Um poeminha para o Bóson, que ele merece
| Edição 76, Janeiro 2013
BARBA ENSOPADA DE SANGUE
Foi com bastante decepção que li o artigo “A hora e a vez do homem sem nome” (piauí_74, novembro), sobre o livro Barba Ensopada de Sangue, de Daniel Galera, que, em vez de trazer uma leitura crítica da obra, perde metade do espaço simplesmente narrando a história do livro – e, pior ainda, revelando fatos decisivos próximos ao fim da trama. Não fosse a narrativa de fôlego de Galera, com uma riqueza de detalhes que não espanta, e sim cativa o leitor, o estrago que a matéria teria feito seria maior. O texto ainda sofre de dois flagrantes exemplos de descompasso com a atualidade. No primeiro deles, mais sério, atribui a falta de “interesse por política” ao perfil do “jovem intelectual cosmopolita”. Ora, e a recente movimentação justamente desse público, nas redes sociais e nas ruas, não foi o que determinou a derrota do candidato a prefeito de São Paulo Celso Russomanno, e a vitória de Fernando Haddad? Em outro momento, a linha editorial da revista Trip é comparada à “subcultura: o culto da natureza, a alimentação saudável, a cerveja e a maconha, o alto astral juvenil, a vida ao ar livre, o visual descolado e um misticismo difuso, de índole orientalista e new age”… Resta saber há quantos anos o autor da matéria não compra um exemplar da publicação citada – e se ele realmente estava falando da Trip, e não de alguma outra.
JULIO IBELLI_Santos/SP
Cara, o livro do Galera não é tão assim epifânico, não. Pensei assim, o cara que está traduzindo Proust pirou no livro, então é porque a parada deve ser tenebrosa mesmo. Brochei. Jesus, quem escreve “caminhonete Rural”, quando só Rural dá conta? Mas, enfim, ele é novo, aprende. Se for para continuar a linha de resenhas da Companhia das Letras, pelo menos manda um dos nervosos do catálogo, que isso não falta. A capa emborrachada ficou muito da hora e me deu mais prazer que o conteúdo. No fim, fica a lição: não compre um livro pela capa, ou pela resenha. Nem que seja feita pelo Proust em pessoa.
JOÃO LUÍS LIMA E SILVA_Marabá/PA
Adoro a piauí, por isso faço questão de comentar isso. Não censuro, porque acho que é inerente ao modelo de negócios. Mas percebi que Daniel Galera (“A hora e a vez do homem sem nome”, piauí_74, novembro) é curiosamente tema de matéria e também anúncio na revista. Cuidado para não se perderem, achei a matéria um saco e o livro egocentrista escrito por um autor ordinário.
IURI BAPTISTA_São Paulo/SP
Queria parabenizar Mario Sergio Conti, que escreveu uma das resenhas, se assim posso chamá-la, mais apaixonadas que já vi. Fiquei tão empolgado que comprei o livro logo depois. Bem, só posso agora exprimir minha surpresa ao constatar que Mario Sergio Conti é enfim um grande fã de U2. Sem querer desmerecer o livro, mas sua resenha é Even Better Than The Real Thing. Achei o livro distante, tratando de um assunto não familiar ao autor. Os diálogos são realmente o ponto forte do livro. Mas, assim que os diálogos cessam, o narrador entra num afã descritivo, como que tentando mostrar à força ao leitor o quão sublimes são as coisas. Só que a sublimidade é arredia e o leitor tem que chegar lá sozinho, ou ela foge. Daniel Galera é um bom escritor, e talvez isso seja o resultado de uma escrita fracionada aqui e ali, entre um trabalho e outro, que os escritores brasileiros têm que fazer se querem viver minimamente bem. Apesar dos pesares, acho que é mais saudável para a literatura nacional que a Companhia das Letras invista pesado na promoção desse carinha, que ainda tem muito a mostrar, do que nos familiares best-sellers dos últimos tempos.
