ILUSTRAÇÃO: ANDRÉS SANDOVAL_2009
Ribeirão tem carência de automobilismo
Mas não de otimismo rosado
Maria Fernanda Ribeiro | Edição 37, Outubro 2009
Antes de se candidatar à vida pública em Ribeirão Preto, Dárcy Vera adotou uma Kombi rosa como veículo oficial de campanha. Quando empossada prefeita, em 1º de janeiro, usava um vestido rosa. No primeiro ato como mandatária, plantou uma peroba – rosa – na praça Sete de Setembro, uma das mais movimentadas da cidade. E chegando ao gabinete, encheu-o de peças (rosas, claro), para mostrar que ali reinava uma mulher. Ela diz que o rosa é a cor da sorte, que representa o amor universal e o amor pelo povo. “É uma cor que me alimenta. Faz parte de mim, como uma marca.”
No entanto, o mundo cor-de-rosa de Dárcy Vera tem se mostrado um tanto cinza. No último Desfile de 7 de Setembro, ao ver um exemplar raro de um Karmann Ghia vermelho, comentou com as autoridades presentes: “Imagine esse carro em rosa.” Quem conhecesse a prefeita na intimidade sabia que a frase, aparentemente simples, carregava duas frustrações: quanto à cor e, principalmente, quanto ao carro.
Dárcy Vera tem se empenhado em provar que a cidade de 563 mil habitantes, no interior de São Paulo, pode mostrar ao mundo que é mais do que uma simples Califórnia brasileira, como é conhecida, em função de sua prosperidade. Dárcy começou discreta, tentando transferir para Ribeirão o jogo de estreia de Ronaldo pelo Corinthians. Falou com o presidente do Santo André, time rival, que prometeu pensar no assunto (mas não pensou). Como o esforço se mostrou infrutífero, a prefeita maquiou a derrota com uma bravata: faria de Ribeirão Preto uma subsede da Copa de 2014, funcionando como centro de treinamento para as seleções estrangeiras (mas por enquanto não fez).
Ao perceber que no campo das promessas políticas nem o céu era limite, Dárcy Vera se aventurou em devaneios maiores. Declarou que mudaria a rota do trem-bala a ser construído entre Rio e São Paulo, para que o traçado passasse por Ribeirão. E, dizendo querer transformar sua cidade em uma referência mundial, resolveu levar para lá uma etapa da Fórmula Indy. O fato de não haver um autódromo vem a ser um mero detalhe – ruas e avenidas estão aí para isso. Ribeirão Preto seria a Mônaco caipira.
Dárcy se empenhou com esmero. Primeiro, conseguiu apoio do piloto Hélio Castroneves, o brasileiro que é destaque na categoria. Depois, foi a Indianápolis, onde ocorre a disputa mais tradicional, para convidar os organizadores a visitar sua cidade. Proclamou aos quatro ventos que Ribeirão Preto merecia – e ganharia – a competição, por ser a capital brasileira do etanol, combustível usado desde 2007 pelas equipes da categoria. O representante da Formula Indy no Brasil, Carlos Gancia, esteve na cidade. O presidente da divisão comercial, Terry Angstadt, também. O protocolo de intenções foi assinado e alguns ribeirão-pretanos acreditavam que teriam um circuito de rua.
E continuariam acreditando, não fosse a audácia do jornalista Téo José, especialista em corridas de carro, que postou em seu blog, no dia 24 de julho, que o Rio de Janeiro despontava como favorito a receber a disputa. Foram mais de 150 parágrafos e 78 comentários que descambaram em discussões e injúrias. Até a filha da prefeita entrou no bate-boca. “Estou torcendo para que a Fórmula Indy venha para Ribeirão. Será um grande acontecimento para a nossa cidade e com certeza um belo espetáculo para o Brasil. Além do clima agradável, a população é muito simpática”, disse.
Para anunciar que Ribeirão estava fora, Dárcy Vera não discursou. Preferiu colocar uma nota em seu blog com fundo cor-de-rosa: “É com pesar que digo isso, pois acredito no sucesso do evento no Brasil e sempre achei que não existe melhor palco para divulgação do etanol como Ribeirão Preto. Continuo na luta.” Enquanto a cidade lamenta a perda da Indy, a próxima investida já foi anunciada: o Campeonato Brasileiro de Stock Car. “Ribeirão tem uma carência de automobilismo”, diz a prefeita.
Se nada der certo, a Fórmula 1 – mesmo sem carro rosa – estará aí para isso.