Qual a graça de um casamento a três sem sexo?
| Edição 116, Maio 2016
DEU ZIKA
Muito boa a reportagem de Bernardo Esteves (“A guerra dos cem anos”, piauí_115, abril), relato da luta histórica contra o “Odioso do Egito”. O triste é que essa parece ser uma guerra sem fim, pois o Aedes aegypti continua ganhando terreno. Não bastasse, ainda nos resta outra preocupação: os outros vírus transmitidos pelo mosquito que logo chegarão a nós. Triste história de saúde pública num país já assolado.
JOÃO DE MATTIA NETO_JOINVILLE/SC
Ótima matéria. Os insetos que vivem no que restou da Mata Atlântica estão em equilíbrio – mas o homem dizima a floresta e os mosquitos se tornam urbanos. E tome desmatamento.
LEONARDO NASCIMENTO_PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA/RJ
O FIM DA COSAC
Meus laços com a piauí se estreitam cada vez mais, talvez presos a um cordão umbilical. Na semana em que completei 20 anos, li “A via-crúcis de Charles” (piauí_115, abril). Tomado por um frenesi provocado pelo texto, me deparei com uma declaração de Cosac: “Dezenove dá um ar de juventude, não acha? Vinte soa velho.” Senti um calafrio. Seria sintoma de velhice? Se for, suplico: Não cortem meu cordão umbilical! O da Cosac já se foi.
PEDRO HENRIQUE SOUSA DOS SANTOS LOPES_GOIÂNIA/GO
NOTA DO DEPARTAMENTO DE OBSTETRÍCIA: Se depender de nós, soldaremos o teu cordão umbilical à revista. Embora não seja prática médica recomendada, o procedimento melhora bastante o nosso bônus de fim de ano, uma vez que somos remunerados por leitor retido.
Parabéns pelo perfil do Charles Cosac (é perfil, né?). Sempre se ouviam coisas sobre ele, principalmente sobre sua excentricidade. Mas a elite precisa de mais pessoas assim. A Cosac Naify deixou um legado importantíssimo nas bibliotecas do país, em especial no catálogo de design. Graças a ela o livro Elementos do Estilo Tipográfico, que já circulava mundo afora, chegou ao Brasil em 2005, numa tradução impecável. Fica aqui meu agradecimento a Charles Cosac. E, mais uma vez: pauta certeira, essa de vocês.
LUCIO BARBEIRO_CURITIBA/PR
DE PAI PRA FILHA
Vergonhoso o ministro Fux usar de seu prestígio para emplacar sua querida e inexperiente filha no cargo de desembargadora do TJRJ (Chegada, “Excelentíssima Fux”, piauí_115, abril). Como advogado, constato que o acesso a muitos tribunais infelizmente ocorre dessa forma: o currículo do candidato advindo do quinto constitucional torna-se secundário diante do compadrio político-judicial.
HELANO CID TIMBÓ_FORTALEZA/CE
Não temos Executivo, não existe Legislativo e, se depender dos Fux, o Judiciário vai derreter. Atrás daqueles papéis existem pessoas com necessidades, fragilidades, angústias. Tudo isso é desanimador.
DJALMA ROSA_SÃO SIMÃO/SP
CASAMENTO A TRÊS
Restou-me uma singela dúvida ao final do extenso texto (“Cenas de um casamento”, piauí_115, abril): o casamento das meninas é platônico? Sim, porque, tirando alguns beijos e abraços comemorativos, os três depoimentos são redundantes em uma série de tópicos – piano, tabagismo, sogras, budismo, Maricá, carestia, Eduardo Cunha (!), aulas de francês, dor de dente, física quântica… Mas sexo que é bom, nada.
Considerando que as identidades foram protegidas, um eventual pudor das moças não se justificaria. Ao longo da leitura, me lembrei de um texto que O Globo publicou algumas semanas atrás, muito menor que o da piauí, sobre outra relação poliamorosa – de duas moças e um rapaz. Pois bem, mesmo mais simplificado, e sem esconder/trocar nomes, em alguns aspectos abordava o sexo com graça e naturalidade. Espero que o pudor não tenha sido do editor da revista.
