição da humanidade. Tornou-se afirmação de senso comum esse negócio de que somos, de forma geral, destrutivos com o nosso planeta e cegamente inconsequentes.
A história da humanidade é, de fato, pautada por barbáries coletivas e atos egoísticos praticados por poderosos governantes, mas, sem dúvida, é pautada também pelo progresso da espécie. O passado nos ensina e dá certeza de que mudaremos. O essencial eu trago citando o astrônomo Carl Sagan: “Não seremos nós quem irá alcançar Alpha Centauri e as outras estrelas próximas. Será uma espécie muito parecida conosco, mas com mais das nossas qualidades, e menos das nossas fraquezas.”
Assim, em vez de especular sobre um porvir mesquinho, como se ele fosse acontecer com a mentalidade de hoje e a tecnologia do futuro, as pessoas deveriam utilizar a internet para ler textos como os de Sagan. Isso permitiria uma visão muito mais embasada do nosso futuro fora do planeta, do caminho que ainda precisamos trilhar e o que é mais importante: uma perspectiva mais otimista, sem deixar de ser realista, do futuro da nossa espécie, ou daquela que surgirá a partir da evolução do Homo sapiens.
Portanto, ao preocupado personagem do texto publicado, peço calma e algum respeito, pois aposto que a espécie dele já foi um tanto problemática um dia.
ENERZON RENATO HARGER BONETTI_BRAÇO DO NORTE/SC
NOTA DA REDAÇÃO: Sua carta foi transmitida ao alienígena, Enerzon. Publicaremos a resposta assim que ela chegar à nossa galáxia.
SALVOS DAS ÁGUAS
Na piauí_56, a jornalista Consuelo Dieguez fez uma matéria (“O fim do mundo”, piauí_56, maio de 2011) sobre a tragédia ambiental que assolou Nova Friburgo, em 12 de janeiro de 2011, com um saldo de mais de 400 mortos.
Era uma matéria sobre o drama humano, e para isso a repórter, que nos orgulha de ser friburguense, entrevistou nove pessoas protagonistas de situações de verdadeiro horror. Confesso ter sido aquele, em minha modesta opinião, o melhor trabalho publicado na imprensa brasileira sobre a tragédia. Uma matéria que nos levou às lágrimas. Profundamente humana e honesta. Hoje, passados exatamente dois anos após o acontecido, resta-nos uma constatação: temos em nosso estado a pior classe de políticos de toda a história brasileira. Das visitas da presidente Dilma, passando pelo governador Sérgio Cabral e inúmeros ministros e secretários de Estado com seus discursos inflamados, restou apenas a certeza de que lidamos com PROMESSAS VAZIAS e MENTIROSAS.
Só ouvimos justificativas supostamente técnicas para o quase nada que foi realizado desde a tragédia. Inúmeras famílias continuam em situação de risco e nenhuma habitação das 5 mil prometidas foi entregue até o momento. Esta é a cruel realidade. Pelo exposto não seria o caso de uma nova matéria apontando para o descalabro da administração pública e suas mazelas?! Uma matéria com profundidade, à altura da reportagem da edição 56, sem sensacionalismo, com a mesma isenção e com o mesmo profissionalismo. Uma matéria daquelas que faz o autor se sentir orgulhoso.
Acho que seria a melhor homenagem que as mais de 400 vítimas de Nova Friburgo poderiam receber da piauí, da qual sou um leitor episódico.
HENRIQUE CORDEIRO CORREIA_NOVA FRIBURGO/RJ