cartas_gotlib é funcionário-fantasma do BB
| Edição 27, Dezembro 2008
A BUSCA DE UM PAI
Fantástica a reportagem sobre David Goldman (“Um pai em terra estrangeira”, piauí_26, novembro). Ela captou o horror da situação. Uma pena que o Ministério Público Federal ainda não tenha se mostrado competente o bastante no caso. Ele costuma ser menos sujeito a essas pressões locais. Espero que o senhor Goldman encontre outras formas de fazer o Brasil respeitar seus compromissos.
RENATO BIGLIAZZI_BRASÍLIA/DF
O caso de David Goldman é de cortar o coração, terrível. Como mãe, sua história me tocou profundamente. Eu tinha assistido ao noticiário do Today Show, em setembro último, sobre o caso, e desde então acompanho o seu desenrolar. Brasileiros de todo o país deveriam ser informados do assunto.
SUZANNE WOLF_KINDRED/DAKOTA DO NORTE, ESTADOS UNIDOS
O assunto me chamou a atenção como pai e como advogado. Primeiro porque, embora admitindo que a questão está sob segredo de justiça, nem o entrevistado, o pai, nem a jornalista parecem dar importância a isso. Além disso, várias são as afirmações categóricas quanto a pontos que, na verdade, estão sujeitos a uma futura decisão judicial brasileira. A revista afirma, por exemplo, que Bruna, a mãe do menino, violou o Tratado de Haia. Diz ainda que ela deveria ter devolvido o menor ao estado de Nova Jersey, onde, aí sim, poderia litigar à vontade. Chama a atenção a afirmação de que nem o tribunal daquele estado, nem a imprensa americana, nem o pai podem ser enquadrados no sigilo determinado pelo juiz brasileiro, coisa que soa, como se diz no jargão periodístico, como matéria plantada. Há, ainda, um relato pormenorizado, na verdade uma confissão, de todas as manobras envolvendo políticos e diplomatas americanos, bem como a imprensa e redes de televisão dos Estados Unidos, para descaradamente pressionar o Judiciário brasileiro! Se alguém no Brasil praticasse uma fração de tais manobras, certamente estaria respondendo por seus atos perante um juiz.
MARCO ANTONIO D’UTRA VAZ_SÃO PAULO/SP
NOTA DA REDAÇÃO: qualquer reclamação quanto à natureza pública que a Justiça americana deu ao caso, por favor dirija-se a ela. É possível fazê-lo, inclusive, em segredo.
Lamento o texto da jornalista, que não quis saber do drama da família Lins e Silva, que ainda está de luto pela perda de Bruna, e com a responsabilidade enorme de um menino de menos de 10 anos e de sua irmã de 2 meses, ambos órfãos de mãe, tragicamente falecida e, ainda, como se não bastasse, tendo de ouvir em silêncio – por determinação do segredo de justiça – absurdos como essa reportagem a qual ignorou a ordem judicial de segredo. A piauí não deveria abrigar jornalismo do tipo chamado de “imprensa marrom”, que depõe contra o conteúdo da revista. Me abstenho de dar os nomes por questões éticas, mas indaguem, de diversos diretores desta revista, quem somos nós. Aliás, por falar em ética, a matéria passou longe do conteúdo dessa expressão.
PAULO LINS E SILVA_RIO DE JANEIRO/RJ
E a criança, o que ela diz? Com quem quer ficar? Se a história fosse inversa, sabemos que a criança jamais voltaria dos Estados Unidos para o Brasil…
MARIANA CRONEMBERGER_RIO DE JANEIRO/RJ
NOTA DA REDAÇÃO: Eis um caso de situação inversa: em 13 de dezembro de 2005. O Tribunal Superior de Nova Jersey (Divisão de Justiça – Vara de Família – Comarca de Bergen, sentença número FD-02-511-06) ordenou o imediato retorno ao Brasil de três menores que haviam sido ilegalmente removidos para os Estados Unidos pelo pai, Khaled Damra. A sentença baseou-se na Convenção de Haia quanto ao Rapto Internacional de Crianças.
