Tribuna livre da opinião do leitor
| Edição 73, Outubro 2012
PETRÓLEO & PÓS-SAL
A jornalista Consuelo Dieguez encarou uma matéria árida e produziu um texto primoroso, “O petróleo depois da festa” (piauí_72, setembro), apresentando uma radiografia precisa do setor. A reportagem mostra perfeita visão crítica ao demonstrar que as ingerências políticas na nossa petrolífera, assim como no órgão regulador (ANP), resultaram em equívocos capitais. É uma autêntica salada de frutas de interesses conflitantes, prejudicando o desempenho da empresa que sempre foi um orgulho de todos os brasileiros e que, atualmente, ao apresentar resultados pífios em seus balanços, é motivo para enormes preocupações de seus investidores e a respeito de nosso futuro energético, pois o governo tem sido incompetente para transformar em sucesso a extração dessa enorme riqueza representada pelo pré-sal.
DIRCEU LUIZ NATAL_RIO DE JANEIRO/RJ
HOLOCAUSTO
Foi com emoção crescente que li “Nem vivos nem mortos”, parte do diário de Liwia Jaffe, na piauí_72, setembro. Mesmo sabendo pelo introito que ela está viva falei alto ao sabê-la segura, enfim, em Padborg no dia 10 de maio 1945: Ufa! Essa foi a palavra que me ocorreu para afastar, definitivamente, as sombrias palavras alemãs citadas por Noemi Jaffe no belo ensaio que encerra a matéria.
ARMANDO FREITAS FILHO_RIO DE JANEIRO/RJ
O diário de Liwia Jaffe é leitura indispensável: uma lição de vida, de coragem, de resistência diante da violência humana. Li e reli, estou custando a terminar de ler a revista. A coragem de mãe e filha publicando essas memórias é digna de todos os elogios e homenagens. Devia ser leitura fundamental em cursos de história, literatura, educação, estudos sociais, medicina. Como conseguiram sobreviver diante de tanta fome, tanto frio, tantos castigos e torturas físicas? Como seus torturadores conseguiam dormir depois de fazer tais atrocidades? Mais uma vez, a Igreja e seus representantes nada fizeram: lembram dos navios negreiros, abençoados pelo padre a bordo, que não via nem ouvia os porões?
Mais que em textos sobre política e história, a gente aprende sobre o ser humano lendo relatos como esse. Obrigada, Noemi Jaffe. De verdade. Continuo emocionada.
CYANA LEAHY_NITERÓI/RJ
LAGOSTA
Foi muito bom conhecer um pouco de David Foster Wallace (“Pense na lagosta”, piauí_72, setembro). Fiquei impressionado quando depois vi sua foto, por ele ser tão jovem. A figura que eu construí de um suposto Wallace tinha uns 80 anos, ou algo assim. Só me dei conta do contrário quando li o adjetivo morto na apresentação do autor. Um texto assim só pode vir de uma mente muitas décadas além de sua idade. E extremamente depressiva.
Entre uma contorção e outra das lagostas em água quente, minha mente foi entrando nos termos do texto. Pensei muito nas pessoas que agora estão presas na Rodovia dos Imigrantes no feriado da Independência, atrás das suas lagostas metafóricas. Dei um sorrisinho egoísta do tipo: “Eu estou aqui em casa lendo a piauí.” Aí lembrei que, por estar em casa, devia estar depressivo. De fato, fiquei uns instantes pensativo. Foi quando cheguei na parte de tentar adequar meu sistema moral ao fato de comer carne, enquanto, em algum lugar, alguém matava lagostas metafóricas em água fervente para mim. Sim, isso só se sustenta por egoísmo. Pensei no Fulgêncio Batista, da reportagem sobre Cuba (“O comandante ianque”, piauí_72, setembro), vindo e cortando meus bagos, os amassando e colocando na minha boca, como descreve a revista, só porque egoisticamente isso satisfaz suas demandas sádicas. Mesmo assim, abri meu congelador cheio de carne e pensei em como é bom tê-las ali, gostosas e suculentas à espera.
VICTOR JOSÉ DE SOUZA TEODORO_SÃO PAULO/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Victor, o que você tomou no feriado?
Confesso que levei um susto ao folhear a piauí de setembro e me deparar com o artigo escrito pelo americano David Foster Wallace. Ele é genial, detalhista, para ficar em poucos adjetivos. Wallace se suicidou em 2008 deixando milhares de admiradores. Talvez milhões, não sei. Eu, inclusive.
E que surpresa agradável foi sair da banca passando os olhos na nova edição e ficar “seco” pra ler o artigo assim que chegasse em casa. Pouco importava o teor do artigo, uma vez que Wallace escreve sobre tudo, magistralmente. Aí veio uma nova e rápida pergunta interior: “Tá em inglês? Não, lógico que não!”. Que idiotice, pensei. “Então como será a tradução? O cara é um monstro escrevendo.” Mais uma besteira de minha parte. Absolutamente espetacular o trabalho de tradução do Daniel Galera e do Daniel Pellizzari.