LUÍS CARLOS DE MORAES_São Paulo/SP
SÃO FRANCISCO
A reportagem de Paula Scarpin (“Era uma vez a transposição”, piauí_75, dezembro) a respeito do rio São Francisco permite ao leitor uma visão ampla desse audacioso projeto, cujos primórdios remontam ao tempo do Império, para resolver os problemas crônicos ocasionados pelas secas no Nordeste brasileiro. Há trechos da obra totalmente abandonados e com sinais de deterioração, decorrência da falta de um comando mais efetivo e do péssimo planejamento do conjunto. O projeto serviu para beneficiar empreiteiras e promover políticos em todas as esferas, assim como a Transamazônica uma vez serviu para a propaganda do governo militar. Agora, sua continuidade dependerá de recursos cada vez mais escassos, já que a presidente mostra-se mais interessada em novos projetos megalomaníacos, como o trem-bala, para nova alegria das empreiteiras a fim de concretizar esse nosso sonho (pesadelo) de país do Primeiro Mundo.
DIRCEU LUIZ NATAL_Rio de Janeiro/RJ
MÃE DA MISÉRIA
A expertise de Ricardo Paes de Barros (“O liberal contra a miséria”, piauí_74, novembro) não é compreender a miséria brasileira. Mas levantar números sobre ela. Números – o quantitativo – sempre ajudam no desenho, mas não desenham, não colorem o “real”, que escapa até mesmo da análise qualitativa. A reportagem de Rafael Cariello, em vez de focar na fragilidade das efêmeras instituições do campo assistencial, prefere fabricar falsos ícones. O texto parece inútil. Mas não é. Ele é maravilhoso como instrumento para enfurecer os outros falsos ícones da fome brasileira e que igualmente se enxergam como pais do Bolsa Família. Não são poucos. Curiosamente, poucos falam da mãe. A mãe, coitada, é o Eduardo Suplicy. Sem ele, sem a insistência midiática e alucinada dele, esse “conceito” de dar dinheiro, cash, na mão de pobre, isso nunca teria nascido. Mas o Cariello conseguiu enfurecer muita gente. Todas elas merecem. Parabéns.
LUIZ EDUARDO R. DE CARVALHO_Rio de Janeiro/RJ
NOTA DA REDAÇÃO: Luiz, se, por um lado, você não conseguiu enfurecer Cariello com a sua carta, por outro, a imagem de Suplicy como mãe o deixou profundamente perturbado.
MAIS QUADRINHOS
Minha mãe me deu de presente a assinatura da revista piauí. As matérias da revista são excelentes. Mas os quadrinhos “Julio, Gina, Brigitte & tutti quanti”, de Caco Galhardo e Reinaldo Moraes (piauí_75, dezembro), foram geniais. Julio usou os óculos para salvar o casamento. E Gina só usou os óculos para se vingar da “traição” virtual. Bem feminino! Acho que poderia ter desdobramentos. Adoraria ver Gina com os óculos, em outras versões cotidianas do maridão.
EUGÊNIA-MARIA DE MENDONÇA RODRIGUES_Campinas/SP
BOM NEGÓCIO
Minha busca pela piauí_73 já se tinha tornado uma verdadeira peregrinação. Religiosamente, fazia minha via-crúcis diária, perguntando de banca em banca: “E aí, chegou?” Ao que recebia, antes mesmo de o galo cantar, minha trigésima negação. Agora, meus caros, mirem e vejam. Eis que numa manhã quente de sábado, com um rastilho de esperança parti em busca da tão almejada publicação. Exatamente no meio do percurso entre minha casa e a banca central mais próxima, há uma banquinha, dessas de bairro, que só vendem jornais locais, revistas de caça-palavras, DVD’s de filmes ruins etc. Para desencargo de consciência e com desejo masoquista de ouvir mais um não, perguntei: “Tem piauí aí?” Pasmem!!! “Tenho”, disse o jornaleiro. “A de setembro”, completou apontando na direção da revista. Mas, quando vi o que ele me apontava, notei que tinha uma capa diferente da que eu tenho, e o número 60 estampado em vermelho me desorientou. Qual não foi minha surpresa! A edição de setembro era de 2011! A revista estava há mais de um ano na banca, e o cara não sabia. Acabei levando a revista por 8 reais. Fiz um bom negócio.
GLAUCO SOARES_Barbacena/MG
NOTA DA REDAÇÃO: Bom não, excelente. As piauís vintage são disputadas a tapa por oligarcas chechenos e fashionistas venezuelanos nos grandes leilões internacionais.
