Persio Arida e Wolinski inspiram unanimidade por razões opostas
| Edição 57, Junho 2011
DIÁRIO DA DILMA
Fazia muito tempo que eu não lia um texto de humor tão incrível. Algumas das passagens – como “fazer um coração com as mãos embaixo da mesa” (“Notas, apontamentos e tergiversações”, piauí_53, fevereiro) – viraram motivo de piada no cotidiano de amigos e amigas. Parabéns pela forma elegante e bem-humorada como foram tratadas questões delicadas e controversas da política brasileira, nesse início do mandato da presidenta Dilma.
Espero que haja continuação.
GABRIEL SANT’ANA PALMA SANTOS_FLORIANÓPOLIS/SC
Gostaria de parabenizar a revista e o ghost-writer Renato Terra pela genial ideia de escrever o diário de nossa querida presidenta. Vou ao delírio com seu humor sutil e inteligente. O estilo da escrita e as sacadas repletas de sarcasmo e ironia até me fazem lembrar daquele humorístico global que é transmitido na tevê nos sábados à noite.
LAURO FRÁGUAS_BELO HORIZONTE/MG
É surpreendente que os editores de uma revista tão descolada não percebam, ou não queiram saber, que Obama encostar “aquele beição no meu cangote”, frase destacada na chamada e na legenda da ilustração do Diário da Dilma (“A musa fashion e o lacaio da burguesia”, piauí_55, abril), aciona o estereótipo racista e seus lances de aproximação e nojo. Tudo bem, vamos rir, já que estamos entre brancos. Hehehe.
LIV SOVIK_RIO DE JANEIRO/RJ
BRASIL SUBMERGENTE
Minha desolação não poderia ser maior, nesse fatídico domingo, após ler as reportagens “O fim do mundo” e “Do outro lado da lua” (piauí_56, maio). Agregado ao vazio de todos os domingos, inundou-me um vazio ainda maior. Angústia, sei lá. Tento concretizar a ideia de que o Brasil melhora, ainda que a passos de tartaruga. Todavia, depois da leitura desses textos, é difícil acreditar em melhorias significativas. Quanto à questão dos usuários de crack, apesar de ter-me comovido muito o empenho dos profissionais do Said e de estar convencida do bom estruturamento desse serviço, questiono-me: é apenas um, para uma demanda de dezenas de milhares de usuários em situação degradante. Por outro lado, diante do caso da Região Serrana do Rio, só ficou evidente o despreparo das entidades governamentais. Lidos os relatos dos moradores de Nova Friburgo, pareceu-me que eles estavam abandonados à própria sorte. As centenas de mortes poderiam ser evitadas se o plano de retirada dos moradores das áreas de risco tivesse sido posto em prática. Qualquer brasileiro está cansado de saber que no verão a chuva vem em abundância. Não dá para cruzar os braços e ficar à espera de novas tragédias.
E eu que já sonhei que um dia meus futuros filhos viveriam em um Brasil menos assustador, mais tranquilo. Não há esperança. O sonho morreu, como os milhares de meninos e meninas que sucumbiram com o crack. E como o contingente de soterrados devido às chuvas de verão que ainda estão por vir.
CAMILA LISBOA SANTANA_SALVADOR/BA
DO OUTRO LADO
Fala-se muito do outro lado da lua, o lado escuro que ninguém nunca vê ou conhece. E é exatamente onde vivemos, e não o contrário, como pude notar ao ler a reportagem de Roberto Pompeu de Toledo (“Do outro lado da lua”, piauí_56, maio). Pensamos viver no lado claro, onde tudo se sabe e de onde podemos ver todos os que estão a nossa volta, porém estamos todos cegos, apenas absorvemos parte da realidade do outro. O nosso mundo é um motel, cheio de quartos separados e alas inacessíveis. O lado escuro é aqui.
PATRÍCIA CAMPOS_ITAÚNA/MG
Li o artigo de Roberto Pompeu de Toledo num fôlego só. A redação em si é um atrativo à parte: analítica, sem ser fria; sentimental, longe de ser piegas. Impecável. As histórias de vida das crianças e adolescentes citados no texto são chocantes. Impossível não se emocionar diante da infância perdida, da rejeição dos pais e da sociedade. Mas também é muito gratificante conhecer o trabalho de instituições como o Said e o Jovem Samaritano, comandados por profissionais sérios, envolvidos com a difícil tarefa de tentar resgatar essas crianças das drogas e da indigência. O outro lado da lua é muito mais escuro do que imaginava…
LÚCIA GALANTE_SÃO PAULO/SP
CEGO ENTRE OS SIGNOS
Como não está no mundo da lua, nem do outro lado dela, mas no máximo do outro lado da rua, Paula Scarpin tem a proximidade necessária para escrever, com mão cuidadosa e firme, sem literatice e mea-culpa, a dolorosa saga de Antônio Bonfim Ferreira em “Baraquio Bama vale nota 10” (piauí_56, maio). Vale a pena sentir o “impulso de humana compreensão” que o seu texto revela.
