cartas_arquitetura e geografia
| Edição 34, Julho 2009
BISCOITO GLOBO
Impressionante como um simples pacote de biscoito de polvilho (“O impérigo globas da mandioca”, piauí_32, maio 2009) tem tanta história para contar. Raramente encontramos textos tão bons de assuntos tão simples! Quem depois de ler a matéria ficou com vontade de comer o biscoito? Acho que todos nós!
VANDERSON BELIGOLI_JUIZ DE FORA/MG
DIALETO CARIOCA
O ponto fraco da revista é ser escrita em dialeto carioca. A matéria “Água dura em garrafa mole” (piauí_33, junho 2009), por exemplo, não faz o menor sentido para nós bandeirantes. Em apertada síntese, discute-se ali o consumo de água mineral engarrafada versus água “de bica” (sic). Ora, precisei recorrer à sambista mais próxima para entender que se trata de água DE TORNEIRA. Para nós quatrocentões, “bica” é aquele lugar onde Anchieta saciava a sede em São Vicente – ou seja, a fonte de onde se colhe a água mineral da montanha. O próprio Houaiss, pelo menos na edição vendida em São Paulo, só por extensão e como regionalismo admite “bica” como sinônimo de torneira. Bem, para as próximas edições informo que “bombeiro” aqui onde a revista é mais vendida não designa o encarregado do conserto de bicas, digo, torneiras, mas o profissional que se utiliza da água que sai da epigrafada para apagar incêndios.
LUIZ ROBERTO DE ASSIS_SÃO PAULO/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Ôrra, meu! Por não sermos (ainda) quatrocentões, bebemos água da bica, de torneira, de riacho, de fonte, de bebedouro e até mesmo de garrafa. Sempre com dois pastel.
DUBAI
Como esse relato veio a calhar (“Rachaduras no paraíso”, piauí_33, junho 2009) em tempos de caminhos que nos levam até uma Índia e uma Dubai paradisíacas, em pleno horário nobre! Desde o filme Quem Quer Ser um Milionário? que teço comentários entre os amigos comparando as duas obras: a indiana e a brasileira. Por trás de uma superprodução como a Dubai turística há sempre a exploração e opressão de milhares de pessoas que acham que esse “mundo de luxo e dólares” pertence a eles também. Mas não nos enganemos achando que é apenas no Oriente que os direitos humanos são desrespeitados. Entre morros, favelas, asfaltos e shoppings centers brasileiros, muita opressão e desrespeito circula livremente. Isso aqui não é cinema nem novela.
ALEXANDRE GEISLER_SALVADOR/BA
MOZART
Vivemos num país estranho. Os presidentes do Senado, da Câmara e da República são, realmente, pessoas fora da realidade. Daí a importância de Mozart, aquele que precisa pensar para que os outros ganhem (“O sacristão da Câmara”, piauí_33, junho 2009). Ele se transforma no meu herói pessoal, algo como um Superman do Planalto, ou o Indiana Jones do Papel, pois, finalmente, alguém sabe para onde a coisa está indo, quem são os bandidos, quem são os mocinhos. É admirável que ele mantenha a boca fechada. Ele deve saber mais dessa montanha de crápulas do que os próprios. Parabéns a ele.
PAULO CESAR NOGUEIRA_ATIBAIA/SP
QUESTÃO DE GEOGRAFIA (FAJARDO)
O que é, o que é?
– fica ao sul do seu ex-eu;
– está no centro, a oeste do seu grande ego;
– 32 anos de distância de hoje desde que existe no papel;
– dez bois pra cada cabeça de gente, distribuídos em seu corpitcho;
– bigodes nos corações dos comandantes;
– não vai ser subsede da Copa, ho-ho-ho;
– é mais esquecido que o Piauí, o maiúsculo;
– adora rir da má vontade geográfica da imprensa nacional;
– seus 350 mil quilômetros quadrados foram ignorados na página 44 da edição 32.
O que é, o que é, meus queridos pinguins?
PAULA BUENO_DA CAPITAL DESSE LUGAR AÍ
NOTA DA REDAÇÃO: na matéria “ Fajardo, in memoriam” (piauí_32, maio 2009) é citada a cidade de Jales , “quase divisa entre São Paulo e Mato Grosso”. Como é sabido – menos por pinguins, que são ruins em geografia –, a cidade paulista de Jales fica a menos de 100 quilômetros da divisa com o Mato Grosso, aquele do Sul.
NORUEGA
Basta somente acordar na madrugada para perceber que o frio está cortando até os miolos. Meu quarto mais parece uma reprodução malquerida do deserto, em que o pó se transforma (horrivelmente) em areia, e existe aquele imenso N imaginário de “nada”. Per Petterson conseguiu de tal modo reproduzir por que gosto e odeio o inverno, assim como gosto e odeio o verão (“A busca, noite adentro”, piauí_32, maio 2009). Consegui sentir o cheiro das florestas, talvez até ouvir o alce mastigar lá na frente a poucos passos. O armário do quarto então virou uma árvore e, como árvore, quase caiu sobre mim (isso porque aliviei o peso dos cobertores que estavam na parte de cima, os quais toda a população de casa está usando). Me calo e procuro ouvir a solidão da floresta e ao mesmo tempo a solidão do deserto. O silêncio pode fazer barulho, e faz! Começa com aquele leve zumbido, dançante, ritmado. Logo mais, se torna um ato contínuo, inebriante. Depois de dois minutos percebo que é o ronco do meu irmão, no quarto ao lado. Então volto a mente novamente para o estudo do nada, já que nada é nada. Compreendo, porque curso arquitetura – para entender o nada (que deve ser uma parente próxima do vazio que, por sua vez, se parece com uma faca que corta a noite, fria).
