Um engenheiro conta o carbono do antropólogo
| Edição 89, Fevereiro 2014
ANTROPÓLOGO, CRONISTA, MÉDICO
Sou engenheiro, e como tal sempre tive uma perspectiva prática da vida profissional, em que o valor das coisas – criadas, projetadas, comercializadas – pode ser visto ou sentido por qualquer um. Basta pensar que a engenharia está na sua comida, na água que você bebe, no texto que você escreve, nos meios de transporte que você utiliza. Ao mesmo tempo, tenho enorme atração por coisas não relacionadas a esse ponto de vista prático, e é com genuíno interesse que leio matérias como “O antropólogo contra o Estado” (piauí_88, janeiro).
Acho interessantíssimas a trajetória e as ideias do protagonista do artigo [Eduardo Viveiros de Castro], e o respeito enormemente. Entretanto, me causa certa irritação essa conversa político-ambientalista teórica, sem uma contrapartida prática, e vinda de alguém que não necessariamente vive o que apregoa. Explico: nosso antropólogo mora em Botafogo e passa os fins de semana em outra propriedade em Petrópolis. Quantos metros quadrados mantém à disposição exclusiva sua e da esposa? Alcançou projeção na profissão devido ao sucesso de suas ideias no exterior, ideias que certamente soltaram muito carbono na atmosfera para chegarem onde estão.
É fácil (e extremamente egoísta) pensar numa política anticrescimento econômico quando já se cresceu e seu pão está garantido. Em 1978, foram dois candidatos para duas vagas de professor-assistente no Museu Nacional. Hoje, quantas pessoas não almejam um cargo semelhante? Garanto que não são duas. Existem vagas para todos? Acho que não. As crianças nascidas hoje não deveriam ter o direito de um dia estudar, trabalhar, se promover – em qualquer lugar do país ou do mundo? Quantos barris de petróleo teremos de gastar para que uma porção irrisória dessas crianças possa chegar a um nível
de prosperidade e realização semelhante ao que o nosso antropólogo obteve na vida? Temos 200 milhões de pessoas neste país, em um processo irreversível de acesso à informação – um processo que gera novas expectativas e anseios. Crescimento significa atender às expectativas dessa massa e o grande desafio será, sim, como fazê-lo sem destruir o meio ambiente. Se a antropologia me define como índio ou branco, isso pouco ajudará nessa tarefa.
ANDRE RECH_RIO DE JANEIRO/RJ
O perfil do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro traçado pelo jornalista Rafael Cariello mostra uma figura controversa, muito influenciada pelas ideias de seu guru maior Claude Lévi-Strauss, com um viés fundamentalista e um toque de maluco-beleza, fruto talvez de suas experiências com drogas na fase de formação. O texto nos revela um personagem fascinante, que atira contra tudo e contra todos, tendo a coragem de apoiar os black blocs, o que nos leva a concluir que seu anarquismo é anacrônico e suas propostas estão deslocadas no tempo e totalmente descoladas da nossa realidade.
DIRCEU LUIZ NATAL_RIO DE JANEIRO/RJ
Confesso, na minha abissal ignorância, que nunca ouvira falar do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro. Achei-o possuidor de uma visão bem diferente dos pontos de vista, digamos, habituais. Confesso que estranhei a defesa, não enfática, diga-se, mas, de qualquer forma, uma defesa dos black blocs. Mas é apenas uma reles observação. Discordo profundamente, porém é um direito que ele tem.
Além disso, na edição de janeiro vocês “ressuscitaram” um dos meus cronistas prediletos, o Paulo Mendes Campos (“Lições de boemia”, piauí_88). As lições de bem viver que PMC nos deixou são absurdamente geniais. Por fim, nesta época em que a medicina é tão atacada e tão mercantilizada, é um alívio observar que existem profissionais como o doutor Reginaldo Boni, que nos oferece diversos exemplos de correção, dedicação e competência profissional (“A morte e a vida”, piauí_88). Se eu já era favorável à doação de órgãos, ele, com suas ações, cimentou ainda mais minhas convicções.
