CRÉDITO: CACO GALHARDO_2024
This ain’t Pinda
Inspirado em Beyoncé, montei num alazão e empunhei a bandeira de Pindamonhangaba
| Edição 212, Maio 2024
1º de abril_Tabata Amaral me mostrou Cowboy Carter, o novo disco da Beyoncé. Achei prafrentex! Queen B desconstrói, ressignifica e atualiza os símbolos mais conservadores dos Estados Unidos. É de cair os butiá dos bolsos! Resolvi fazer o mesmo por aqui. Peguei uma viola caipira e me transformei em Vaqueiro Geraldo. Montei num alazão, empunhei a bandeira de Pindamonhangaba e, a galope, cantei minha versão de Texas hold’em.
Vim de Pinda (woo)
Para o mundo (hey)
E sou vice da nação, ção, ção
Agro é pop
Agro é tudo
Mas é preciso ter um olhar acurado para a neoindustrialização, ção, ção
Eufórica, Libelu veio atrás numa charrete puxada por dois pôneis e berrou: Yodel-Ay-Ee-Oooo, Yodel-Ay-Ee-Oooo.
2 de abril_Nas minhas pesquisas sobre as interseções entre as culturas americana e brasileira descobri que chuchu em inglês é chayote.
3 de abril_Confesso que às vezes não acredito que ainda sou ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. É tanta coisa na cabeça que fico confuso. Essa postagem, por exemplo, fundiu minha cuca: “O #MDIC instala, nesta quarta (3/4), o grupo de trabalho que irá elaborar o Plano Clima Adaptação – Setorial Indústria, documento com soluções para minimizar os impactos das mudanças climáticas no setor industrial.” Não seria mais prudente inverter e minimizar os impactos do setor industrial nas mudanças climáticas? Olha, tô mais por fora que umbigo de vedete.
4 de abril_Para anunciar o aumento da produção automobilística, usei minha marca registrada: a palavra NEOINDUSTRIALIZAÇÃO. Eu adoro mostrar que sei escandir as sílabas toda vez que pronuncio essa palavra como um professor de cursinho pré-vestibular.
De tarde, recebi um áudio da Tabata. “Vaqueiro Geraldo, ‘neoindustrialização’ não dá. Não cabe num TikTok e tem o charme de um guichê do Detran.” Será?
6 de abril_Tô falando. Eu pressinto as coisas. Sou mesmo um hipster ao contrário. Mês passado, notei que a esquerda saiu de moda depois que aderi ao comunismo. Agora, foi só eu acertar a mão no Twitter que o negócio começa a degringolar…
7 de abril_Mais uma prova de que perdi o bonde da história: achei que o Santos seria campeão paulista.
8 de abril _Vim emprestar um pouco do meu carisma para Nísia Trindade, ministra da Saúde. Ela me convidou para a cerimônia de lançamento da nova plataforma de patentes médicas. Sugeri que a gente abrisse o evento cantando II most wanted. Deu supercerto o dueto da Beyoncé com a Miley Cyrus e a música fala de parceria, de amizade.
I’ll be your shotgun rider till the day I die /Smoke out the window, flyin’ down the 405.
Mas o tom da Nísia é muito alto para mim.
9 de abril_Assisti, ao vivo, à participação da camarada Gleisi Hoffmann no VII Seminário Teórico entre o Partido Comunista da China e o Partido dos Trabalhadores realizado em Pequim. Houve uma deliberação para definir como seria a transmissão. Venceu a ala do partido que defendeu a força revolucionária da qualidade de imagem. A transmissão, portanto, aconteceu no Instagram do camarada da comitiva que tinha o modelo mais recente de iPhone.
De tarde, na cerimônia de assinatura da Medida Provisória das Energias Renováveis e da Redução de Impactos Tarifários, me peguei pensando numa expressão para substituir a palavra NEOINDUSTRIALIZAÇÃO. É como dizem os mais jovens: Tabata alugou um triplex na minha cabeça.
10 de abril_Abertura do evento CANA SUMMIT às oito da matina! Hoje o dia promete. Vaqueiro Geraldo #VidaLokaModeOn. Se eu chamar urubu de meu louro antes do almoço, a culpa é da agenda. Ainda bem que o dia de hoje termina com a posse da nova diretoria da Associação Brasileira de Planos de Saúde. Se eu precisar de atendimento, alguém deve saber o que fazer. Venhamos e convenhamos, essa pessoa que faz minha agenda é do balacobaco.