FILIPE FARIA_SÃO PAULO/SP
DAPHNE MERKIN
Depois de me surpreender com os diários de João Carlos Carreira Alves (paiuí_8) e Kenneth Tynan (piauí_13 e 14), veio o de Daphne Merkin (“Diário do fundo do poço”, piauí_33, junho 2009) para ficar entre as minhas matérias preferidas de todas as edições. Me encantei com a fraqueza e a força, traduzidas em palavras, da mente da autora. Incrível perceber como alguém pode transitar entre tantas linhas tênues: desejo e desistência, sanidade e loucura, medo e indiferença. Assustador entender tão perfeitamente a cabeça de alguém que sofre da doença do século (e da moda).
EDUARDA CELINO_CAMPINA GRANDE/PB
BARBARA PINA
Tenho 43 anos e moro no Japão há dezenove anos. Periodicamente volto ao Brasil para visitar familiares e amigos. Ao ler o relato da Barbara (“Ter 18 anos na cidade grande”, piauí_32, maio 2009), vi a minha história de auxiliar de escritório de vinte anos atrás. Nada mudou, só a tecnologia. Força, Barbara.
NEI SCHIMADA_HAMAMATSU-SHI/JAPÃO
Delicioso ler o artigo dessa adorável garota de 1,48 metro, ou como ela mesma se descreve: “Eu sou baixa, gorda, negra (segundo o Censo eu sou parda), tenho cabelo crespo e nunca quis ser diferente.” Foi um elixir para a alma. E eu, que nem sabia onde ficava o Imirim, fui ver no mapa da cidade. Moro na zona sul, e a zona norte é a que menos conheço. “Como essa cidade é louca”, né Bárbara? Não conhecemos metade dela. Mas como você, eu a adoro também.
Barbara, desista das artes plásticas e vá ser escritora, menina, talento não lhe falta. Você é uma ótima observadora, tem uma sensibilidade ímpar para captar a essência das coisas mais simples e transformá-la em matéria escrita com um imenso impacto emocional. Vê-se também que você não está presa às amarras idiotizantes do politicamente correto. E sobretudo tem qualidades adicionais: um bom gosto musical e um ótimo senso estético. O título você já tem: “Casos do 967A”. Com certeza não serei eu seu único leitor.
Por fim, tome cuidado com os professores de geografia e história. Quase todos eles são da esquerda jurássica e raivosa. Odeiam as democracias ocidentais (são burguesas, sabe-se lá o que isso quer dizer) e amam de paixão o regime cubano e o seu ditador, o Coma Andante Fidel, que está no poder desde 1959 e é responsável pelo assassinato de mais de 100 mil pessoas. Sei que você é por demais inteligente para cair na armadilha deles, de odiar tudo o que é americano pela única razão de ser americano; mas não custa alertá-la.
OSVALDO P. CASTANHA_SÃO PAULO/SP
MARX + ENGELS + LÊNIN = SALA E DOIS QUARTOS
Deixa ver se eu entendi (piauí_32, maio 2009): quatro comunistas brigando pelo direito sobre uma propriedade privada?
DIOGO ASSUMPÇÃO REZENDE DE ALMEIDA_RIO DE JANEIRO/RJ
QUEBREI O PINGUIM
Uma pessoa que eu simplesmente amo, e que adora a revista de vocês, ganhou um pinguim da piauí. Acidentalmente, quebrei a bendita peça e por conta disso nosso namoro quase acabou. Gostaria de saber se existe a possibilidade de vocês me enviarem, até o Dia dos Namorados, um pinguim substituto.
WILSON SANTANA SOARES_CUBATÃO/SP
NOTA DA REDAÇÃO: lamento feito, pinguim-cupido entregue a tempo. Soldamos um caso de amor inquebrantável.
ARQUITETURA DO SENADO
Convido os leitores da revista piauí a me apoiarem no pedido para que esta revista lance um novo concurso de arquitetura: CONCURSO DE IDÉIAS PARA REUTILIZAÇÃO DA CÚPULA DO SENADO (vale-cafezinho cultural, choperia, pista de skate etc.).
Convocamos todos os arquitetos para participação neste importante concurso que pretende levar a população brasileira a repensar qual a utilidade do Senado. Não basta uma ampla Câmara de Deputados? A cúpula do Senado é um espaço de forte imagem cívica para o povo brasileiro e um ícone arquitetônico. Que nós arquitetos façamos desta ligação entre arquitetura e política uma oportunidade para nos articularmos politicamente. Arquitetos, façam suas propostas!
RENATO PIMENTA_LONDRES/REINO UNIDO
NOTA DA REDAÇÃO: Passagem aérea para a visita do local não está incluída.