ANTÔNIO CARLOS DA FONSECA NETO_SALVADOR/BA
DE PORRE
O espírito etílico permeou mesmo a piauí_88 (janeiro). Nas “Lições de boemia”, Elvia Bezerra foi magistral ao rememorar Paulo Mendes Campos, fazendo-me lembrar de que também estudo o álcool, mas o combustível de motores, e que este me dá inspiração literária bem aquém daquela conseguida pelo Paulo.
Na sequência, veio a tentativa de cura de “A ressaca”, trazida por Kingsley Amis, ou seria do porre do tradutor do texto? Pode ser que alguém tenha lido “barata” na Metamorfose de Kafka, mas ela nunca foi ali escrita. Uma ressaca para quase fugir do suicídio, mas cuja cura fica completa apenas com a água de coco da capa, refrescante, hidratante, porém broxante.
ADILSON ROBERTO GONÇALVES_LORENA/SP
NOTA DA REDAÇÃO: A man-sized cockroach, escreve o Amis. É barata mesmo, e das grandes, um baratão. Releve. Amis não era entomólogo, apenas um grande escritor que cultivava o hábito de jamais escrever uma linha sem antes calibrar o espírito. Você que toma água de coco não sabe, mas depois do terceiro uísque todos os insetos atendem pelo nome de barata.
NOVOS YUPPIES
Carta de São Francisco versus #caindonareal. A matéria de Nathan Heller sobre o mundo dos empreendedores do Vale do Silício americano (“Sorriso de monge, carteira de yuppie”, piauí_88, janeiro) não poderia contrastar mais com a realidade brasileira. Imagine se o Kyle Kirchhoff resolvesse trazer seus ônibus europeus com assentos de couro e wi-fi, fazendo por exemplo a linha Morumbi–Berrini–Faria Lima–Oscar Freire. Em vez de elogios e apoio de investidores, em menos de uma semana ele teria o próprio couro arrancado para forrar uma das poltronas, e todos os veículos seriam incendiados ou apreendidos.
CARLOS CYPAS_SÃO CARLOS/SP
O PROFETA CHÁVEZ
Excelente texto de Carol Pires (“El Libro Azul”, piauí_88, janeiro). Só faltou uma pérola na forma de epitáfio. Para quem cultuava os heróis mencionados na “árvore de três raízes”, e para quem o destemor, a ousadia e a coragem de Simón Bolívar eram um símbolo sempre presente, as últimas palavras de Hugo Chávez antes de morrer não fizeram jus à sua retórica em vida. Ele disse: “Não me deixem morrer.” Nada heroico. Faltou um bom publicitário para mudar essas últimas palavras. Algo como: “Morro, mas viverei para sempre com os venezuelanos” ou “Não temo a morte, pois fiz de minha vida a eternidade da luta bolivariana.” Crie a sua…
JOSÉ LUIZ TEJON MEGIDO_SÃO PAULO/SP
NOTA DO DEPARTAMENTO DE PROMOÇÕES FÚNEBRES: Quem estiver mais inspirado ganha uma assinatura da revista. Cartas para ultimosuspiro@revistapiaui.com.br.
O texto de Carol Pires cita O Livro Azul, de Chávez, O Livro Vermelho, de Mao, e O Livro Verde, de Kadafi. O problema é que falha pecaminosamente ao não citar o excelente O Grande Livro Vermelho de Monty Python, que é, óbvio, azul.
THIAGO MEISTER CARNEIRO_GUARAPUAVA/PR
MÍDIA NINJA
A matéria “Olho da rua” (piauí_87, dezembro), do jornalista Bruno Torturra, foi um relato honesto e comovente da atuação da mídia ninja nas manifestações de junho pelo país. Deu para sentir o clima daquele momento histórico, acrescido de muitos detalhes que os meios de comunicação hegemônicos não informaram.
