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Questões da Ciência

Mudança do clima na imprensa global

Um grupo de pesquisadores das universidades do Colorado e de Oxford divulgou os dados mais recentes de um monitoramento do noticiário sobre mudança climática em jornais de 20 países de seis continentes. Os dados mostram como evoluiu o número de artigos sobre o tema em 50 veículos desde 2004.

Bernardo Esteves | 19 abr 2011_10h26
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Um grupo de pesquisadores das universidades do Colorado e de Oxford divulgou os dados mais recentes de um monitoramento do noticiário sobre mudança climática em jornais de 20 países de seis continentes. Os dados mostram como evoluiu o número de artigos sobre o tema em 50 veículos desde 2004, como mostra o relato do jornalista Mike Shanahan em seu blog.

O gráfico acima representa a evolução do número de artigos sobre mudança climática nos jornais de diferentes continentes, cada um representado com uma cor. Um aumento generalizado no número de artigos se dá na transição de 2006 para 2007 quando uma série de eventos trouxe o aquecimento global para o primeiro plano do noticiário, como o lançamento do filme de Al Gore ou a divulgação pelo Reino Unido do Relatório Stern, que calculou quanto o aquecimento global custará aos cofres públicos se não for evitado. No primeiro semestre de 2007, a divulgação do 4º relatório do IPCC trouxe de vez o tema para as manchetes dos jornais.

Há outro pico de interesse em 2009, que reflete a importância que teve na esfera pública a COP-15, a conferência que reuniu em Copenhague governantes, diplomatas, ativistas, cientistas e outros interessados pelo aquecimento global. A mais midiatizada das COPs inundou jornais e revistas de vários países com reportagens sobre o clima.

Não há dados sobre a imprensa brasileira na pesquisa anglo-americana. O argentino Clarín é o único representante da América do Sul na amostra analisada. Outros continentes estão subrepresentados – o Business Day, de Joanesburgo, é o único africano dentre os 50 jornais considerados.

Na imprensa brasileira
No Brasil não há um acompanhamento sistemático do noticiário climático que cubra um período tão extenso quanto o analisado pelos pesquisadores do Colorado. Mas tivemos iniciativas que dão boas pistas de como vai a cobertura da mudança climática no país.

A iniciativa de mais fôlego foi uma análise da cobertura de mudanças climáticas em 50 jornais brasileiros de julho de 2005 a dezembro de 2008. Promovido pela Andi, a Agência de Notícias dos Direitos da Infância, o estudo oferece um panorama bastante completo e detalhado de como a imprensa brasileira cobriu o tema.

O monitoramento quantitativo dos artigos sobre mudança climática feito no estudo da Andi acusa picos de interesse nos mesmos momentos em que o resto da imprensa mundial se interessou pelas mudanças climáticas. Mas o trabalho brasileiro foi além disso e investigou detalhes do conteúdo dos textos, como o tema específico abordado, o tipo de contextualização oferecida ao leitor, a natureza das fontes ouvidas e o enquadramento de cada reportagem. Os resultados da pesquisa estão disponíveis em um arquivo PDF de 70 páginas.

Há também estudos de alcance temporal e amostragem mais restritos, destinados a esclarecer questões específicas. Foi o caso do trabalho do jornalista Carlos Henrique Fioravanti, da revista Pesquisa Fapesp, que fez uma análise comparativa da cobertura das mudanças climáticas na imprensa britânica e brasileira ao longo de um ano. O estudo, apresentado como um capítulo do livro Biologia e mudanças climáticas no Brasil, aponta convergências e divergências na cobertura dos dois países e discute questões como a natureza e o papel dos atores que têm voz no noticiário.


Quando a mudança climática vira manchete: capa de jornais de Brasil, Inglaterra, Coreia do Sul e Japão destacando resultados do 4º relatório do IPCC (imagem: reprodução / Carlos Fioravanti).

Um outro trabalho interessante de monitoramento da cobertura das mudanças climáticas na imprensa brasileira está sendo realizado pela jornalista Andréa Gunneng, editora do site de jornalismo ambiental Conexão Verde. Ela está interessada especificamente na maneira como os jornais e revistas brasileiros estão cobrindo as COPs, as conferências anuais que reúnem representantes dos signatários da convenção do clima da ONU.

A ideia para o trabalho nasceu de uma observação de Gunneng ao acompanhar a imprensa brasileira durante as últimas três COPs, às quais esteve presente. Falando pelo Skype de Pequim, onde mora, a jornalista conta a impressão que teve dessa cobertura. “Os jornalistas brasileiros praticamente só cobrem a delegação brasileira, como se as COPs não fossem um evento internacional”, avalia.

Gunneng acaba de voltar do Brasil, onde visitou os arquivos de quatro jornais – Folha de S. Paulo, O Globo, Correio Braziliense e Estado de Minas – e da revista Veja. Ela vai analisar o noticiário desses veículos sobre a COP-15, em Copenhague, e sobre a COP-16, realizada em Cancún no ano passado. A análise do material deve permitir ratificar ou refutar a hipótese da qual ela parte.

“Pretendo submeter esse estudo para publicação em um periódico internacional especializado”, conta a jornalista. “É importante que esse tipo de monitoramento da imprensa dos países em desenvolvimento seja publicado em inglês, e esse nem sempre é o caso.” Gunneng espera apresentar os resultados de seu estudo na COP-17, a se realizar no fim do ano em Durban, na África do Sul.

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