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O machismo da Imperatriz

Menos famosa que Catarina a Grande, da Rússia, a Imperatriz Maria Teresa da Áustria, ? sua quase contemporânea, ? foi certamente o chefe de estado mulher de maior poder na Europa do século XVIII. Talvez o termo mais preciso para sua função fosse o de “Imperadora”, pois exerceu o poder por direito próprio e não por casamento – como era o caso de muitas outras imperatrizes, de papel meramente decorativo na posição de simples esposas dos Imperadores.

| 09 ago 2011_17h29
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Menos famosa que Catarina a Grande, da Rússia, a Imperatriz Maria Teresa da Áustria, ? sua quase contemporânea, ? foi certamente o chefe de estado mulher de maior poder na Europa do século XVIII.

Talvez o termo mais preciso para sua função fosse o de “Imperadora”, pois exerceu o poder por direito próprio e não por casamento – como era o caso de muitas outras imperatrizes, de papel meramente decorativo na posição de simples esposas dos Imperadores.

Maria Teresa reinou de 1740 a 1780 e – ao contrário da grande maioria dos príncipes e monarcas da época, – teve por sorte um casamento feliz, ainda que inevitavelmente arranjado pelos pais dos noivos.

Com o seu marido Franz teve 16 filhos, vários dos quais foram reis, rainhas ou imperadores de diversos paises da Europa. A mais famosa é sem dúvida Maria Antonieta, Rainha da França, que a guilhotina tornou tristemente célebre. Teve também uma neta importante para o Brasil, a Imperatriz Leopoldina, mulher de D. Pedro I.

Maria Teresa foi mãe dedicada, e bem mais presente na educação de seus muitos filhos que quase todas as outras rainhas européias, fato que o seu pleno exercício do poder torna ainda mais surpreendente.

Relativamente feliz na vida conjugal (“tanto quanto se pode ser neste mundo” dizia ela) Maria Teresa dispunha de um arsenal de conselhos para cada filha sua que se casava, – sempre com um nobre e quase sempre com outro monarca ou príncipe reinante europeu.

As meninas eram geralmente muito jovens, mas algumas delas já tinham personalidade forte, como Maria Carolina, designada para casar-se com o rei de Nápoles. Ao receber de sua mãe a carta aqui reproduzida, completara 16 anos e acabara de chegar à nova terra da qual seria rainha.

Lidos com os olhos de hoje, os preceitos sugeridos à sua filha por Maria Teresa, (num trecho desta carta transcrito a seguir), parecem tão absurdos que revoltariam até mesmo a mais submissa das mulheres (ainda que alguns poucos homens gostassem de gravar em pedra as “sábias” palavras da Imperatriz):

“…Você tem tudo para tornar um esposo feliz e esse deve portanto ser seu único objetivo: o de agradar-lhe, de ser-lhe útil, de diverti-lo, de ligá-lo a você e não ter qualquer outro pensamento ou objetivo senão ele. Você tem um perfeito modelo de comportamento sob seus próprios olhos que é a sua cunhada. Nada de mau humor, nenhuma impaciência, sempre alegre, sempre doce, eis os únicos laços pelos quais podemos ganhar e sustentar a estima e o carinho de nossos esposos, pois só eles podem nos fazer felizes – tanto quanto se pode ser nesse mundo”…

Esta carta permaneceu esquecida numa coleção dos Estados Unidos por quase cem anos até ser adquirida pelo atual detentor, e, por não estar disponível, acabou pouco estudada pelos historiadores. Na verdade, Maria Carolina não seguiu nenhum dos conselhos da mãe. Infernizou a vida do marido, meteu-se em política (Napoleão a detestava), protegeu favoritos, envolveu-se com amantes e foi grande amiga de Lady Hamilton, amante do Almirante inglês Nelson. Com tudo isso, tornou-se uma figura bem mais interessante para a História que a mosca morta em que sua mãe teria gostado de transformá-la.
 

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