WANDERLEY RODRIGUES_RIO DE JANEIRO/RJ
NOTA PANGLOSSIANA DA REDAÇÃO: Pense assim, Wanderley: quando comparada ao cotidiano descrito no diário, de uma hora para a outra a tua vida ficou pra lá de animada. De resto, temos de admitir que sucumbimos ao departamento de censura da piauí, cujos cargos são todos ocupados pelos editores da seção Diário. Posam de jornalistas durante o dia, mas quando deixam o serviço vestem o hábito de carmelita e vão se congregar num convento em Santa Tereza. Ontem mesmo descobrimos que um deles é conhecido como madre Guiomar.
GÊNIO MALDITO
Excelente o comentário de Marcos Caetano (“A maldição da Holanda”, piauí_115, abril) sobre o futebol que a Holanda ensinou ao mundo depois de Cruyff – fez com que perdessem o brilho o passe longo, as faltas de Zico, os dribles de Garrincha. E, como ele escreve, será que Pelé seria Pelé? Se o futebol fosse só força e preenchimento dos espaços do campo? Cruyff foi craque, mas o futebol da Holanda tirou aquele brilho de nosso futebol! Hoje não teríamos aquela Seleção de 70 e 82.
FLÁVIO DE MAGALHÃES GOMES NASSER_GUAXUPÉ/MG
COINCIDÊNCIAS
Em relação à esquina “Coincidências” (piauí_115, abril), ressalte-se que em nenhum momento se aborda o cerne da questão: a quebra de sigilo do caseiro Francenildo foi um ato criminoso, praticado pelo Executivo em conivência com uma autarquia. A divulgação pela revista Época consistiu em novo ato criminoso. No caso da escuta que envolveu a presidente da República e o ex-presidente Lula, tratava-se de uma escuta legal e não houve vazamento, e sim suspensão de sigilo de toda a fase da investigação, tornando legítimo a qualquer cidadão e à imprensa o acesso às gravações. O diabo mora nos detalhes.
FERNANDO DE PINHO BARREIRA_SÃO PAULO/SP
CAPAS
Gosto muito da revista, mas sempre me questionei sobre as capas. Em geral a ilustração não tem relação com as reportagens. Até me lembro de um leitor enfurecido que reclamou que, na edição com o beijo entre o ilustríssimo presidente da Câmara Dudu Cunha e o então vice decorativo Michel Temer, não havia matéria sobre o PMDB (ele ameaçou nunca mais comprar a revista, meio traumatizado). Mas cheguei a uma teoria: a capa visa o futuro. Como as reportagens são de fôlego, vocês já imaginam o tema da próxima edição e antecipam a ilustração. A edição 114 mostrava o mosquito da dengue e o assunto foi tratado na 115. A 113 estampava uma imagem de Carnaval – seria uma mensagem subliminar para “O samba do prefeito”, na 114? E a mais emblemática: o beijo de Cunha e Temer apareceu na 112. O que estava na 113? “O xadrez do impeachment.” Logo, a presidente Dilma se despedindo na capa da 115 me cheira a uma baita reportagem sobre o momento político na 116. Seria isso? Ou vocês sorteiam tema e desenho, e pau na máquina?
PAULO TALARICO_OSASCO/SP
NOTA ASTUCIOSA DA REDAÇÃO: É por sorteio mesmo, mas como a tua teoria nos faz parecer inteligentes, passaremos a espalhá-la.
Já saquei a jogada da piauí! Vocês adoram torturar o público. Primeiro criam um personagem carismático, e em seguida o deixam inacessível aos reles mortais, não nos restando nada mais do que o desejo platônico. Foi assim com o idolatrado pinguim. Agora nos torturam com essa fofíssima Presidenta Decorativa (Capa, piauí_115, abril). Ah! (suspiro) Como eu queria esse casalzinho decorando minha geladeira.
BRUNO CALHEIRA DOS SANTOS_ITABUNA/BA
NOTA DA PRESIDENTA: Meu querido, a única coisa em comum entre mim e o pinguim é o fato de estarmos indo morar no gelo. Ele, na Antártica; eu, no Canadá, e nenhum de nós na tua geladeira.
CARTAS
Cara senhora Maria Emília Bender, peço-lhe a devida vênia para incorporar seu tão hilário quão ultrajante parecer sobre a minha controversa biografia, psicografada com afinco modernista por O. Andrade, na próxima edição da dita-cuja, por uma editora mais afinada com a revolucionária prosa dos tempos hodiernos. Entrementes, envio-lhe os protestos da minha subida estima e superior admiração, e mais as seguintes interjeições: Eia! Sus! Cutuba! Arlequinal!
