piauí, um tesão novo, complexo
| Edição 122, Novembro 2016
PRÍNCIPE CAÍDO
Muito boa a reportagem sobre a Odebrecht, “A organização” (piauí_121, outubro). O depoimento de uma ex-funcionária sobre as propinas pagas pela empresa durante a década de 80 me chamou especial atenção: “Naquela época, não havia investigação nem preocupação com nada. Eles sabiam o que estavam fazendo, mas tratavam com grande naturalidade. Era como se a empresa apostasse na impunidade.”
Faço um único reparo: Valmir Prascidelli, deputado federal pelo PT de São Paulo, foi equivocadamente identificado como “Valdir”.
VINÍCIUS GALANTE_NOVO HORIZONTE/SP
NOTA DA REDAÇÃO: O leitor está correto. Na reportagem “A organização”, a grafia do nome do deputado federal é Valmir Prascidelli, e não “Valdir”, como publicamos.
“A organização”, de Malu Gaspar, deixa claras duas coisas: a razão pela qual falta dinheiro para tudo neste país – apesar da carga pantagruélica de impostos que pagamos –; e porque não temos como mudar isso, uma vez que quem deveria fiscalizar relações espúrias, como as narradas na reportagem, se beneficia dessas práticas.
DJALMA ROSA_SÃO SIMÃO/SP
Quanto mais alto o voo, maior o tombo.
JOSÉ ANÍBAL SILVA SANTOS_TEÓFILO OTONI/MG
RUÍNAS DA ESQUERDA
O texto de Ruy Fausto (“Reconstruir a esquerda”, piauí_121, outubro) começa de certa forma promissor. Logo, porém, descamba para uma arenga interminável e lamuriosa, na qual cabem críticas a todo tipo de esquerda, exceto a essa espécie de esquerda covarde da qual o autor pretende fazer parte. E eu me pergunto: a troco de que o professor pede arrego e projeta uma utopia pela metade, em que se permite ao Estado, à propriedade privada e ao capital continuarem a existir, desde que sejam “do bem”?
Em seu pastiche cabem réplicas (bem-vindas) ao ideário dos pensadores da nova/velha direita nacional, mas nem nesses momentos Fausto consegue provocar empatia no leitor. Cheguei mesmo a ser tomado por um sentimento de vergonha alheia quando li sua crítica à teoria marxista, iniciativa que ocupou um breve parágrafo – isso depois de ter dedicado quase uma página de mesmices a Olavo de Carvalho. Fica a dúvida sobre o objetivo do artigo: serviria ele para advogar a favor de uma sociedade semicapitalista sustentável? Ou o seu propósito era alfinetar desafetos do autor? Para não dizer que o artigo mereceria uma nota zero, temos a ótima arte de Roberto Negreiros, com a mãe-d’água Chaui cantando o naufrágio (merecido) da nau lulista: foi isso que me animou a ler o texto, assim que peguei a revista. Terminada a leitura, arrisco dizer que talvez fosse melhor oferecer o mesmo espaço para André Singer divagar sobre Roosevelt.
Reitero, de toda forma, meus votos de estima e consideração a todos dessa redação, em especial ao grandessíssimo e mui talentoso editor Olegário Ribamar. Que continue a marcar presença com o seu Herald pelos próximos cem anos e que este não venha a ter o mesmo fim do também divertido Jornal do Brasil.
DANIEL ARAÚJO_FLORIANÓPOLIS/SC
NOTA PERPLEXA DE OLEGÁRIO RIBAMAR: Leitor Daniel, perceba: pela redação do Jornal do Brasil passaram os esforçados: Alberto Dines, Carlos Castello Branco, Marcos Sá Corrêa, Zózimo e Elio Gaspari, dentre alguns outros. Já pela nossa militaram (e militam) Nonô (Olegário Ribamar), Sinhô (Olegário Ribamar Filho) e Sinhozinho (este que vos fala), glórias do jornalismo de coalizão. Diante de tamanha desproporção de talentos, como imaginar que The piauí Herald possa seguir o mesmo caminho do diário carioca?
O texto do sr. Ruy Fausto faz uma contundente análise da esquerda nacional, mas recai em erros que ele próprio critica, ao proferir coisas desse tipo: “Cada burguês ordinário é não só muito cioso dos seus privilégios, mas despreza os escravos – e tem um ódio particularmente violento em relação a qualquer tentativa de rebelião.”
