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Festival Piauí GloboNews de jornalismo

Michael Hudson e a cobertura do caso Panamá Papers

11out2016_16h49
FOTO: TUCA VIEIRA

A segunda mesa de domingo do “Festival piauí Globonews” teve início com um vídeo apresentando o Panamá Papers, um dos mais clamorosos vazamentos de dados da história do jornalismo. Para falar do assunto, os mediadores Malu Gaspar, da piauí, e Ricardo Gandour, da CBN, receberam Michael Hudson. Editor-sênior do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, o ICIJ, ele é um dos 400 jornalistas que se debruçaram sobre o volume gigantesco de documentos que revelaram a operação de empresas off shore em pagamentos de propinas e transações financeiras ilegais.

Como foi manter o sigilo das investigações com repórteres espalhados por cem veículos ao redor do mundo, todos com acesso ao mesmo material? Hudson disse que foi montada uma plataforma de comunicação online. “Conversávamos e trocávamos informações uns com os outros – isso nos ajudava a superar a vontade de comentar com alguém de fora sobre o objeto de nossa investigação.”

O americano contou que a equipe tinha apenas duas regras: todos publicariam ao mesmo tempo as reportagens, e quaisquer informações que descobrissem a partir dos dados deveriam ser compartilhadas. “O ICIJ não mandava na matéria de ninguém, mas todos precisávamos trabalhar juntos para destrinchar o material e ficar a par do que cada um estava revelando em suas reportagens. Assim podíamos conferir e comparar os dados que seriam publicados.”

A decisão mais difícil do grupo foi escolher o momento apropriado para revelar os dados. “Precisamos convencer os colegas a esperar, pois alguns já estavam com as reportagens prontas. Todos deveriam publicar concomitantemente,  e essa regra foi respeitada. Esse foi um ponto muito importante.” A tática foi bem-sucedida, avaliou Hudson: “Cem veículos publicaram reportagens sobre o Panamá Papers ao mesmo tempo, o assunto foi parar nos trending topics do Twitter. E assim conseguimos arregimentar recursos e divulgar a história no mundo todo.”

Hudson também falou sobre o processo de seleção dos jornalistas que compartilharam os dados do caso. Menos do que integrar uma grande mídia, importava ser um repórter com experiência em investigação. “Escolhemos nossos parceiros entre pessoas que confiávamos e com quem já tivéssemos trabalhado. Procuramos os melhores jornalistas investigativos”, disse Hudson, acrescentando que a princípio jornais americanos como Wall Street Journal e o New York Times foram reticentes em entender o processo colaborativo da empreitada e não quiseram compartilhar os dados. Mas depois que o projeto se mostrou um sucesso, vários veículos procuraram o ICIJ.

A plateia quis saber se Hudson sofreu alguma ameaça. Ainda que não tenha sido pessoalmente ameaçado, o jornalista ressaltou que ao redor do mundo alguns colegas que divulgaram dados de políticos e empresários flagrados em transações ilegais acabaram sendo demitidos e tiveram o nome exposto publicamente. Aos jovens repórteres presentes no auditório, Hudson deu um recado: “Não é preciso trabalhar num grande veículo para fazer um bom trabalho. É possível trabalhar individualmente, como freelancer, e fazer um trabalho incrível. Se seu jornal não comprar sua ideia, procure outro veículo.”

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