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    Sequência de fotos em que Conceição Aguiar mostra as marcas da agressão. A imagem do meio ilustrou reportagem do Jornal do Brasil, de 1998, intitulada "Bolsonaro agride mulher" /ACERVO JORNAL DO BRASIL

questões eleitorais

“Mesmo tendo sido agredida por Bolsonaro, voto nele”

Atacada há vinte anos pelo candidato do PSL, aposentada hoje o apoia

| 23 out 2018_19h01
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Agredida em 1998 pelo então deputado federal Jair Bolsonaro durante uma briga em uma via pública, Conceição Aparecida Aguiar, hoje com 61 anos, apoia o candidato do PSL à Presidência da República. “Eu sou Bolsonaro. Com todos os defeitos dele, eu vou votar no Bolsonaro. Mesmo tendo sido agredida. Por quê? Porque ele é o único que tem caráter, personalidade e não quer o mal para a família”, afirmou Aguiar, que está aposentada, vive na Região dos Lagos, no interior do estado do Rio de Janeiro, e prefere não dar mais detalhes sobre a agressão.

Localizada pela piauí por telefone na última semana, ela questionou se a revista “era de algum partido” e, diante da negativa, disse apenas: “Você publica o que está no jornal. Tudo o que você quer saber já está publicado no jornal.” Pouco depois de desligar o telefone, ligou novamente, desta vez com um tom ríspido: “Se vocês publicarem alguma coisa sem minha autorização, entro com uma indenizatória por invasão de privacidade.”

O jornal ao qual Aguiar se refere é o Jornal do Brasil. Em 27 de agosto de 1998, o diário carioca publicou, na seção de Política, uma notícia intitulada “Bolsonaro agride mulher”, cuja reprodução foi localizada na última semana no acervo digitalizado da Biblioteca Nacional e passou a circular pelas redes sociais. A notícia também foi republicada pelo próprio Jornal do Brasil na terça-feira passada, dia 16 de outubro.

A foto da reportagem de 1998 mostra Jorge dos Santos, sócio da empresa Planajur, apontando o que seriam marcas da agressão na cabeça de sua funcionária, Conceição Aparecida Aguiar, então com 42 anos. Na imagem publicada na ocasião pelo Jornal do Brasil, ela afasta o cabelo com uma das mãos, para exibir o machucado. Na mesma imagem, com a outra mão, ela mostra para a câmera uma radiografia, que seria a prova da agressão.

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Além de Jorge dos Santos e Conceição Aguiar, o Jornal do Brasil ouviu, na reportagem publicada em 1998, o então deputado federal. De acordo com as vítimas, Bolsonaro, na época candidato à reeleição para a Câmara pelo PPB-RJ, tinha agredido a mulher na frente da agência do Banco do Brasil na Vila Militar, em Deodoro, Zona Oeste do Rio. Aguiar era a gerente de uma empresa de consultoria jurídica que prestava serviços para o Exército, a Planajur, hoje extinta, de acordo com a Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro. Segundo a reportagem, ela fora agredida pelo parlamentar, pelas costas, enquanto discutia com “uma das correligionárias” de Bolsonaro. Não só ela: seu chefe, um dos sócios da Planajur, também afirmou ter sido “espancado por dois seguranças” do deputado, além de ter sido ofendido pelo próprio Bolsonaro.

A reportagem afirma que Bolsonaro admitiu ter agredido Conceição Aguiar, alegando que o tumulto fora iniciado pelos funcionários da Planajur. “Acho que eles se sentiram incomodados com minha presença e vieram com ofensas pessoais. Quando um deles foi pra cima da minha ajudante, a briga começou”, declarou Bolsonaro na ocasião.

Assessor do deputado na época, cargo que mantém até hoje, Waldir Ferraz contou à piauí, em entrevista por telefone, que estava no local, e que quebrou um braço na pancadaria. “Nós tínhamos ido à tal empresa para desmascarar aquele pessoal. Eles estavam dando um golpe nos pensionistas mais velhos do Exército. O que eles estavam fazendo era uma sacanagem, pegando inocentes que iam sacar a pensão no banco. Quando os pensionistas saíam com o contracheque, eles diziam representar o Exército e cobravam uma taxa de 19 reais por mês, lembro do valor até hoje. Mas quem começou a confusão foram eles, tanto que quem quebrou um braço fui eu”, disse Waldir, que não registrou queixa na época. “Aquilo não deu em nada”, sustentou ele, minimizando as agressões.

Já o presidente do PSL, Gustavo Bebbiano, procurado via e-mail, mensagem eletrônica e telefone, não respondeu às tentativas de contato.

 

Na época da agressão, em 1998, Conceição Aguiar e Jorge dos Santos deram queixa na 33ª Delegacia Policial, em Realengo, e o registro hoje está guardado nos arquivos da Polícia Civil. A piauí pediu formalmente o boletim de ocorrência ao setor de microfilmagem da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, mas a corporação disse que a entrega pode demorar meses.

No CPDoc do Jornal do Brasil está guardada a folha de contato com as três fotos feitas na época, cuja sequência publicamos aqui. Nela, se vê com mais nitidez a radiografia que Aguiar segura nas mãos – o que não ficava claro na reprodução digitalizada da Biblioteca Nacional. A autoria das fotos está atribuída a Marcos Vianna. Procurado pela piauí, o fotógrafo disse que o nome dele aparece por engano como autor da sequência. “Fui até lá, mas acabei não encontrando os envolvidos. Um outro fotógrafo deve ter feito depois, e acabou saindo no meu nome”, disse.

Dois meses depois do episódio na Vila Militar, Jair Bolsonaro voltou a aparecer nos jornais envolvido em um novo ato violento contra mulheres. A edição do jornal O Globo do dia 19 de novembro de 1998 trazia um texto intitulado “Bolsonaro fica fora de si e ameaça agredir deputado”. A reportagem contava que, durante uma sessão no plenário da Câmara dos Deputados, Bolsonaro não havia se conformado com cobrança de contribuição previdenciária a militares inativos, aprovada naquele dia. Em discussão com o relator da proposta, Márcio Fortes (PSDB), Bolsonaro ameaçou agredir uma assessora do Planalto, Celeste Guimarães, expulsando-a do plenário. Na mesma sessão, ele também ameaçou o deputado Robson Tuma, do PFL-SP. “Tuminha, fica na sua senão te encho de porrada”, disse Bolsonaro, segundo o jornal.

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