ERIVAN AUGUSTO SANTANA_TEIXEIRA DE FREITAS/BA
NOTA (PESAROSA) DA REDAÇÃO: E nós aqui convencidos de que já podíamos nos considerar meio de comunicação hegemônico.
CARGO NO SENADO
Li na piauí_87 (dezembro) a Despedida “Visão do paraíso”, com o depoimento de Evanise Santos, ex-mulher de José Dirceu. Ela conta que logo após a separação soube que a nova companheira de Dirceu, Simone Patrícia (que nome de- novela mexicana!), “havia sido contratada com salário de 12 800 reais, horário flexível [ou seja, sem precisar comparecer], para um cargo de confiança no Senado”. Em seguida Simone Patrícia, com a filha pequena de ambos, viajou com seu mecenas para um resort de luxo no Nordeste.
O presidente do Senado, o solidário Renan Calheiros, deve ter atendido ao pedido de emprego feito pelo parceiro, claro. Mas é bom lembrar que o mesmo Renan teve que renunciar ao cargo, poucos anos atrás, por ter colocado a manutenção de sua amante e da filha dos dois na conta de uma empreiteira, num escândalo bem brasileiro, que teve como grave consequência uma capa da Playboy. Se houve todo aquele alvoroço pelo fato de a conta da moça do Renan ser paga por uma empreiteira, por que nenhuma palavra quando a conta da moça do Dirceu é enviada ao Tesouro Nacional? Confesso que abri a edição seguinte da revista e fui direto à seção de cartas, esperando encontrar vários leitores indignados comentando o assunto. Nada. Parece que já estamos acostumados a notícias desse tipo.
CARLOS VIANA_FLORIANÓPOLIS/SC
MENSALÃO
Achei extremamente desnecessária a reportagem feita com Miruna, filha do José Genoino (Chegada, “Temporada no inferno”, piauí_87, dezembro). Assim como Miruna, várias filhas têm pais presidiários. A diferença? Poucas têm o afago de um ex-presidente e de um dos maiores partidos da América. Ah, pouquíssimos são visitados por caravanas de senadores, deputados e políticos que quase sempre fecham os olhos para as péssimas condições carcerárias de nosso país.
THALES BARROS_BAURU/SP
Absolutamente edificantes as matérias de abertura e fecho da piauí_87 com informações preciosas sobre os momentos que permearam uma das maiores violações ao direito republicano – a condenação de José Genoino e José Dirceu, que se consideram presos políticos, mártires de uma causa maior. Aguardo a recuperação de outros injustiçados na mesma ação, como contrapeso à mídia burguesa que não admite a classe operária no paraíso ou no poder.
SEBASTIÃO MAURÍCIO DUARTE PESSOA_RIO DE JANEIRO/RJ
NOTA (PERPLEXA) DA REDAÇÃO: Quer dizer então que não somos nem hegemônicos e nem burgueses?
QUIZ
Puxa, achei bem interessante vocês incluírem um passatempo cultural na piauí_87 (dezembro). E sem qualquer aumento de preço! Será que uma joint venture com a Ediouro vem por aí? O fato é que, depois de tentar identificar as quinze caricaturas do Loredano (Putin e Dilma excelentes…), fui às páginas finais da revista procurar um eventual boxe com as respostas de cabeça para baixo, mas não achei nada.
Na dúvida quanto às suas intenções a respeito, peço respeitosamente que me informem quem é a senhora da página 48 (Hillary, Nélida, Hortência?), o senhor de borboleta na página 74 (parece o Datena ou o Reagan moço, mas sei que não é), e, principalmente, quem é o estranho atleta da página 10. Se possível, sem as previsíveis gracinhas. Acertei doze de quinze, 80%, mas prometo que vou melhorar.
WANDERLEY RODRIGUES_RIO DE JANEIRO/RJ
NOTA DA REDAÇÃO: Sem gracinha previsível, a gente não sabe responder.
