Em apenas sete anos, o carnavalesco Leandro Vieira obteve três vitórias na primeira divisão das escolas de samba do Rio de Janeiro. As duas primeiras foram para a Mangueira: em 2016 (quando fez sua estreia, aos 32 anos) e em 2019. A terceira foi no ano passado, pela Imperatriz Leopoldinense.
Com isso, Vieira, de 40 anos, é tido como um ponto fora da curva – e há quem o considere o principal carnavalesco em atividade. Para a curadora e crítica de artes plásticas Daniela Name, ele está no centro de uma nova “geração de narradores” do Carnaval, surgida durante a crise financeira e política dos últimos anos e decidiu privilegiar nos desfiles a força do discurso em vez dos efeitos visuais.
A obsessão de Vieira é, nas suas próprias palavras, com “aquela coisa mal-ajambrada e mambembe” dos Carnavais dos anos 1970. “Eu não busco novidades ou inovações, olho para a tradição. Meu desejo é combater o luxo e a opulência”, diz. De certa forma, é como se ele quisesse contrariar o ideal de beleza e de luxo que predomina no Carnaval carioca há tantas décadas. Em particular desde Joãosinho Trinta, que introduziu uma parafernália luxuosa nos desfiles e cunhou uma máxima famosa: “Quem gosta de miséria é intelectual, o pobre gosta de luxo.”
A vida no subúrbio é a fonte que irriga o seu trabalho. Em dia de desfile, Vieira toma o metrô na estação Vicente de Carvalho, desce na Central do Brasil e caminha até o Sambódromo, na Rua Marquês de Sapucaí. “Eu faço as coisas pensando numa visão de Brasil, numa criação artística de valor suburbano”, ele diz a Thallys Braga na edição deste mês da piauí.
Vieira é o mais velho de três filhos e passou a infância no Jardim América, bairro da Zona Norte do Rio. A mãe, costureira, e o pai, vendedor, tinham uma pequena loja de tecidos. Vieira queria ser artista plástico e se dedicar à pintura. “Sempre gostei do subúrbio e das suas pessoas, expressões e ambientes. Era isso que eu queria pintar.” Aos 17 anos, entrou para o curso de pintura da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mas, ainda estudante, se deu conta que seria difícil pagar as contas com a atividade artística e procurou emprego em escolas de samba. Atuou na Grande Rio na época de Joãosinho Trinta, na Portela, na Mangueira e chegou à Imperatriz Leopoldinense.
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