A busca por restos de ossos e carnes no Rio, o garimpo por comida dentro de caminhões de lixo em Fortaleza e o grito desesperado de um homem por alimento em Brasília. No Brasil de 2021, tudo isso ocorreu no intervalo de um mês. De Norte a Sul do país, não há pauta mais urgente: Fome, ilustração de Vito Quintans, é a capa da piauí_182.
O governo, no entanto, tem outras prioridades. Em O aparelho, Allan de Abreu mostra como o presidente Jair Bolsonaro pressiona e persegue agentes para fazer da Polícia Federal sua corporação particular. Em outra frente, o Ministério de Ataques Desnecessários e Sem Nexo, sempre muito ativo nesta administração, atiçou a horda de bolsonaristas contra a Huawei, fabricante de equipamentos 5G. Como em tantas outras agressões gratuitas a instituições chinesas, o governo viu-se obrigado a recuar. Ana Clara Costa detalha a empreitada em Lição das Bravatas.
A Justiça também é tema de debate na edição deste mês. João Batista Jr. reconstitui o caso da ex-influenciadora Mari Ferrer, que denunciou ter sido dopada e estuprada no beach club Café de la Musique em Florianópolis, em dezembro de 2018. O réu, André de Camargo Aranha, acabou absolvido por unanimidade. Entenda como e por que em A noite que nunca terminou. Bem Longe de casa, Elisangela Roxo narra a visita a um museu de Copenhague que expunha um manto tupinambá e detalha como esses artefatos indígenas levados do Brasil nunca mais voltaram à terra de origem. Todos os que ainda existem estão no exterior.
Em notas menos amargas, Juliana Faddul destrincha a história do leite condensado em O leite que condensa o Brasil. Leonardo Lichote revela os bastidores da gravação de canções inéditas de Aldir Blanc, uma das nossas mais de 600 mil vítimas da Covid-19, em Que falta nos faz um país.
Como a crise é estética e generalizada, há Pânico nas livrarias, retrata Gustavo Zeitel. Mas o encanto que a arte é capaz de proporcionar resiste aos tempos: em Consciência de Acervo, o arquivista Douglas Pompeu, que trabalha na Alemanha, revive a experiência de encontrar os manuscritos originais de O Processo, de Franz Kafka.
Para não dizer que não falamos das flores, Ivan Marques narra a passagem de João Cabral de Melo Neto pela capital da Andaluzia; Eliana Alves Cruz escreve sua Carta às cabeças brasileiras do futuro; e, por fim, Carlos Adriano traz poemas d’A reclusa Maria do Carmo Ferreira, que vai estrear em livro agora, às vésperas de completar 83 anos.