Resposta ao missivista inflamado
| Edição 98, Novembro 2014
DILMA E O PODER
Lamento profundamente que a edição de outubro de piauí tenha atribuído a mim declarações e atitudes que não correspondem à realidade (“A afilhada rebelde”, piauí_97, outubro). A reportagem abusa de fontes anônimas, recorre a narrativas de segunda e terceira mãos, mas não cumpre a regra básica de conferir o que foi apurado. A assessoria do Instituto Lula não foi procurada para confirmar, retificar ou esclarecer o que foi publicado. Em vez de informar, piauí rebaixou-se a difundir o “disse me disse” de personagens ocultos. Não têm procedência os comentários sobre a presidenta Dilma Rousseff, atribuídos a mim, em supostas conversas com empresários, muito menos fora do país. Nos últimos quatro anos, não recebi em minha casa nem ofereci pizza a nenhum empresário. Entristece-me o fato de ver minha família mencionada nessa teia de futricas, sem ter a chance de repudiá-las antes da publicação. Reitero minha decepção pelo mau jornalismo praticado em uma revista com as ambições editoriais de piauí.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA_SÃO PAULO/SP
NOTA DA REDAÇÃO: As críticas à presidente Dilma Rousseff foram feitas pelo ex-presidente Lula num jantar na casa do presidente da Pirelli, Marco Tronchetti Provera, diante de todos os convidados presentes ao jantar, em março deste ano, em Milão. O ex-presidente convidou, sim, um empresário para comer pizza em sua casa em São Bernardo do Campo. Ali, o convidado ouviu críticas a Dilma proferidas pela mulher e pelos filhos do ex-presidente. Lula foi procurado pela revista para essa reportagem e preferiu não se pronunciar.
Muito esclarecedora a matéria “A afilhada rebelde”. As explicações dos motivos para tamanha mudança da opinião pública quanto ao trabalho da presidente entre o final de 2012 e os primeiros meses de 2013, mesmo que os índices sociais e econômicos do país estivessem mantidos, sanaram minhas suspeitas de que a tranquilidade nos altos escalões do governo federal havia acabado naquele tempo.
Lamentável é, no entanto, que o perfil da Dilma, avessa à política e implacável gestora do bem, seja considerado por alguns de menos valia ao Brasil da segunda década do século XXI do que o de um aventureiro gerado pelo antipetismo.
ERLON RABELO CORDEIRO_PETROLINA/PE
Daniela Pinheiro fez uma reportagem primorosa sobre a presidente Dilma Rousseff e suas vicissitudes no exercício do mandato presidencial. Dilma sempre encontrou resistência entre os fundamentalistas petistas, que nunca acolheram com simpatia a opção do Lula.
Como sua escolha partiu do dirigente máximo, cujo prestígio estava no auge, não houve contestação. Mas seu desconforto no cargo foi sentido logo no primeiro momento: teve de engolir um ministério que praticamente lhe foi imposto. No início teve um operador de mão cheia, o Palocci, que poderia transmitir a experiência bem-sucedida do primeiro governo Lula. Ao ser afastado, ele deixou um enorme vazio. Daí, talvez, as grandes dificuldades que a presidente passou a ter ao comandar todos os ministérios vitais com mão de ferro. Promoveu a faxina ética, viu seu prestígio subir junto à classe média, mas desagradou sua base aliada, assim como segmentos do seu próprio partido.
DIRCEU LUIZ NATAL_RIO DE JANEIRO/RJ
CRISE, PERO NO MUCHO
O texto de Graciela Mochkofsky (“O eterno naufrágio”, piauí_97, outubro) é extraordinário, comovente e preocupante. Extraordinário pelo estilo do texto, pelos detalhes; comovente pela história de Estela e Belén, lida quando já estava no meio da madrugada, com olhos cheios de lágrimas; e preocupante pelo que já se descortina tanto na Argentina quanto no Brasil.
Fiz um pequeno exercício e foi possível trocar todas as palavras de seu texto que tinham referência à Argentina por palavras da realidade brasileira. Funcionou quase que integralmente. Onde tinha peso, por real, Indec por IBGE, kirchnerismo por petismo, a mesma violência social, a mesma falta de perspectiva, os dois países riquíssimos… Que pena!
VIRGILIO DA SILVA ROCHA JR._RIO DE JANEIRO/RJ
FIM DO CAPITALISMO
Clara como a luz do sol a matéria de Wolfgang Streeck (“Como vai acabar o capitalismo?”, piauí_97, outubro). Tudo a ver com o tema de “Sapo de fora não chia”, na mesma edição. Só não entende quem não quer…
JOSÉ ANÍBAL SILVA SANTOS_ TEÓFILO OTONI/MG
TIA CHUS
Minha avó Josina, nascida e criada no interior de Minas no início do século passado, me disse uma vez que teve um irmão com problemas mentais. Pelo buraco da fechadura, ela o via preso num quarto sempre fechado, às vezes amarrado numa cama, e seus gritos assustavam a todos. Via também seu rosto ensanguentado, de tanto bater a cabeça nas paredes e seus pais (meus bisavós), simplesmente, não sabiam o que fazer.
A reportagem sobre a tia Chus (“Minha tia Chus”, piauí_97, outubro) me remeteu à história de minha avó e me fez pensar no sofrimento de toda a família dela. O texto segue a linha de outros já publicados pela revista: rico em detalhes, enriquecedor e comovente. Não pude conter uma lágrima. Parabéns à melhor revista do país
AGUINALDO DUTRA BRANDÃO_MANHUAÇU/MG
DIÁRIO DA DILMA
Encerradas as eleições, um pensamento me assombrou: mais quatro anos de Diário da Dilma ninguém merece. Peço encarecidamente: pensem em outra coisa.