Tenho certeza de que não sou o único a ler os artigos da piauí e de repente me ver nervoso, torcendo para que ainda tenha páginas e mais páginas – mesmo que ache belíssimo o ponto final da estrela alvinegra.
A piauí acerta sempre na mosca… ou na lagosta.
ROBY PORTO_RIO DE JANEIRO/RJ
Comecei a ler a piauí apresentada pelo meu genro nas poucas visitas que faço ao casal em São Paulo até ganhar deles uma assinatura de presente, que estou lendo com gosto.
Adorei o artigo “Pense na lagosta”, de David Foster Wallace. Principalmente a parte que fala de ser turista na realidade. Depois de algumas experiências em locais badalados de turismo e vivenciando os transtornos inerentes à atividade, criei uma palavra para identificar, a meu modo, como é fazer turismo: para mim é simplesmente fazer TORTURISMO.
SÉRGIO MARCHIÓ_MINEIROS/GO
PRÁTICAS ANIMAIS
É interessante que na mesma edição de piauí coexistam o relato de uma sobrevivente do Holocausto (“Nem vivos nem mortos”, piauí_72, setembro) e a especulação, por parte de David F. Wallace (“Pense na lagosta”, piauí_72, setembro), de que gerações futuras um dia considerarão nossas atuais práticas alimentares e de agronegócio tão repulsivas quanto crueldades perpetradas em campos de concentração.
Faz pensar.
ERIKA MATTOS DA VEIGA_SÃO PAULO/SP
PIAUÍ_72
Terminei a leitura da revista deste mês e estou sinceramente acreditando que é a melhor edição de toda a história da revista. As matérias estão impactantes, comoventes, intensas. Fiquei muito emocionada em diversas páginas, encantada em outras, revoltada em algumas, melancólica em uma e tocada toda vez que via um desenho do The Bogus Book of Botany. Perfeito.
EVELINE MARIA_RIO DE JANEIRO/RJ
GATINHA
Belo texto para Pretinha e Boghici em “Uma gata que não gostava de leite” (piauí_72, setembro). Há tempos lendo a revista, causou-me estranhamento a não assinatura da despedida da página 86. Podem informar quem é o autor?
FLÁVIA ROCHA_BELO HORIZONTE/MG
NOTA DA REDAÇÃO: Flávia, só podemos dizer que ele tem olhos azuis e é um gato. Um gato tímido.
ÁGUA DE BEBER
A Esquina “Cremosa como um brie” (piauí_72, setembro) me causou enorme espanto. O sommelier de águas conhece pouco sobre a legislação da água tratada no Brasil. E se esqueceu de que cada vez que pisa em um restaurante está de fato consumindo a água de torneira. Toda a comida dos restaurantes é preparada com essa água, assim como o gelo das bebidas, o café e muitas vezes os sucos. A forma grotesca como se referiu à água da Sabesp vai na contramão de tudo o que é defendido por nossa ONG: que devemos, sim, cuidar e cobrar das empresas de abastecimento uma boa qualidade da água de torneira, mas acima de tudo devemos valorizá-la e dar preferência ao seu consumo sempre que possível.
LETYCIA JANOT, DIRETORA DA ONG IGTIBA_SÃO PAULO/SP
MEMÓRIA AFETIVA
Vejam como as histórias vão desvendando enredos. Esse texto de Daniela Pinheiro (Esquina, “Das vestes talares”, piauí_72, setembro) trouxe recordações meio apagadas de minha memória. Meu pai, Joaquim José de Oliveira Neto, era médico e tocava o cinema aqui de São João – hoje o local é novamente o que tinha sido, o Theatro Municipal.
Ele possuía uma biblioteca formidável e podia ser chamado de literato, sem dúvida. Antonio Candido, seu grande amigo, lembra-se muito dele. Porém, o que gostava mesmo era de lecionar – tinha nascido para ser professor. Pois bem, antes de morrer, ele pediu ao parente e colega Wolgran que me transmitisse seu último pedido: ser enterrado com a beca da faculdade. E assim foi feito.
IOLANDA G. DE OLIVEIRA AZEVEDO_SÃO JOÃO DA BOA VISTA/SP
REALIDADE OU FICÇÃO?
A motivação inicial foi um texto da Fernanda Torres, meses atrás, na Folha. Apaixonado por ela, resolvi que poderia me interessar pela piauí também. Navegante de primeira viagem, passei a devorar a edição 72 de piauí, linearmente, do começo ao fim, deliciando-me com tudo, uma surpresa a cada página virada. Aí cheguei à página 78 – “Os anjos por dentro”, de Dulce Maria Cardoso – com o título da seção: ficção! Então o que vinha antes não era ficção? Desacorçoado, voltei à leitura, para tentar entender melhor essa divisão. Ainda não consegui.