A parcialidade do texto já é definida no título, o Brasil é a terra estrangeira, dentro da revista piauí. Como amiga pessoal de Bruna Bianchi, e tendo acompanhado o desenrolar dos fatos nos últimos anos, digo, categoricamente: a história não é essa.
LAURA MALIN_RIO DE JANEIRO/RJ
(… silêncio…)
RAPHAEL MONTEIRO DE OLIVEIRA_SÃO PAULO/SP
SUCESSO NO BANHEIRO
Como assíduo leitor da revista desde a primeira edição, fiquei orgulhoso com a reportagem “Mapa da incontinência” (piauí_26, novembro). Há pouco mais de cinco meses tive a mesma idéia, só que faço um relato dos banheiros que conheço realizando o número dois, operação um tanto mais dramática, dada as condições em que nós, homens, encontramos sempre esses recintos. Dessa idéia e da óbvia facilidade que tenho de utilizar qualquer sanitário quando a natureza chama, nasceu o simpático jacagueiaqui.blogspot.com, onde conto as minhas aventuras em busca da latrina perfeita. Somente mesmo uma revista gabaritada como a piauí para fazer uma reportagem de tamanha utilidade pública. Não é à toa que é sucesso até no banheiro lá de casa.
SIDNEY LUZIO_SANTOS/SP
DIÁRIO HOSPITALAR
Acabei de ler o desolador e desesperançado artigo da escritora inglesa Hilary Mantel (“Abscessos, aderências, perfurações: nunca me senti tão só”, piauí_26, novembro). Comparei-o com a recente experiência que eu e meus irmãos tivemos com a doença e morte de nossa mãe, no interior do Rio. Por 46 dias, nos revezamos no hospital para nunca deixar minha mãe só, direito que parece ter sido negado a um doente num país como a Inglaterra, onde já se devia ter em conta a necessidade de humanização do trabalho hospitalar, que inclui a presença do “cuidador”, figura cada vez mais importante no tratamento médico. Nós, cuidadores dos doentes, nos ajudávamos mutuamente, tornamo-nos amigos em solidariedade, ajudávamos os enfermeiros nos trabalhos em que nos era permitido interferir, como higiene e alimentação, e eles todo o tempo nos eram agradecidos, e nós igualmente a eles, por tornar nosso calvário menos íngreme. Médicos, enfermeiros, copeiros, auxiliares de limpeza partilharam da nossa alegria com os fiapos de esperança, entristecendo-se quando as estratégias para sua recuperação não resultaram como esperávamos. Isso, numa cidade do interior de um país emergente como o Brasil, no qual os cidadãos sempre dizem não acreditar, mas que surpreende quando menos se espera. Por isso, só tenho a lamentar que a escritora Hilary Mantel viva num lugar tão atrasado, de gente tão ressequida, que sequer consegue reconhecer o sofrimento alheio, mesmo na sua forma mais elementar.
ANA FLÁVIA L. M. GERHARDT_VOLTA REDONDA/RJ
Interessante a semelhança entre Inglaterra e Brasil ao se tratar de um hospital público. Semelhante também a posição psicológica da autora e de pacientes brasileiros em relação aos profissionais da saúde. É uma questão humana. Como médico, não nego a existência de descaso amiúde. Entretanto, o outro lado, isto é, o psicológico dos profissionais de saúde, é negligenciado pela autora e a maioria dos doentes e familiares. Pacientes e familiares são egocêntricos, querem toda a atenção para sua doença, querem resposta e solução para tudo, de preferência de um jeito rápido e indolor. Médicos, enfermeiros e afins não têm culpa da doença das pessoas. E são pessoas comuns, com problemas e conflitos, altos e baixos. Por que manter o sorriso sempre só para ser simpático com o doente e seus familiares? Resolvi escrever esta pequena nota mais como um desabafo. Eu estava no consultório, entre uma e outra consulta, lendo piauí, gente com múltiplas queixas… e uma autora perturbada para me importunar ainda mais!