Queria saber de onde ele tirou esses personagens sem rosto nem nome – “escravos”, “burgueses”. Se de alguma história em quadrinhos ou de algum filme, ou se recortou de texto próprio. De qualquer forma, o que está coerente e bem construído no artigo às vezes se torna, de repente, panfletário, em alguns casos beirando o fanatismo sem propósito.
Qual é a grande contribuição que uma frase como essa, sobre os “privilégios” e os “ódios” do “burguês ordinário”, traz para o tema em questão? Em que bases objetivas ela se apoia? Que tipo de discussão pode ser feita quando já se parte de um axioma político desse tipo? Ao argumentar assim, o autor se aproxima de Olavo de Carvalho, a quem critica – perdendo, portanto, a razão.
PEDRO DE SOUZA_RECIFE/PE
Uma leitora usou esta seção, na última edição da revista, para reclamar das cinco páginas dedicadas à reportagem sobre o deputado Jair Bolsonaro. O que dizer então das doze páginas – doze! – em que Ruy Fausto repete, pela enésima vez, que a esquerda é sempre boa, que a direita é sempre má e que a Lava Jato só existe porque a malvada burguesia branca brasileira tem ódio dos pobres? Por sua prolixidade, pela redundância e pela cara de pau em insistir em que ser de direita significa necessariamente ser fascista, ao mesmo tempo que teima que a esquerda ainda será capaz de nos levar ao paraíso, por tudo isso “Reconstruir a esquerda” merece o título de pior artigo que já li na revista piauí.
MARCELO BERTOLUCI_CURITIBA/PR
Aprecio muito a leitura da piauí a cada mês: sempre há algo de bom ou muito bom na revista. Em outubro estavam lá as primorosas e densas reflexões de Ruy Fausto sobre a esquerda, que deveriam ser lidas em nossas universidades. Rara autocrítica, que fará os seduzidos pela musa rouca Marilena Chaui rangerem os dentes. Ali se começa a apontar a saída para que possamos ter um bom partido de esquerda, com os pés no chão. Recomendo, entretanto, que o autor reveja suas conclusões de que a crise ambiental é consequência do capitalismo selvagem. Um triste equívoco, sem fundamento na realidade. Sou capaz de debater utopias, como o fim do capital, mas não posso deixar de reconhecer fatos: o ambiente global tem sofrido bem mais por causa do autoritarismo e
da ausência de democracia, práticas que a esquerda precisa exorcizar. O capitalismo tem muitas mazelas, mas o socialismo tem sido pior para o ambiente.
LUIZ A. HORTA NOGUEIRA_ITAJUBÁ/MG
CÉREBRO DESMEMORIADO
Sempre soube da complexidade da mente humana, tanto em termos físicos quanto psicológicos. Agora fico sabendo, ao ler a reportagem “Um cérebro sem lembranças” (piauí_121, outubro), que apenas recentemente um estudo de grandes proporções foi capaz de jogar luz sobre o funcionamento da memória. Fiquei surpreso com a disputa pelo destino dos restos cerebrais de HM, relatada na reportagem. Quanta soberba e orgulho por parte dos pesquisadores. Chego até a me questionar sobre o futuro desse tipo de pesquisa, ao considerar a parcialidade de seus autores e perceber o quanto a vaidade e o interesse pessoal podem ofuscar o espírito científico.
DIOGO PEIXOTO DA SILVA_ARAGUARI/MG
NADA ES PARA SIEMPRE
Parabéns pelo primoroso “Calculando Drummond” (piauí_121, outubro). Com seu texto, Lucas Ferraz prestou a devida homenagem a Manuel Graña Etcheverry, brilhante intelectual argentino, um dos maiores de sua geração. As duas personas que nele conviviam – o ensaísta lúcido e o talentoso poeta – possibilitaram-lhe escrever “La poética de Carlos Drummond de Andrade”, um dos mais ricos e minuciosos estudos já feitos sobre o processo de criação da poesia drummondiana – obra, infelizmente, ainda hoje inédita. Diferentemente de muitos acadêmicos, que se conformam em repetir o que já foi dito ou se prestam a perpetuar enganos, Manolo, como gostava de ser chamado, pensava com a própria cabeça, e usava-a para refletir sobre matérias que iam da matemática abstrata aos palavrões da língua espanhola (“las palabras malsonantes”, tema de outro grande ensaio que não chegou a concluir).
