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    Milhares de apoiadores acompanharam a posse do presidente eleito Lula Foto: Evaristo Sa | AFP

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Na praça, com Lula

Apoiadores do presidente amanhecem na Praça dos Três Poderes para poder assistir à posse

Marcos Amorozo | 01 jan 2023_21h01
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As movimentações na Esplanada dos Ministérios para a posse de Lula começaram antes mesmo do amanhecer do dia 1º de janeiro, com apoiadores organizando filas para dar acesso à Praça dos Três Poderes. Às nove da manhã, uma das filas já se estendia por mais de dois quilômetros, da quadra 203 da Asa Norte até a rodoviária de Brasília. 

A Praça dos Três Poderes, que fica em uma das extremidades da Esplanada dos Ministérios e onde se concentrariam os eventos da posse, foi cercada por barreiras de concreto e de metal. Para ter acesso ao local, era preciso passar por uma das duas filas de revista montadas pela Polícia Civil. Na frente do Congresso, a 800 metros dali, foram montados os dois palcos do Festival do Futuro, com atrações musicais. 

Horas antes da posse, que começou por volta de três horas da tarde, a Praça dos Três Poderes já havia alcançado o limite de pessoas determinado pela organização do evento, por questões de segurança: 40 mil pessoas. O local foi fechado e muita gente não conseguiu entrar, passando a se juntar nos gramados de diferentes áreas da Esplanada do Ministério. 

Assim que perceberam as primeiras movimentações indicando que Lula estava para chegar à Câmara dos Deputados, as pessoas até então dispersas pela Esplanada dos Ministérios passaram a se acumular nas grades que cercavam o trajeto presidencial. Subir em árvores, em bancos de plástico e em tapumes foram alguns dos recursos encontrados pelas pessoas que tentavam ver o Rolls-Royce que conduziu o presidente, a primeira-dama, Rosângela Silva, a Janja, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e sua mulher, Lu Alckmin. A todo momento, algum apoiador mais animado puxava o coro e todos repetiam: “Olê, olá, Lula, Lula”. 

Na Praça dos Três Poderes, seguranças com camisetas verde limão circulavam por todo o espaço. Quiosques ofereciam variadas opções de alimentos, desde pratos das culinárias mineira e argentina até o tradicional pastel. Ambulantes vendiam água por 5 reais, refrigerante por 8 reais e cerveja por 10 reais. Na hora do almoço, os quiosques se encheram de filas enormes. Depois, a cerveja começou a sumir dos isopores de alguns vendedores. “Já acabou? Poxa, depois de quatro anos acharam que a gente ia beber pouco?”, reclamou uma mulher.

A diarista Fátima Ribeiro, de 56 anos, saiu de Goiânia, a 200 quilômetros da capital federal, às sete da manhã, numa caravana do PT. Seu objetivo era se reunir à multidão que iria assistir à posse na Praça dos Três Poderes. Mas não foi possível. A viagem durou mais tempo do que o previsto e, quando ela chegou, o local já estava lotado. “O policial disse que já estava cheio, e não consegui entrar. Então vim aqui pro gramado mesmo. Mas não tem problema. Ver pelo telão vai ser lindo também”, disse Ribeiro.

Ela contou que desde a eleição, em 30 de outubro, queria estar presente na posse. “Chorei na eleição e chorei vindo para cá. Sou negra, sou mulher, sou classe média baixa, e sei como os governos de Lula melhoraram a minha vida. Nosso presidente é gigante”, afirmou. A diarista estava radiante em meio às pessoas reunidas no gramado. “Estamos finalmente em paz, livres. Sinto como se tivesse curado de uma doença horrível. Agora é só energia positiva pro nosso presidente, para ele conseguir fazer tudo que precisa e as coisas fluam.”

Fátima Ribeiro, diarista, viajou 200 quilômetros para assistir a cerimônia de posse. Foto: Marcos Amorozo

 

Sem celular e sem documento, Vera de Jesus Santos, de 32 anos, veio com a filha de 10 anos até a Esplanada dos Ministérios. Ela mora na Estrutural, região administrativa que fica a meia hora do local onde estava, sentada à sombra de uma pequena árvore. “Eu vim pra ver o Lula. Mesmo que de longe já fico feliz. Até discuti com meu marido. Ele não quis vir”, contou. Santos e sua família votaram em Lula e no PT nas últimas eleições. “Minha mãe mora no assentamento do MST no Sul da Bahia e conseguiu sua casa ali por causa do Lula. Eu sempre vou votar nele. A esperança agora é que ele ajude ainda mais a mim e a todos do Brasil.” 

De camisa e calça vermelhas, Edna Oliveira, de 57 anos, chamava atenção por onde passava. Não pela cor da roupa, já que o vermelho era dominante na Esplanada dos Ministérios, mas pela faixa presidencial verde-amarela que ela carregava no peito. “O que me trouxe aqui, com essa faixa, foi a vontade de poder representar o nosso presidente que está recuperando o que tiraram dele”, disse. “Eu não esperava chamar tanta atenção. Já me chamaram de Janja, já tirei foto com muita gente, já me pediram a faixa emprestada para tirar foto. Foi uma festa aqui hoje”, disse, empolgada. Oliveira é policial militar aposentada e diz que seu posicionamento político é minoria entre os seus amigos e colegas. “Das minhas amizades, 98% são apoiadores do Bolsonaro. Pouquíssimos dos meus companheiros de farda gostam do Lula.” 

A aposentada Leopoldina Duarte, de 75 anos, foi à Esplanada dos Ministérios acompanhada das duas filhas. Quando mais jovem, participou da resistência à ditadura militar e foi presa. “Fiquei oito meses na cadeia e aí, quando saí, fui para a clandestinidade. Quando saiu a anistia, voltei para São Paulo e comecei a participar do MDB e, depois, da fundação do PT”, contou. Ela nunca abandonou o engajamento político, mas diz que hoje não tem mais o mesmo vigor para lutar. “Eu tenho medo. Já estou em uma idade que não consigo ser ativa na resistência, mas acredito que precisamos manter o povo organizado porque senão a direita volta, é sempre assim.” Para Duarte, o cenário político desde o impeachment de Dilma Rousseff foi muito hostil e trouxe a ela lembranças da ditadura militar. “Quando houve o golpe contra Dilma, eu revivi muito aquela época, mas sempre tive esperança de que a gente pudesse resistir e voltar de novo. E foi o que aconteceu.”

Em meio às bandeiras vermelhas do PT e de Lula, destacava-se uma bandeira preta. Era do movimento Revolução Corinthiana, organizado por torcedores do time paulista. “Bolsonaro foi um câncer para o Brasil. Hoje é o resultado de toda nossa luta durante a campanha para Lula vencer. A gente suou pra caramba”, comentou Wildner Paula Rocha, vulgo Pulguinha, comerciante de 44 anos que faz parte da organização do movimento. 

Vindo de São Paulo, o grupo desembarcou em Brasília no dia 31 de dezembro e está alojado numa escola pública do Distrito Federal. “A torcida tem a identidade de luta, de resistência, historicamente. O corinthiano progressista que entende que a sociedade tem uma luta de classe se identifica e cola com a gente”, disse Rocha. “Agora precisamos manter a movimentação na rua para nossas pautas avançarem.”

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