CEZAR GONÇALVES_SÃO PAULO/SP
TERRA DE ARARIBÓIA
Sem querer desmerecer os nascidos em Niterói, informo que não sou niteroiense, mas um carioca que, como muitos outros, escolheu essa aprazível cidade para morar. Outrossim, esclareço que o “w” que antecede meu sobrenome quer dizer Dabliú (com acento no “u” e não no “a”, como foi grafado). Ambas as formas são pertinentes, mas, por motivos que desconheço, prefiro a que tem o acento na última sílaba.
DABLIÚ SURTAN_NITERÓI/RJ
DEIXA O HOMEM TRABALHAR!
Pô, um povo assim descolado para arrumar Norman Mailer, entre outros, tem que dar um jeito no chatonildo do Gotlib!
BRUNO BRASIL_RIO DE JANEIRO/RJ
As páginas de piauí sempre são temperadas com uma dose ideal de sarcasmo, ironia, acidez e outras formas de humor corrosivo. Esta é uma das maiores qualidades do periódico. Surpreende, portanto, que o humor acre da revista esteja ausente justamente das páginas de humor. Refiro-me especialmente à seção The piauí Herald (piauí_25, outubro 2008), recheada dos pastelões mais clichês da história recente da humanidade!
E o mesmo se aplica aos quadrinhos com Hamlet.
LUIZ AUGUSTO CAMPOS_RIO DE JANEIRO/RJ
Depois de ver, revista após revista, carta atrás de carta, nosso caro Gotlib ser escorraçado, difamado e desprezado, não poderia deixar de vir em sua defesa: seus quadrinhos são de altíssimo nível, seu humor é fino e irônico! Se, e somente se, os inteligentes vêem a roupagem do rei, somente estes também vêem a genialidade das histórias de nosso caro quadrinista da terra do croissant. Ele já nos deixou clássicos como a releitura anarco-shakespeariana-marxista-piauiense de Hamlet, de Alexandre Dumas e até do Patinho Feio! Deixem o homem trabalhar!
GUILHERME DEARO_SÃO PAULO/SP
Li no site do Globo – e como sempre li muito rápido e confundi as coisas – que o Banco do Brasil estava comprando a piauí. Ledo engano: na verdade tenta comprar sim, o Banco do Piauí. É que havia visto o anúncio do BB na página 5 do último número e juntei as coisas… falha nossa. Talvez o Gotlib continue aí por ser apadrinhado do Banco do Brasil, vai se saber. Tem que haver uma justificativa… nepotismo, talvez. A história de Adam Sun é comovente (“Acabou a gargalhada”, piauí_26, novembro 2008), triste e bela. Por falar em checador, esperei que saísse uma errata a respeito da informação que deram na edição 22: que a Sala de Leitura do Museu Britânico, com seus 40 quilômetros de prateleiras, tinha somente 25 mil volumes. É pouco livro para muita quilometragem, não acham?
LUIS CARLOS HERINGER_MANHUMIRIM/MG
NOTA DA REDAÇÃO: Gotlib é funcionário-fantasma do Banco do Brasil, casa bancária tradicional que, de fato, foi comprada no mês passado pela piauí. O erro da quilometragem já está corrigido na versão eletrônica e imortal da revista.
DEITA A VASSOURA, GARI
O diário de Vânia Maria Coelho (piauí_25, outubro 2008) nos chamou a atenção pelo fato de mostrar que uma pessoa comum, com profissão pouco reconhecida, pode superar obstáculos da vida sem abrir mão do bom humor, da vaidade e de seus sonhos.