11 de abril_Amanhã é dia de celebrar com o President’Lula o maior investimento automotivo da história do Brasil: 125 bi. Enquanto calçava meias com carrinhos coloridos, pensei que será a oportunidade ideal para testar alternativas à “NEOINDUSTRIALIZAÇÃO”. Mandei um WhatsApp pra Tabata: “Que tal economia?”
12 de abril_A Gleisi postou uma foto no Twitter (eu não consigo chamar aquilo de X) com a bandeira comunista na Muralha da China. E escreveu: “Sempre é um prazer visitar essa terra tão próspera, que nos últimos quarenta anos mostrou ao mundo um modelo de desenvolvimento com inclusão de seu povo!” Todos os meus instintos socializantes deram um nó. Seria um gesto revolucionário usar a rede do Elon Musk para elogiar a relação entre patrões e empregados na China e ainda envelopar tudo isso com uma bandeira comunista?
13 de abril_Passei o sábado dando entrevista para o PodK Liberados, o podcast do senador Jorge Kajuru. Fiquei abismado com a maneira como o senador abriu a entrevista. Disse que era “um talk show diferente de tudo o que você já viu até hoje na televisão brasileira, felizmente cada vez mais em rede mundial para o Brasil inteiro”. Tive uma epifania: é esse espírito vendedor que o President’Lula está buscando. Se o Kajuru consegue embalar um simples podcast desse jeito, imagina o que faria com o Minha Casa Minha Vida.
15 de abril_Minha reunião com o President’Lula e o CEO do Mercado Livre no Brasil serviu para lembrar que preciso comprar um novo filtro para a cafeteira lá de casa.
17 de abril_Aproveitei exatamente o momento que sou presidentão em exercício para receber a Tabata. Ela veio me visitar e gravamos um vídeo disruptivo em que elaboramos questões centrais para um assunto que está pululando nas mentes juvenis. Tive a oportunidade de dizer algumas palavras que chegarão ao coração do Brasil. “Davi, parabéns por ter vencido o BBB e por ter levado a questão da educação através da televisão.”
Já com as câmeras desligadas, Tabata me falou. “economia é legal, mas ainda não chegamos lá.”
18 de abril_É com muito orgulho que divulgo o lançamento do livro ABC dos coelhinhos, escrito e ilustrado pela multitalentosa Libelu. Mandei uma sugestão de texto: “ABC dos coelhinhos é um livro diferente de tudo o que você já viu até hoje na literatura brasileira, felizmente cada vez mais em rede mundial para o Brasil inteiro.” No fundo, fiquei feliz de ela não ter escolhido tucanos como personagens.
21 de abril_Enquanto Bolsonaro vai para Copacabana, o President’Lula vai para Cannes. Geraldo, com certeza, tem suas fontes em Cannes para saber disso com antecedência. Só espero que o diretor Oliver Stone tenha a delicadeza de me convidar para a sessão.
A primeira noite de autógrafos do livro da Libelu em São Paulo foi um termômetro para medir o meu prestígio com o pessoal da repartição. Estiveram presentes Simone Tebet, Tabata Amaral e Alexandre de Moraes. Ninguém do Comintern petista deu as caras. Eu já sabia! Vamos aos fatos: ninguém me apresenta para o Chico Buarque, ninguém me dá ingressos para a turnê de Caetano e Bethânia, ninguém me convidou pro aniversário do Mano Brown amanhã. Não sou bem-vindo ao clube.
Talvez seja um sinal para fazer como a Beyoncé. Está mais do que na hora de desconstruir, ressignificar e atualizar a esquerda brasileira.
22 de abril_Não esperava que o President’Lula dissesse em público que preciso ser mais ágil. Mais um balde de água fria. Se quisesse um vice lépido, não escalava um anestesista. Fiquei sem saber o que fazer. Na dúvida, comecei a ouvir os áudios de WhatsApp na velocidade dobrada. E comprei mais café.
23 de abril_Como sou um pintalegrete easy going, postei o Papa-léguas para amenizar essa coisa da agilidade. Pouca gente entendeu a mensagem oculta: o Papa-léguas sempre vence o Coiote Coió. Recado dado.
A mensagem surtiu efeito. Pro lançamento do ABC dos coelhinhos em Brasília, enviaram a Janja. Sinal de prestígio ou uma reviravolta? Veremos.
Por Renato Terra
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