ARMANDO FREITAS FILHO_RIO DE JANEIRO/RJ
QUESTÕES PROLETÁRIAS
Ao ler as páginas que relatavam a revolta da usina de Jirau (“Fogo na usina do desenvolvimento acelerado”, piauí_56, maio), perguntei-me onde está o governo em meio a essa situação. O governo não tem culpa nenhuma no cartório, afinal a obra é terceirizada e é preciso cobrar das empresas que constroem o megainvestimento? Essa pergunta deve ser refletida com cautela. É a velha história da filha que acha que namora escondido do pai. A filha é a obra em questão e o pai é o governo; e nesse caso o pai é uma exceção, pois faz de tudo para não saber.
Uma obra que envolve 12 bilhões de reais em investimentos terá qual margem de lucro? Este com certeza terá vários destinos e o povo será o menos provável possível. O que tem margem exata é a exploração do brasileiro. Mais uma vez, o Brasil mostra que para crescer é preciso massacrar seu povo. E o engraçado é que a definição de PAC para o governo é a seguinte: “O PAC é mais que um programa de expansão do crescimento. Ele é um novo conceito de investimento em infraestrutura que, aliado a medidas econômicas, vai estimular os setores produtivos e, ao mesmo tempo, levar benefícios sociais para todas as regiões do país.” Realmente, algo está distorcido ou é simplesmente ilusão alheia. Na realidade, estamos assistindo a um capitalismo feroz, no qual o lucro e a produção estão acima de tudo.
VANCLEI SILVA_ITABUNA/BA
CHAMPINHA
Parei no meio a leitura da reportagem sobre o tal Champinha (“Os que morrem, os que vivem”, piauí_56, maio). Histórias de violência não me são estranhas. Mas o relato sobre os atos de criatura tão bestial me venceu, não pude prosseguir. Fui tomado de uma imensa vergonha de pertencer à espécie humana. E nesses momentos em que vamos discutir o que será feito com ele e as penas aplicáveis, e discutimos gostosamente nos bares e no Senado a “execução” de Bin Laden e o bombardeio do acampamento das Farc no Equador, todos se lembram de que temos que ser melhores do que eles. Que somos iluministas, que lemos direitinho nosso Beccaria, que não estamos mais na era de Talião. Invocam-se direitos para os psicopatas e terroristas, enquanto eles cotidianamente ignoram todos os princípios de civilização com seus homens-bombas, estupros e execuções sumárias. Quem é o Homo sapiens mesmo? Não que tenhamos que regressar ao tempo das cavernas, mas poderíamos deixar de ser tão frouxos, não? As 50 mil vítimas de homicídio ao ano no Brasil agradecem.
LUIZ AUGUSTO MÓDOLO DE PAULA_SÃO PAULO/SP
VÍTIMAS DAS ÁGUAS
Ao ler a matéria de Consuelo Dieguez acerca do desastre de Friburgo (“O fim do mundo”, piauí_56, maio) temos um novo olhar para a tragédia: o olhar humano. Dar nomes, vozes, sonhos e vida às vítimas da enxurrada nos aproximam das pessoas que vivenciaram o evento. A repórter consegue comover e tocar o leitor de tal forma que um sentimento de impotência, revolta e temor nos invade. Lembrando, inclusive, o filme Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos (1998), de Marcelo Masagão, sua força realística nos arrebata em cada frase e, ao reproduzir as falas e os sofrimentos das vítimas, somos “jogados” para dentro da tragédia, ficando, por fim, as perguntas: desastres como esse precisam acontecer para nos mostrarmos humanos, para nos revoltarmos com o estado de apatia social em que vivemos?
EDMAR FERREIRA GUIMARÃES JUNIOR_TERESINA/PI
ALMA MATER
Meu orgulho “alma-materno” sai ferido ao dobrar a primeira Esquina de abril (“Para a alma mater, piauí_55, abril). Malícia de Delfim, malícia ou desinformação (quero crer) da revista, por não mencionar – nem pejorativamente – o “outro” departamento de economia que há em Campinas, bem ao ladinho da citada Facamp.