ANDRESSA, JANAINA, JULIANA E MARIA ELOÍSA, ALUNAS DO 3º ANO DO COLÉGIO ESTADUAL BRANCA DA MOTA FERNANDES_MARINGÁ/PR
FRANCENILDO
A impecável reportagem “O caseiro” (piauí_25, outubro 2008) me deixou indignada, perplexa e firmemente convencida de que a Ideli Salvatti é mesmo uma coisa horrorosa (não esqueci dos outros, é que ela me causa espanto especial). Francenildo foi largado à sua própria sorte. Serviu aos interesses momentâneos da oposição ao governo Lula, foi aviltado pelos defensores desse mesmo governo e agora… agora, o azar é dele. Essa história me fez escrever para alguns senadores para perguntar: não há nada a fazer para reparar uma situação de extrema injustiça da qual ele foi vítima? Ninguém pode ajudá-lo ao menos a conseguir um emprego?
MARIA CRISTINA L. PEIXOTO_BELO HORIZONTE/MG
VOLTA, CHANTECLER!
Assinei a revista há um ano, na esperança do retorno do indiscutível herdeiro de Omar Cardoso e de Zora Yonara, o insuperável Chantecler. Renovei a assinatura por mais dois anos agora porque fiquei sabendo que esse homem, de saber esotérico hiperbólico, nasceu em Phaic Tan, belo país que pretendo conhecer nas minhas próximas férias. E, além disso, produziu o melhor disco do ano na música popular brasileira, quiçá da América Latina, o revigorante Só Entre Nós da revelação musical do ano, Roberto Justus. Por tudo isso e mais um pouco, volta Chantecler!
CÂNDIDO O. DA ROSA E SILVA_PORTO ALEGRE/RS
SELEÇÃO ARTIFICIAL
A distopia basal de Carlos Diegues (piauí_26, novembro 2008) ilustra bem o aforismo da “imagem clara sobre conceito impreciso”. Essa baboseira pseudocientífica irrelevante, sem inspiração e previsível não deveria estar nas páginas da piauí.
JUAN GUTIERREZ_CURITIBA/PR
LUTA DE CLASSES
O artigo de Walter Michaels (“Contra a diversidade”, piauí_26, novembro 2008) acerta ao lembrar que a desigualdade de renda ainda é o principal problema da modernidade. Mas surpreende que o autor insista na tese equivocada de que o capitalismo “prefere” os mais eficientes. Se fosse assim, negras e lésbicas não estariam sub-representadas na elite do mercado de trabalho. Se o capitalismo “abstrato” prefere os que produzem com maior eficiência, o capitalismo real parece ser bem diferente. Além disso, não se deve esquecer que os programas de ação afirmativa para negros e mulheres, ainda que não busquem atacar frontalmente a desigualdade de renda, não necessariamente a aumentam.
LUIZ AUGUSTO CAMPOS_RIO DE JANEIRO/RJ
DAVID FOSTER WALLACE
A morte de David Foster Wallace pareceu mais abstrata porque não validada pela imprensa brasileira. Seu discurso publicado na piauí_25 (“A liberdade de ver os outros”, outubro 2008) foi necessário para mostrar que alguém no Brasil se importou. Que alguém mais se importou, porque eu também me importei. Nunca escrevi a revista alguma, mas fica aqui o humilde apoio. Se, até agora, achava apenas excelente a existência da revista, agora a acho necessária.
CÍCERO P. CASTRO_BRASÍLIA/DF
GRAFITE
Tenho 11 anos. Todo mês nas aulas de língua portuguesa o professor lê alguns artigos da piauí. No mês de novembro ele falou sobre o rato capitalista. Achei superlegais os desenhos de Banksy (piauí_26, novembro). Amei a intenção com a qual ele faz o grafite, e por ele mostrar o que os políticos do mundo inteiro escondem debaixo dos panos.
LARISSA HELOIZA MACHADO MUCHIUTI, ALUNA DO CENTRO EDUCACIONAL SESI 240_SÃO PAULO/SP