Escritor ilustre, destacava-se pelo bom humor com que fez mais leve o tempo que lhe foi dado viver. A uma senhora que certa vez o abordou, censurando versos do sogro Drummond (“era manhã de setembro/e/ela me beijava o membro”), Manolo observou que pior seria se fosse outubro. Morreu em maio de 2015, seis meses antes de completar 100 anos, na plenitude da lucidez e da produção intelectual. Nada es para siempre foram as suas últimas palavras.
Um pequeno reparo: na foto que ilustra a matéria, é dona Dolores que se vê entre o marido Drummond e o genro Manolo (e não Maria Julieta, com quem o argentino se casara em 1949).
EDMÍLSON CAMINHA_BRASÍLIA/DF
NOTA DA REDAÇÃO: O leitor está correto. A mulher do retrato é mesmo Dolores Dutra de Morais, e não sua filha, Maria Julieta Drummond de Andrade, como publicamos.
UM DELEITE PARA OS CATIVOS
Gostaria de registrar que a edição de outubro da piauí, em suas inéditas 88 páginas, abrigou matérias de elevado interesse, um deleite para seus leitores cativos. Começando pelo genro do Drummond, o poeta argentino Manuel Graña Etcheverry, totalmente ignorado pela crítica brasileira. Eis que Manolo dedicou uma década de trabalho à análise das rimas nos 38 mil versos da obra poética de Drummond, produzindo um volume de mais de 500 páginas que infelizmente não encontrou editor por aqui.
Em mais uma notável reportagem investigativa (“A organização”), Malu Gaspar vai fundo na análise da maior empreiteira do país. O professor Ruy Fausto, por sua vez, em “Reconstruir a esquerda”, faz um balanço do atual colapso da esquerda no Brasil e no mundo. Tenta também estabelecer novas diretrizes para o campo progressista, levando em conta as frustrações provocadas por governos que ficaram longe de atingir os objetivos humanitários e solidários sonhados por Karl Marx. Noutra matéria, de cunho científico, “Um cérebro sem lembranças”, ficamos sabendo da disputa pelo cérebro de Henry Molaison – HM para os neuropsicólogos –, dos avanços na pesquisa neurológica e das vaidades daqueles que se envolveram nessas notáveis descobertas.
A edição contou ainda com o mestre Tostão, entre o jaleco e a chuteira; com José Miguel Wisnik, que transformou a lição do velho golpe do paco em reflexões machadianas e lacanianas; e o cronista Joaquim Ferreira dos Santos, evocando os velhos tempos da redação do Jornal do Brasil. Isso tudo sem poder esquecer o aperitivo representado pelas esquinas, com tópicos sempre interessantes.
DIRCEU LUIZ NATAL_RIO DE JANEIRO/RJ
UM TESÃO NOVO, COMPLEXO
É verdade que às vezes este país chega a dar preguiça. Ou pior: um desânimo que beira o niilismo. Mas eis que descobri piauí, trazendo-me de novo um tesão pelas coisas. Aquele tipo de tesão que só existe na ironia. Tesão que só existe na elegância da lucidez e na leveza do humor. Uma proposta de visão de mundo. Uma visão de mundo rica em matizes, saborosa na complexidade da narrativa jornalística.
A piauí tem me trazido, mensalmente, um vislumbre de realização estética possível. Uma pitada de Guimarães Rosa com algo de Moacir Santos. O amargo de Graciliano Ramos conjugado com a ousadia de um Santos Dumont. A melancolia bela de Cartola em cada esquina. Devo dizer que essa assinatura foi a melhor que já fiz.
LUÍS GUSTAVO VELANI_SÃO PAULO/SP
NOTA IMODESTA DA REDAÇÃO: Já que você trouxe o tema do tesão à baila, devemos confessar que, de tão gostosos, somos proibidos em dezoito municípios brasileiros. Tampouco podemos negar que já fomos vítimas de autos de fé praticados por chefes de família preocupados com o despertar prematuro dos calores sensuais na prole inocente. Longe de nós censurá-los. Aqui mesmo na redação nenhum repórter deixa filho menor folhear a revista.
UMA POSSIBILIDADE MAIS ABRANGENTE
Fiquei surpreso ao ler algumas cartas de leitores criticando matérias a respeito desta ou daquela pessoa. Pois eu acho justamente que o melhor da revista sempre foi a pluralidade das pessoas retratadas nas reportagens e perfis, bem como a possibilidade de conhecer políticos e histórias de uma forma mais abrangente do que a de simples memes de internet.
DANIEL DUARTE BORGES CAIXETA_NOVA LIMA/MG
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