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    Passageiros em plataforma lotada na estação Sé, da linha vermelha do metrô de São Paulo Foto: Bruno Rocha/Agência Enquadrar/Folhapress

questões epidemiológicas

O inverno está chegando

Buscas por “sintomas Covid” crescem no Google – alerta que precede picos de mortes e novos casos da doença no Brasil

Hellen Guimarães | 28 maio 2021_14h30
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No Brasil pandêmico, não há previsão de bonança após a tempestade. Na iminência de uma terceira onda de Covid-19, sem que jamais o país tenha controlado de fato a primeira e a segunda, especialistas veem sinais de uma nova curva de infecção, estimulada pela combinação entre vacinação lenta, chegada do inverno, flexibilização das medidas de isolamento, surgimento de novas variantes e sistema de saúde ainda pressionado. O Google revela mais um: após uma queda sistemática, a busca dos brasileiros por “sintomas covid” só cresceu desde que maio começou, assim como a quantidade semanal de novos casos.

O termo “sintomas covid” é o mais procurado no Brasil em relação à doença, o que fez o site desenvolver uma escala de 0 a 100 para medir o interesse nele ao longo do tempo. Desde o início da pandemia, sempre que as pesquisas disparavam, o número de novos casos diagnosticados seguia a tendência nas semanas seguintes. Após chegar ao ponto máximo na semana de 21 de março, a procura vinha em queda há cinco semanas, atingindo o patamar mais baixo dos últimos seis meses em 25 de abril (48 pontos). Neste mês, porém, o indicador só subiu, chegando a 62 pontos na semana do dia 16, a última com dados completos. O aumento é de 29%.

A curva de novos casos por semana também vem crescendo desde o fim de abril. De 403 mil diagnósticos na semana do dia 18, foi para 418 mil na do dia 25. Em maio, três altas seguidas: 425 mil na semana do dia 2, 441 mil na do dia 9 e 456 mil na última, do dia 16. O ápice nos dois indicadores desde o início da pandemia ocorreu ao mesmo tempo: na semana do dia 21 de março, foram 100 pontos na escala de buscas e 540 mil novos casos.

Dezoito estados e o Distrito Federal apresentaram alta nas buscas por “sintomas covid” em maio. Maranhão e Paraná tiveram aumentos consecutivos desde a última semana de abril. Este último, aliás, é líder disparado de interesse atualmente: está com 81 pontos na escala, seguido de longe pela Paraíba, com 60. Todos os demais estados encontram-se abaixo desse patamar. Seguindo o exemplo nacional, o Rio Grande de Sul viu o interesse crescer desde a primeira semana de maio, a do dia 2, indo de 20 a 34 pontos.

Em outros seis estados, a curva subiu a partir da segunda semana do mês: Acre, Amapá, Minas Gerais, Pernambuco, São Paulo e Mato Grosso, cujo interesse triplicou (de 14 a 40 pontos). O Acre mais que dobrou as buscas: de 15 pontos na escala para 38. A maior parte dos estados, porém, registrou aumento na terceira semana, a do dia 16. Tocantins e Roraima triplicaram (de 15 a 49 pontos e de 6 a 17, respectivamente), enquanto o Piauí dobrou (de 18 a 35 pontos). Completam a lista Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio Grande do Norte e Santa Catarina.

Em relação à quantidade de novos casos diagnosticados por semana, dezessete estados e o Distrito Federal apresentaram alta em maio. A maioria teve crescimento na última semana, do dia 16 (Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Piauí, Rio Grande do Sul, Rondônia, Sergipe, Santa Catarina e Tocantins, além do Distrito Federal). Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Pernambuco e São Paulo registram alta desde a segunda semana.

Líder de buscas por “sintomas covid” no país, Mato Grosso do Sul vê a curva crescer desde o início do mês de modo expressivo: foi de 6.758 novos casos na semana do dia 2 para 11.641 na última. O Paraná teve aumentos consecutivos desde a última semana de abril e viu o número dobrar nesse período, indo de 21.812 novos casos a 41.307 na semana mais recente do levantamento. Roraima também cresce desde o fim de abril, mas a variação é mais baixa.

