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Toda ficção é memória

    A atriz Malu Rocha, nos anos 70: até que ponto ela foi contaminada pela loucura da mãe, que foi contaminada pela do pai abusador? E Malu não terá transmitido agora tudo isso para sua filha? CRÉDITO: THEREZA EUGÊNIA

questões de cinema e de dor II

Toda ficção é memória

Relatos da criação de Malu, um filme que, sem pretender, realizou um processo de cura

Pedro Freire | Edição 219, Dezembro 2024

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Uma das minhas primeiras memórias sensoriais é o cheiro de gasolina misturado ao do tecido do banco de uma Kombi velha. Era nesse banco que eu dormia durante as madrugadas em que viajava com meus pais pelo Brasil, em meio aos figurinos e cenários das peças que eles encenavam país afora. Durante a minha infância, os dois percorreram mais de cem cidades apresentando seus espetáculos.

A atriz Malu Rocha, minha mãe, me ensinou a gostar de teatro e admirar essa gente do teatro, que à tarde varre o palco e à noite está dialogando diretamente com Sófocles. Enquanto eu brincava na coxia com minha irmã, Isadora Ferrite, vinham do palco os sons abafados das vozes dos meus pais. Essas mesmas vozes brilhantes podiam se tornar, depois, berros insuportáveis. Na manhã seguinte, minha irmã e eu tínhamos que tomar muito cuidado para não fazer barulho e acordar mamãe, o que provocaria nela uma onda de mau humor intratável.

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Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz

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