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    Em 1982, Beatriz Sarlo se opôs à operação militar nas Malvinas. Em 2013, decidiu conhecer as ilhas, quando um referendo definiria seu futuro político: "Talvez tenha sido a minha última viagem importante. Ela me transportou não apenas ao pesadelo da guerra, mas a muito antes." LEGENDA: KERRIN HOFMANN

carta do extremo sul

Uma estrangeira nas ilhas

Impressões sobre as Malvinas trinta anos depois da guerra

Beatriz Sarlo | Edição 104, Maio 2015

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Nunca pensei em viajar para as Malvinas. A ocupação argentina de 1982 foi um dos episódios mais traumáticos da minha experiência política durante a ditadura. Eu me opus à operação naquele momento, quando se opor implicava fazer parte de um grupo quase invisível. Na época, chegamos a redigir um longo documento justificando nossa oposição à guerra e apontando o equívoco de boa parte da esquerda em apoiar a operação militar. A questão das Malvinas continuou a me perseguir durante muitos anos, e eu continuei a criticar o triunfalismo cego e o nacionalismo sem princípios. Nunca me senti mais distante do país onde vivia do que naqueles meses em que tudo foi eclipsado pela ilusão de que, guiada pela ditadura, a Argentina estava derrotando a Grã-Bretanha. Essa fantasia coletiva foi meu pesadelo.

Por isso nunca pensei em viajar para as ilhas, que eram para mim um lugar crepuscular: o crepúsculo da ditadura, da morte de centenas de soldados argentinos, de um nacionalismo territorial que não me interessava e que a Guerra das Malvinas me mostrou ser um tremendo equívoco não só dos militares, mas também de um avatar da ideologia argentina. Eu não tinha nada a comprovar nas ilhas.

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Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz

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