despedida
Todos amávamos a Love Story
O adeus à boate em que Mike Tyson ameaçou morder um garçom
Xico Sá
Com uma mulher em cada ombro, Mike Tyson tenta acompanhar o ritmo do bate-estaca na pista de dança. O assédio dos fãs e o efeito gravitacional do uísque, porém, minam a linha de cintura do boxeador norte-americano. Ele ainda busca um ajuste nos passos trôpegos, mas não alcança a elegância desejada. Finge bom humor e, tomado por algum espírito de cavalheirismo, devolve as moças ao solo. O DJ sobe a vinheta esfuziante que indica presença ilustre no ambiente e, logo em seguida, anuncia que o ex-campeão dos pesos pesados se encontra na boate. A música techno volta aos habituais 100 decibéis e Tio João, o gerente, conduz o pugilista para a melhor mesa da “casa de todas as casas”, como apregoa o slogan do estabelecimento. São quatro da madrugada de uma quinta-feira, 10 de novembro de 2005, e aproximadamente 450 pessoas apenas começam a se divertir por lá.
Tudo podia acontecer na Love Story, inclusive você testemunhar o próprio Tyson, minutos depois, parodiando a si mesmo ao insinuar que morderia um garçom – em junho de 1997, o lutador arrancara com os dentes, num ringue de Las Vegas, um naco da orelha direita do adversário Evander Holyfield. Por sorte, naquela noite de 2005, o Ceará, meu amigo garçom, saiu ileso e recebeu gorjeta em dólar. A jornada, todavia, não foi suave para o visitante ilustre. Ao deixar a boate, ele seria detido por policiais militares e levado à delegacia. A bronca: na sua passagem por outro inferninho, o Bahamas, o craque do boxe se envolveu em confusão com um cinegrafista do SBT que o filmara em plena farra com as garotas de programa. O atleta não só agrediu o profissional como danificou a câmera e esmagou a fita com as imagens.
Xico Sá
É jornalista e escritor, autor de O Livro das Mulheres Extraordinárias (Três Estrelas), entre outros