ADILSON ROBERTO GONÇALVES_LORENA/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Adilson, também não entendemos sua dúvida. Um a um.
DIVERSIDADE
Li “As visões violentas de Žižek” (piauí_71, agosto) por diversas razões que não cabe relacionar. Pelo que percebi, o indivíduo é tratado pela mídia como um pensador moderno quando não passa de um facínora. A leitura, portanto, serviu para me lembrar da diversidade humana, onde existe de tudo, até homens que pensam como Slavoj Žižek.
PAULO VOGEL_PETRÓPOLIS/RJ
Foi com um grande sentimento de frustração que terminei de ler o texto sobre Žižek. Lembrei-me do rabino que dizia que o maior e mais imperdoável dos roubos não consta de nenhum Código Penal: o roubo do tempo, pois ele nunca pode ser recuperado por quem o teve roubado. Oito colunas e meia de um texto denso e difícil de captar, para, apenas na última frase, o autor confirmar o que se vinha delineando e percebendo, mas cuja conclusão ele habilmente escamoteou por todo o percurso: Žižek é incoerente, intelectualmente desonesto e, certamente, saiu da casinha. Por pretender ares de ensaio, este texto é simplesmente dispensável.
PAULO VIANNA DA SILVA_FLORIANÓPOLIS/SC
NOTA DA REDAÇÃO: Paulo, sua carta é simplesmente indispensável.
MENSALÃO MINEIRO
Gostaria de esclarecer alguns pontos sobre a reportagem a respeito do deputado federal Eduardo Azeredo (PSDB-MG), publicada na piauí (“A conexão mineira”, piauí_71, agosto).
1) Quanto ao “recibo” de 4,5 milhões com a falsificação da assinatura do deputado, não é correta a informação de que “duas perícias haviam concluído que se tratava de um documento autêntico”. Na verdade, inicialmente não houve perícia deste “recibo”, justamente, por se tratar de uma cópia, cujo original nunca apareceu. Também por este motivo (ser uma cópia sem o original), o documento foi recusado como prova pelas investigações da Procuradoria Geral da República e da Polícia Federal.
Mais tarde, quando o ministro Joaquim Barbosa utilizou este “recibo” como se prova fosse para acusar Eduardo Azeredo, duas perícias foram feitas: uma, pelo perito Mauro Ricart, atestou a falsidade do documento; e outra, realizada pelo Instituto de Criminalística da PF, foi inconclusiva, não reconhecendo a autenticidade e entendendo ser de possível falsificação.
Eduardo Azeredo reafirma que nunca assinou tal documento e, muito menos, recebeu a quantia ali colocada. Trata-se de mais um embuste produzido e entregue à PF por um senhor que, até pouco tempo atrás, estava preso em Belo Horizonte, justamente, por falsificação de documentos.
2) Não houve greve de professores durante a gestão de Azeredo no governo de Minas. Também não houve uma privatização em massa. Apenas dois bancos comerciais foram privatizados, dentro de programa de saneamento que atingiu instituições financeiras em todos os estados.
3) Obviamente, não nos cabe discutir a linha editorial da piauí, publicação que sempre respeitamos. Entretanto, é possível crer que a volta às questões da campanha de 1998 seja uma “compensação” à cobertura da mídia em geral sobre o julgamento do chamado “mensalão”, iniciado ao mesmo tempo em que a revista chegou às bancas.
ISABELLA TAVARES, ASSESSORA DE IMPRENSA DO DEPUTADO EDUARDO AZEREDO (PSDB-MG)_BRASÍLIA/DF
NOTA DA REDAÇÃO: Vamos por pontos:
1) A assessora tem razão. As perícias no recibo são posteriores à sua inclusão nos autos do processo criminal pelo ministro Joaquim Barbosa e não concluíram por sua autenticidade.
2) A greve ocorrida na gestão de Azeredo foi de policiais, e não de professores e policiais, como afirmou a reportagem. Em relação às privatizações, em seu governo foram vendidos o Bemge, o Credireal e parte da Cemig. Quando o tucano deixou o cargo, depois de perder a reeleição, estavam em curso ainda as vendas da Copasa e do BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais).
3) O raciocínio sugere que o jornalismo deve estar ou está subordinado a interesses político-partidários. Não é assim que a banda toca por aqui. piauí já tratou do mensalão petista algumas vezes, em reportagens extensas, como a missivista deve saber. Estranho é imaginar que um caso com os ingredientes do valerioduto tucano, de óbvio interesse público e noticioso, deva permanecer na sombra, protegido e à margem da curiosidade jornalística.