SÉRGIO LÚCIO LÁZARI_SÃO CAETANO DO SUL/SP
NOTA DA PRESIDENTA: Candidato, ou melhor, querido leitor, vamos fazer um trato. Eu tenho que aguentar Mercadante, Temer, Bolsonaro e companhia por aqui. Peço encarecidamente: pense em outra coisa pra mim que eu penso em outra coisa pra você.
BARRIGA DE ALUGUEL
Por que nós, humanos, ainda consideramos tão importante passar nossos genes adiante? O que é que nos faz enxergar isso como valor a ponto de nos submetermos a procedimentos estranhos e invasivos, como é relatado no diário “Duas meninas” (piauí_96, setembro)? O que nos move a isso? Amor?
Destaco um momento do texto: depois da primeira experiência de alugar sua barriga, a indiana decide que não irá mais realizar o procedimento. Não se pergunta a razão disso. Será que a carga emocional e o envolvimento afetivo com as duas crianças foram tão grandes que ela crê não poder suportar uma nova separação? Por que essa alternativa é melhor do que a adoção? É mais fácil sentir amor pelos próprios genes do que por genes alheios?
Se essa é uma escolha tão natural, por que não vemos garotas de classe média e de classe alta se oferecendo para serem barrigas de aluguel nos países mais ricos? Coincidência? Me lembro do princípio kantiano de que um ser humano nunca deve ser usado como meio, mas sempre como fim. Talvez seja por isso que mulheres-barriga ainda me pareçam um absurdo.
GUSTAVO LAET GOMES)_BELO HORIZONTE/MG
TANTAS EMOÇÕES
Conheci a piauí apenas no mês de setembro. Já tinha ouvido falar da publicação e também já tinha descoberto, com grande prazer, o blog Questões Musicais. Todas as reportagens da revista são realmente excelentes, e algumas delas conseguiram me emocionar. Senti meus olhos mais úmidos enquanto lia a reportagem sobre o norueguês fascinado por Fernando Pessoa (Esquina, “Pessoa, uma paixão”, piauí_96, setembro) e, quando comecei a ler a história de Artur Avila (“Conversas antes da medalha”), essa umidade precipitou-se e acabou molhando um pouco a revista.
Minha esposa acha engraçado que essas histórias me façam chorar. Outro dia, uma biografia de Haroldo de Campos também surtiu o mesmo efeito sobre mim. Imaginei, então, o que teria sido de mim caso tivesse lido a reportagem sobre Cortázar (“Último telefonema para o cronópio”, piauí_95, agosto), um dos meus escritores preferidos. Talvez tenha sido bom ter perdido a edição de agosto. Também ri bastante com o Diário da Dilma e me diverti lendo as tirinhas Lose your selfie (piauí_96, setembro). Sentimentos e humores vários.
Algo que me impressionou bastante foi a qualidade da escrita dos jornalistas. Há muito não via uma imprensa brasileira tão bem informada e que expressasse tão bem seus pensamentos. Deu até vontade de escrever algum artigo e enviar para a Redação, para ver se poderia fazer parte desse seleto grupo. Mas quem sou eu? Um mero professor de idiomas, desejando avidamente mais uma edição de sua nova revista favorita.
IGOR BARCA_NATAL/RN
NOTA DA REDAÇÃO: Caro Igor, num rompante de sentimentalismo e irresponsabilidade, nosso diretor de Redação decidiu encaminhar a você um exemplar da edição de agosto. Assim, você poderá ler o texto de Reinaldo Moraes sobre Cortázar e se debulhar em lágrimas. Mas o lencinho você pede de presente a sua mulher, porque a crise está brava.
METACARTAS
A seção de Cartas da edição de outubro exibiu, digamos, uma polarização da visão acerca da própria seção. Sempre gostei das cartas por oferecerem uma contrapartida ao leitor; é claro que a revista ou o jornal devem ter maturidade para publicar as opiniões que lhes são desfavoráveis, é uma questão maior que o próprio conceito de certo e “errata”.
Quando li a carta criticando a ausência da discussão sobre a distribuição de renda na reportagem “O poderoso Delfim” (piauí_96, setembro), foi como se tivesse sido encaixada a última peça do quebra-cabeça do maravilhoso texto. Não percebi o trabalho como menor por isso, mas sim a importância da carta. Por outro lado, talvez seja hora mesmo de rever alguns aspectos, como sugere o “missivista inflamado” de outubro. Minha primeira proposta é de não citar mais figuras como o Diogo Mainardi como referência.
CELSO LUIZ DE SOUZA LELES_ITUMBIARA/GO
Confesso: não li a revista, apenas a seção Cartas. E foi o suficiente para ficar apavorado com o “missivista inflamado”, propondo o fim dessa seção – a única onde posso ter alguns alfarrábios publicados! Cartuns não sei desenhar, mas poemas – uma trova – sei fazer: Quer desistir da revista/fique quieto por aí/e peço que não insista:/deixe em paz minha piauí.
Por fim, a conta do meu descontentamento fica com o próprio “missivista inflamado”. A nota da Redação não poderia ser melhor, apenas torço para que tenha sido irônica. Será?
ADILSON ROBERTO GONÇALVES_CAMPINAS/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Caro Adilson, estamos todos comovidos. Sugerimos que tente um cartum da próxima vez.