DANIEL ÁVILA_SÃO PAULO/SP
RAKUDIANAI
O artigo de Persio Arida (“Rakudianai”, piauí_55, abril) é bom e honesto. Apenas não sei se “trocaríamos seis por meia dúzia” se os movimentos por um país mais justo tivessem vencido. Lutávamos contra um golpe subversivo que derrubou um presidente eleito, fechou os partidos, censurou a imprensa e impediu qualquer forma de reivindicação. Deveríamos assistir impassíveis à enorme concentração de renda que se estabeleceu no país, a partir da política do “Milagre Brasileiro”, em que era preciso primeiro “aumentar o bolo para depois reparti-lo”? Só sei que a ditadura militar durou 21 anos. E que quanto maiores foram os movimentos de libertação na América Latina, nas décadas de 60 e 70, menor foi a duração dessas ditaduras. O nosso foi pequeno. De qualquer forma, como respondeu a esta repórter sobre por que optara pela luta armada, o experiente lutador Apolônio de Carvalho, ex-combatente da Guerra Civil Espanhola pela República e na Resistência Francesa contra a ocupação nazista, respondeu: “Que outro caminho nos deixaram?” Rakudianai.
VERA GERTEL_Rio de Janeiro/RJ
O artigo é extenso não só em tamanho, mas em qualidade. Um texto sem a pretensão e o saudosismo pedante dos “comunistas” e dos que reclamam da falta de consciência política que os jovens conservavam no período militar. Período este sempre citado por qualquer chapa de diretórios acadêmicos nas universidades no Brasil. Persio conseguiu relatar sem pretensão os seus atos “terroristas” e o seu tempo negro nos porões da tortura. Um artigo que deixa qualquer um maravilhado pelas amarrações dos fatos e pela forma em que os contextos e épocas descritos passam.
Obrigado à revista por essa edição que está completamente deliciosa, e superou até a piauí_54 (março), que eu já havia achado uma “coisa”!
CAIO NATALE_BELO HORIZONTE/MG
Acho que Persio Arida cometeu uma impropriedade ao descrever como se desvencilhou da mala com os livros marxistas, documentos da organização e demais panfletos, jogando-a da ponte da Cidade Jardim sobre o rio Pinheiros. Em virtude de a alça da mala ter arrebentado e a mesma ser muito pesada, teve enorme dificuldade em arrastá-la até o ponto desejado para lançá-la no rio. No meio dessa empreitada, quase chutando a referida, amaldiçoou Lênin. “Era um enchedor de linguiça, um sujeitinho pretensioso, incapaz de se expressar com concisão, que achava que só porque era Lênin e mandava na União Soviética tinha que botar no papel toda maldita ideia que lhe ocorria.” Tais reflexões seriam impossíveis naquele momento, pois Lênin, para nós marxistas-leninistas, era uma espécie de oráculo. Seria a mesma coisa que um cristão renegar Cristo. Após as desilusões e os sofrimentos, com a queda do Muro de Berlim e o fim das utopias torna-se uma reflexão aceitável. Mas naquele momento, jamais, seria a negação de tudo. Como o Persio pretende lançar seu livro de memórias no segundo semestre pela Companhia das Letras, seria o caso de ele refletir novamente sobre essa passagem, corrigindo uma falha que eu considero lamentável.
DIRCEU LUIZ NATAL_RIO DE JANEIRO/RJ
WOLINSKI
A piauí_55 (abril) vai fazer com que eu, antes de comprar e compartilhar, dê uma olhadinha na sua pauta. Wolinski, com “Memória & História”, é simplesmente pornográfico. Suas velhacarias sexuais são gratuitas, não tendo a pretensa correlação histórica com a história francesa. É sacanagem pura, ao estilo do saudoso Carlos Zéfiro.
MARIO GONÇALVES_RESENDE/RJ
Degradante reduzir-se o setor dito de humor, sempre o grande ponto fraco da piauí, à pornografia e ao mau gosto. Wolinski é totalmente apelativo. Contratem algum cartunista inteligente, talentoso e capaz. Chega de baixaria e mau gosto.
STEIN NETO_VARRE-SAI/RJ
OUVINDO OS MORTOS
Ainda a respeito da reportagem feita por Clara Becker (“Ouvindo os mortos”, piauí_52, janeiro), exercendo a atividade de médico-legista há vinte anos, me surpreendi com a frieza manifestada pelos profissionais entrevistados e pela visível falta de postura ética. É lamentável ver profissionais exporem indevidamente e sem pudor questões que, a rigor, desvalorizam esta importantíssima e imprescindível atividade. Infelizmente essa reportagem, por mérito dos entrevistados, em nada contribuirá para que possamos ter, nos serviços médico-legais, melhores condições de trabalho. As declarações, na forma como foram transcritas, se verdadeiras, despertarão apenas curiosidade e contribuirão para que a sociedade continue a ver os “legistas” como seres de outro mundo, frios, descrentes. Os entrevistados empobreceram a medicina legal, bem maior e mais ampla que a visão simplista de quem, na verdade, talvez devesse ter em seu crachá a expressão “abutre-legista”.
FERNANDO EIRAS_CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM/ES