DIÁRIO, DILMA, TOUROS
Sou leitor de piauí desde a edição 56 e escrevo para dizer que me causou indignação o seguinte trecho do “diário” escrito por Rema Nagarajan no breve período em que esteve no Brasil (“Uma mallu no Brasil”, piauí_74, novembro): “Avós na casa dos 30 anos, com filhas de 16 que já são mães. Pudera, com a Igreja contra o aborto.” Então quer dizer que o aborto agora é medida de controle de natalidade? Que momento realmente infeliz da repórter indiana. Bem, por sorte na sequência havia o Diário da Dilma, que sempre me diverte, e pude chegar ao final do texto de Robert A. Caro (“A transição”, piauí_74, novembro) sem trocar, na imaginação, JFK por Rema Nagarajan no fatídico trajeto de Dallas. Aliás, devo dizer que já foi complicado o texto sobre o “toureiro pirata” (“A volta do Ciclone”, piauí_73, outubro), quando animais são brutalmente torturados e mortos em nome do entretenimento como se não fosse nada de mais. Um absurdo.
CARLOS EDUARDO SERAFIM_Passo Fundo/RS
VIVA A CIÊNCIA
Fiquei feliz com a confirmação da notícia de que esta revista aderiu ao ramo da divulgação científica. Refiro-me ao primoroso texto técnico de Georges Perec na seção Questões lírico-balísticas (“Demonstração experimental da organização tomatotópica em sopranos”, piauí_75, dezembro). Como muito bem disse Marx no prefácio do livro de Roberto Campos, recém-lançado, tratando da economia cerebral dos anfíbios terrestres: “Loucos são os outros, não os que já leram a piauí” (sic). Sem esquecer que a ideia original dessa tese veio de Lacan, atualizada por Freud antes que o mundo tivesse acabado (o dos maias).
GILBERTO COSTA RIBEIRO_Recife/PE
NOTA DE KARL MARX: Você está enganado, Gilberto. No livro de Roberto Campos, sou responsável apenas pelas notas. Você deve ter se confundido com a introdução que escrevi para a antologia de posts do Reinaldo Azevedo.
NOTA DO SINDICATO DOS SOPRANOS: Consideramos o senhor Georges Perec persona non grata, e torcemos para que ele passe o resto da vida com um disco de Mercedes Sosa nos ouvidos.
CARLOS MARIGHELLA
Por motivos de viagens estou com minha leitura da revista em atraso. Ao ler o texto intitulado “Tiro no cinema” (piauí_71, agosto), percebi que o autor tenta dar uma áurea de herói ao grande facínora da esquerda radical do Brasil. Teria sido muito bom para o país se aquele tiro desferido em 1964 tivesse eliminado em definitivo o futuro chefe do terrorismo que infectou o Brasil. Muitas vidas teriam sido poupadas, os militares não permaneceriam por tanto tempo no poder e não teríamos passado por tanto ódio, chumbo e rancores que permanecem até hoje. Se as ideias do facínora tivessem triunfado, não teríamos liberdade individual e de imprensa. piauí poderia ser apenas um pasquim do partidão.
PAULO FERREIRA DA SILVA_Cruzeiro/SP
NOTA DA REDAÇÃO: Cruzes.
JOGATINA DA PAZ
É impressionante o poder dos jogos. Na Esquina “Unidos pelo skat” (piauí_75, dezembro), podemos perceber o poder de confraternização dos jogos, permitindo até mesmo vítimas do Holocausto não sentirem ódio de seus algozes.
TALES BORGES FABBRI_Ribeirão Bonito/SP
BÓSON
Ao terminar de ler a reportagem “Cidade do átomo” (piauí_74, novembro), fiquei perplexo com um detalhe. As descobertas científicas são fascinantes, mas não se aproximam do grande vazio angustiante ao qual somos empurrados pelo desconhecimento. Diante disso, não pude, senão, escrever este breve poema:
antimatéria
debaixo da porta
sobre o ombro
entre o chão e a sola
desconhecido
é o que sobra
ilustres cientistas
pouco explicam
e de todo o universo
sabem menos
de quatro por cento
THIAGO ANDRADE_Campo Grande/MS
NOTA DA REDAÇÃO: É com pesar que constatamos que a poesia também não é solução para o nosso grande vazio angustiante.