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    CRÉDITO: FLYINGPIG_2020 @FLYINGPIG.PAT

ficção

Os mesmos pés

Havia um mundo inteiro em caracteres chineses para desbravar

Vanessa Barbara | Edição 201, Junho 2023

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Passar o dia com a cabeça enfiada no travesseiro, os braços abertos, ignorando a camareira que teima em tocar a campainha para limpar o quarto. Virar de barriga para cima a cada meia hora, memorizando todas as fissuras do teto e erguendo a cabeça de vez em quando para assoar o nariz. Nem se importar de checar o relógio para ver que horas são. Lembrar daquela vez em que fui demitida por telefone ou de quando caí no colo de um desconhecido no ônibus, uns cinco anos atrás; fechar os olhos e sentir a barriga roncando porque já são provavelmente duas da tarde. Sofrer teatralmente sem hora para terminar, envolta nos lençóis acetinados de uma cama king-size.

Queria ir ao banheiro, mas a ideia de ter de me levantar da cama, caminhar, lavar o rosto, escovar os dentes e usar o telefone para pedir serviço de quarto era sufocante. Não havia a possibilidade de que um dia conseguiria fazer tudo isso. Teria de tirar o pijama e me vestir para abrir a porta ao funcionário do hotel, que iria perceber o meu rosto vermelho e inchado. Teria de interagir, aparentar normalidade e pesquisar de novo sobre a política local de gorjetas.

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Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz

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