Todas essas informações vão ao encontro do alerta dos especialistas: não é hora de relaxar, uma terceira onda se avizinha e é necessário acelerar a vacinação para impedir um novo pior momento da pandemia. Sem isso, a projeção do Instituto de Métricas de Saúde e Avaliação da Universidade de Washington indica que o Brasil pode chegar a 751 mil mortes por Covid-19 até 27 de agosto. E este não é o pior cenário possível: se a variante P.1 continuar a se espalhar e os vacinados abdicarem da máscara, o país pode voltar ao patamar de 3.300 mortes diárias em torno de 21 de julho, chegando a 941 mil mortes em 21 setembro. O estudo foi publicado antes da confirmação da chegada da variante indiana, que ocorreu nesta quarta-feira (26).

Esse risco se intensifica sem que o sistema de saúde brasileiro tenha se recuperado do último pico de contágio da doença. Um levantamento da Globonews, com dados das prefeituras e secretarias estaduais de Saúde, revelou que a fila de pacientes com Covid à espera de um leito de UTI no Brasil aumentou muito na última semana. No dia 17, 1.517 brasileiros aguardavam uma vaga; sete dias depois, eram 2.126, um aumento de 40%. O maior crescimento foi em São Paulo, 45%, acima da média nacional. A fila paulista, com 344 pacientes no último domingo, só não era maior que a do Paraná, com cerca de 500 pacientes.

Nesta terça (25), o novo Boletim do Observatório Covid-19 da Fiocruz detalhou o panorama das taxas de ocupação dos leitos de UTI nos 26 estados brasileiros. Só Acre e Amazonas têm ocupação baixa, de 47% e 52%, respectivamente. Todos os outros estados têm taxas acima de 70%. Mato Grosso do Sul e Sergipe (99% cada) encabeçam a lista, seguidos por Pernambuco (98%), Rio Grande do Norte (97%), Paraná e Distrito Federal (96% cada). No Sudeste, o sistema de saúde mais pressionado é o do Rio, com 83% de ocupação, um pouco a mais que o de São Paulo, com 80%.

Outro sinal de alerta foi aceso pela Fiocruz: no boletim Infogripe mais recente, relativo à semana do dia 9, houve aumento de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no país. Mesmo antes disso, a estabilidade se dava em patamares muito elevados, o que reitera a alta pressão a que o sistema de saúde brasileiro segue submetido. Amazonas, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Tocantins, Distrito Federal e Rio de Janeiro são os oito estados que apresentaram aumento. Entre os demais, há indícios de interrupção da tendência de queda na Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo. 

“Como vem sendo alertado desde a atualização da semana 14 (a de 4 de abril), diversos desses estados ainda estão com valores similares ou até mesmo superiores aos picos observados ao longo de 2020. Tais estimativas reforçam a importância da cautela em relação a medidas de flexibilização das recomendações de distanciamento para redução da transmissão de Covid-19, enquanto a tendência de queda não tiver sido mantida por tempo suficiente para que o número de novos casos atinja valores significativamente baixos”, ressaltou o pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe.

Após registrar 4.211 mortes em 24 horas no dia 6 de abril, o Brasil nunca regressou à média móvel anterior a esse pico da doença, que girava em torno de mil mortes por dia. Atualmente, o indicador está em estabilidade há nove dias, mas com quase o dobro de vítimas: 1.766. Isso faz do Brasil o segundo país com maior média móvel de mortes por Covid-19 no mundo, atrás apenas da Índia. O que nos abriga desse temporal é a vacina, cuja aquisição foi recusada ao menos onze vezes pelo governo federal.

Setenta milhões de doses da Pfizer poderiam ter sido adquiridas em 2020, com 1,5 milhões sendo entregues ainda em dezembro, conforme revelou um executivo da empresa à CPI da Covid. O Butantan também ofereceu, sem sucesso, outras 60 milhões e, segundo o diretor do instituto, o Brasil poderia ter sido o primeiro país do mundo a começar a vacinação, ainda no início de dezembro de 2020. Ficou para 17 de janeiro. O resultado é que, mais de quatro meses depois, somente nesta terça (24) o país atingiu a marca de 10% da população imunizada.

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