Aproveito o ensejo para lhe contar que, num encontro fortuito que tive com meu colega Reinaldo Moraes, autor de Pornoporréia… Pornesperméia… Pornô-em-Pompéia… Ah, sei lá, porra. Enfim, nesse encontro, ocorrido numa sauna finlandesa em Barueri, o supracitado autor espermático prometeu comemorar sua carta de recusa ao “cartapácio em epígrafe” masturbando-se em sua homenagem na cadeira que foi de Machado de Assis, tão logo seja admitido naquela olímpica assembleia de moribundos. Ops, de imortais.
SERAFIM P.G._SÃO PAULO/SP
Bárbaras, inteligentes e engraçadas as cartas de recusa (“Se nos permite uma sugestão”, piauí_115, abril). A literatura, dita clássica, reflete aspectos históricos de seu tempo. O anacronismo da imposição literária cria oposição ao prazer da leitura. No mais, há obras e Obras, como há escritores e Escritores. Por outro lado, que clássico poderia sobreviver à agudez da crítica literária atual?
RODOLFO G. MORBIOLO_SOROCABA/SP
NOTA ESCANDALIZADA DA REDAÇÃO: Quem aprovou a publicação da primeira dessas cartas? Por sorte madre Guiomar desfaleceu na palavra Pornoporréia, pois, caso chegasse no trecho sobre a prática onanista, seria ataque cardíaco na certa. Convenhamos, há cartas e Cartas.
NÃO DEU ZIKA
A piauí_115 (abril) acertou na mosca ao brindar o leitor com uma ração eclética para todos os gostos, em doses certas. A chegada “Excelentíssima Fux” mostra como se comportam os donos do poder na manutenção de suas dinastias; as esquinas 100% políticas; o excepcional texto de Bernardo Esteves (“A guerra dos cem anos”) sobre a batalha dos mosquitos, revelando um pouco do trabalho fantástico e anônimo de pesquisadores que empenharam a vida na luta contra esse inimigo mutante; a frustração de um mecenas (“A via-crúcis de Charles”) que dilapidou o patrimônio em nome da cultura e da beleza; uma pincelada sobre a figura caricata, populista e perigosa de Trump (“A faísca do mal”); o perfil dessa figura fantástica de Edward Luttwak, muito bem delineada por Thomas Meaney (“O Maquiavel de Maryland”).
DIRCEU LUIZ NATAL_RIO DE JANEIRO/RJ
ANTES DE LOLITA
Lendo as cartas de Vladimir Nabokov (“Só a arte me interessa, mas amo você”, piauí_113, fevereiro), impossível não sentir certo alívio. As cartas de amor de um grande escritor são tão ridículas quanto as minhas.
CLÁUDIO KUPIDLOWSKY FERNANDES_BELO HORIZONTE/MG
PALATÁVEIS E DEGLUTÍVEIS
Sou daqueles que podem falar de cátedra sobre a piauí, pois a sigo desde o primeiro número. Conheço suas preferências, as mais ocultas, e, mesmo esquerdista, continuo batendo cartão. Primeiro, para ficar por dentro de como os enrustidos agem. piauí tenta se passar por imparcial, mas o máximo que consegue é ficar em cima do muro. No mais, é um escrachado reduto de direitistas empedernidos. Não que isso seja de todo ruim, pois nem todo direitista é um Olavo de Carvalho. Pode muito bem ser da geração oriunda dos donos do Unibanco, mais palatáveis e deglutíveis.
Leio e me divirto com essa tentativa de gravitar ora lá, ora cá. A seção Cartas é o termômetro disso, pois qualquer texto com tema pendendo para o social provoca uma grita. Nesse sentido, a última edição (piauí_115, abril) é um primor. Todas as Esquinas cutucam Dilma e Lula. A revista está impeachmizada e ponto final. Muitos, como eu, seguimos sem traumas. E, no meu caso, o faço sem me sentir torturado. Continuo, mas informo: nunca me enganaram. Assumo meu lado masoquista, pois ler ainda é o melhor negócio, assim como separar o joio do trigo. E assim continuamos nessa incestuosa relação que já dura 115 meses.
HENRIQUE PERAZZI DE AQUINO_BAURU/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Por enquanto só você descobriu, Henrique. Não espalhe. E aguarde para breve o livro Assim Agem os Enrustidos. O lançamento (anônimo, claro) acontecerá no alto de um muro na rua Maria Antonia, bem entre a USP e o Mackenzie.