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Não, Alexandre de Moraes não causou a crise da Tesla

É enganoso o post no X que afirma que o valor de mercado da Tesla caiu R$ 186 bilhões após ataques do dono, Elon Musk, ao ministro do STF

| 22 abr 2024_10h10
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Post no X afirma que a Tesla, montadora de Elon Musk, perdeu R$ 186 bilhões em valor de mercado e irá demitir 15% dos funcionários no mundo inteiro, após um embate formado entre o empresário e o ministro do STF Alexandre de Moraes nas redes sociais, no dia 6 de abril. É enganoso o conteúdo de uma publicação no X (antigo Twitter) que atribui a queda nas ações da Tesla, montadora pertencente a Elon Musk, aos ataques dele contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A publicação também desinforma ao dizer que a companhia anunciou a demissão de 15% dos funcionários no mundo inteiro, criando uma associação entre os supostos desligamentos e os recentes embates entre Musk e Moraes.

De fato, o preço das ações da Tesla está em queda em bolsas de valores como a Nasdaq e a Ibovespa, desde janeiro deste ano. A imprensa internacional vem apontando que a montadora é uma das empresas com pior desempenho no mercado de ações em 2024. No último mês, houve oscilações para cima e para baixo, mas o preço continua bem menor do que no início do ano, o que é atribuído a uma redução no mercado de carros elétricos e à flutuação comum em empresas de tecnologia.

Já o número de demissões não é de 15%, e sim de 10%. De qualquer forma, não há indícios de que elas estejam ligadas ao embate entre Musk e Moraes. Em um relatório oficial, o diretor financeiro da Tesla, Vaibhav Taneja, falou em reduzir custos para aumentar a produtividade e disse que “esta ação irá preparar a Tesla para a nossa próxima fase de crescimento, à medida que estamos desenvolvendo algumas das tecnologias mais revolucionárias nos setores automobilístico, energético e de inteligência artificial”.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até 18 de abril de 2024, a publicação tinha mais de 257 mil visualizações no X.

Buscamos informações nos gráficos de desempenho das ações da Tesla na Nasdaq e na Ibovespa, além de notícias na imprensa nacional e internacional sobre queda no valor de mercado da companhia, demissão em massa e as razões para isso. Não foi possível fazer contato com o autor do post porque ele não disponibiliza meios para isso em sua conta no X. Também entrevistamos o especialista Antônio Jorge Martins, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

É verdade que as ações da Tesla sofreram queda na última semana e que a companhia anunciou demissões em massa, mas esse cenário não é novo nem pode ser atribuído ao embate entre Musk e Moraes. Em janeiro, a companhia perdeu US$ 80 bilhões em valor de mercado em um único dia após Elon Musk alertar que as vendas da empresa iam desacelerar em 2024, apesar dos cortes nos preços.

De lá para cá, as ações sofreram oscilações, mas não chegaram a recuperar o valor do início de ano – em 2 de janeiro, uma ação era comercializada a US$ 248,42, segundo gráficos da Nasdaq, o mercado de ações norte-americano. No dia do alerta de Musk, 25 de janeiro, o valor da ação despencou para US$ 182,63. Na Ibovespa, a queda no valor da ação também é visível a partir de janeiro.

Na época, Musk disse que a desaceleração nas vendas era esperada porque a Tesla estava se concentrando em um veículo elétrico de próxima geração a ser desenvolvido, com entregas previstas para acontecer em 2025. Segundo a imprensa especializada, a queda nos resultados da Tesla e de outras montadoras de carros elétricos tem a ver também com a queda na demanda por esse tipo de veículo.

A multinacional também registrou queda na produção de automóveis no primeiro trimestre deste ano. Relatório financeiro publicado pela própria empresa mostra entrega de 386.810 automóveis, inferior ao mesmo período do ano passado, que teve entrega de 422.875 veículos. Segundo a Tesla, o declínio se deve parcialmente ao encerramento de fábricas afetadas por “desvios de transporte marítimo causados ​​pelo conflito do Mar Vermelho e um ataque incendiário na Gigafactory Berlim”.

De acordo com o professor Antônio Jorge Martins, da FGV, especialista no assunto, a flutuação no valor de empresas como a Tesla é parte de um contexto global em que se pode cruzar dois pontos: uma crescente redução no próprio mercado de carros elétricos, com as vendas caindo, e uma flutuação de imagem comum às empresas de tecnologia. Como o cenário muda rápido, por conta da própria evolução da tecnologia, a realidade fica ainda mais flutuante para empresas desse tipo. Recentemente, por exemplo, foi noticiado que a Apple perdeu US$ 113 bilhões em valor de mercado.

“A realidade econômica da Tesla não tem a ver com o X. São assuntos diferentes. Essas ações são fruto da lógica de um mercado que vai muito além de um bate-boca. O mercado financeiro funciona com base no que chamamos de ‘valuation’, as expectativas que imperam sobre uma determinada empresa. Toda análise ocorre em conjunto com essa expectativa, que não é tangível, e é ainda mais presente no universo da tecnologia”, diz. “Nos EUA, o mercado de carros elétricos vem diminuindo. As pessoas começaram a ver aspectos negativos em algo que, lá atrás, parecia mais atrativo. O tempo passa e os problemas ficam mais claros – como a necessidade de reposição de bateria, que tem preço alto para carros elétricos. A mão de obra para consertos também é mais rara de encontrar e mais cara”, avalia o professor.

 

As declarações de Musk contra o ministro Alexandre de Moraes começaram em 6 de abril, um sábado. Na segunda-feira, 8, as ações da Tesla na Nasdaq fecharam em US$ 172,98 – alta em relação à sexta-feira, 5, quando o valor era de US$ 164,9. Nos dias seguintes, houve oscilação e, no dia 10, as ações tinham recuado 33% ao ano. Em 15 de abril, dia da postagem do conteúdo aqui investigado, as ações da Tesla custavam US$ 161,48.

Já o valor de mercado da companhia era de US$ 525,1 bilhões na sexta-feira, 5, um dia antes das declarações de Musk, e caiu para US$ 514,2 bilhões no dia 15 de abril, segundo dados coletados pelo Bloomberg Terminal. A perda no período foi de US$ 10,9 bilhões, o equivalente a R$ 57,3 bilhões. Isso significa que, mesmo que a perda pudesse ser atribuída ao embate entre Musk e Moraes, o valor da perda no valor de mercado não seria de R$ 186 bilhões, como afirma o autor do post. O valor de mercado, assim como as ações, também vem caindo desde janeiro, como mostra este gráfico abaixo com os dados acumulados no ano, do Bloomberg Terminal.

 

No dia 16 de abril, quando a empresa anunciou a demissão de 10% dos funcionários em todo o mundo, e dois executivos anunciaram suas saídas, o valor de mercado chegou a US$ 500 bilhões, depois tornou a cair e atingiu US$ 497,9 bilhões em 17 de abril. Os desligamentos dos executivos e as demissões de cerca de 14 mil pessoas estão documentadas em um relatório oficial para a Comissão de Segurança e Câmbio dos Estados Unidos, assinado por Vaibhav Taneja, diretor financeiro da companhia.

Em março deste ano, a empresa teve o pior desempenho em um mercado de ações norte-americano. Segundo esta reportagem publicada pela CNN, o declínio da empresa tem a ver com problemas de segurança e recalls, desaceleração do crescimento e redução de preços, e a situação pode ficar ainda pior a partir de 2025, com o crescimento da concorrência.

O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

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