A tarifa zero em Caucaia: em 2013, um morador de salário médio no Rio ou São Paulo trabalhava 13 minutos para pagar o ônibus – mais que em Santiago, Buenos Aires, Paris ou Nova York CRÉDITO: BETO NEJME_2024
Bolsa Família sobre rodas
Os resultados da maior experiência de tarifa zero no Brasil
Roberto Andrés | Edição 216, Setembro 2024
Começou agitada a manhã de segunda-feira na sede da Empresa Vitória, que opera o transporte por ônibus na cidade de Caucaia, no Ceará. Na garagem, na oficina mecânica, na cantina, nos escritórios e corredores, o “bom-dia” era substituído por um “viu a notícia?”. Em 65 anos de atuação da companhia, nunca uma mudança tão radical havia sido cogitada. Na sexta-feira anterior, 23 de julho de 2021, o prefeito Vitor Valim anunciara em uma live no Instagram que os ônibus da cidade passariam a ser gratuitos para toda a população. A tarifa, que era de 3,50 reais, seria extinta. A medida – uma resposta aos impactos da pandemia – começaria a valer dali a pouco mais de um mês, em 1º de setembro.
A mudança foi divulgada sem conversa prévia com a empresa. Seu diretor executivo, Luís Guimarães, foi avisado de que o anúncio seria feito logo antes da live. Sua equipe não fazia ideia de como o novo sistema funcionaria. Motoristas, mecânicos, profissionais da limpeza, fiscais, gerentes – todos tinham alguma dúvida. Com a tarifa zerada, como seria a remuneração da empresa? O contrato com a prefeitura seria rompido? Como a população reagiria à mudança? Haveria aumento de passageiros usando os ônibus? A gratuidade levaria à precarização dos veículos?
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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