MATEMÁTICO
Fiz circular na família e entre amigos o artigo “Senhor dos anéis” (piauí_87, dezembro). A seção de cartas repercute a importância do tema. Ninguém ficou indiferente. Fico feliz que um artigo sobre matemática tenha gerado tanta repercussão.
RAMIRO GONÇALEZ_CURITIBA/PR
PROBLEMA DE TAMANHO
Sempre gostei muito da piauí e sempre que dava comprava um exemplar. Até que resolvi assinar a revista, do que não me arrependo. Contudo, tenho dificuldade em lê-la, por dois motivos.
Algumas reportagens são intermináveis, fato que as torna desinteressantes. Algumas são quase um livro! A revista em si é muito grande, não sendo possível carregá-la dentro de uma bolsa. Com isso fica difícil ler a piauí em um ônibus ou numa fila. Daí a junção matérias intermináveis + revista enorme = deixa pra lá, um dia eu termino. Já não seria tempo de repensar esse formato?
ANNE MITTMANN_NITERÓI/RJ
ULTIMATOS À REDAÇÃO
Eu sou assinante da revista desde o dia, lá por volta de 2008, em que um vendedor me ofereceu um exemplar em um aeroporto da capital paulista. Foi uma paixão avassaladora que tem perdurado ao longo desses anos. Literatura, história, cinema, fatos políticos bem narrados. Sempre fui um fã da seção de cartas, com toda a irreverência dos leitores e suas sacadas, sempre seguidas por sátiras bem boladas da redação.
Agora estou com medo que o patrulhamento ideológico e a chatice atinjam o último órgão ainda tolerável da imprensa brasileira. Acabei de receber meu exemplar de janeiro e a seção Cartas está tão enfadonha. Por favor, vocês conseguiriam fazer algo melhor, povo! Gente reclamando dos anunciantes, dos textos, da entrega, da formação matemática da nação, fazendo fuinha. O que aconteceu com os leitores e a redação? Façam-me o favor. Eu leio piauí para relaxar e descontrair, se for começar a ser um desfile de chatos (como eu) eu cancelo a minha assinatura. Fevereiro, programação normal, please.
ALESSANDRO DE CARVALHO SOUZA_RIO DO SUL/SC
NOTA DA REDAÇÃO: Ah, não Alessandro! Então os leitores é que ficam chatos e nós é que pagamos o pato? Pesquisas indicam que continuamos extremamente relaxantes e que descontraímos mais do que roda de samba em ofurô.
Desculpem a insistência nesse assunto, mas estava lendo umas edições antigas quando encontrei uma “nota do editor” publicada na seção Cartas, em janeiro de 2010, que explicava o porquê de não assinarem os textos da seção Esquina. Tal nota dizia que era “justamente para não saciar a curiosidade do leitor. E reforçar a fruição da leitura pelo texto, e não pela assinatura”.
Se vocês explicaram para todos por que Esquina não deve ter assinatura (e bem antes disso ser um problema), faço a proposta: se pararem de assinar, volto a assinar a revista.
No mais, tudo bem. Só esse calor, né?
TIAGO CARPES_PORTO ALEGRE/RS
NOTA DA REDAÇÃO: Nem diga. Se você cancelar a assinatura, não teremos dinheiro sequer para o ar-condicionado.
NÃO É PARA BRINCADEIRA II
Gostaria apenas de engrossar o coro da leitora Jacqueline Farid na seção de cartas da piauí_88: a distribuição feita pela Abril anda de mal a pior. No ano passado, me mudei para Porto Alegre e fiquei três meses sem receber meus exemplares! Reclamei com a Abril e sabe o que fizeram? Deram-me mais três meses de assinatura! Eu não queria saber de revistas do futuro, queria minhas revistas daquele mês. E, agora, apesar de chegarem, sempre chegam depois do dia 15. Não me importo porque a piauí é atemporal, clássica, nada efêmera. Mas que não é para brincadeira, não é.
IURI BAPTISTA_PORTO ALEGRE/RS