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O perigo das galinhas

O Marquês de Pombal foi talvez a maior figura política da história portuguesa e exerceu o poder com mão de ferro nas décadas em que foi o ministro todo-poderoso do Rei D. José I. Seu papel na reconstrução de Lisboa, ? arrasada pelo terremoto de 1755 ? foi de tal extensão que a cidade baixa da capital portuguesa é conhecida ainda hoje como a “baixa pombalina”.

| 29 nov 2011_18h30
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O Marquês de Pombal foi talvez a maior figura política da história portuguesa e exerceu o poder com mão de ferro nas décadas em que foi o ministro todo-poderoso do Rei D. José I. Seu papel na reconstrução de Lisboa ? arrasada pelo terremoto de 1755 ? foi de tal extensão que a cidade baixa da capital portuguesa é conhecida ainda hoje como a “baixa pombalina”.

A influência de Pombal na administração colonial do Brasil foi também imensa e o ministro foi o principal responsável pela expulsão dos jesuítas em 1759, com amplas consequências políticas, religiosas e patrimoniais, tanto para Portugal, como para a colônia brasileira.

Sebastião Jose de Carvalho e Melo, como foi registrado, foi mais tarde agraciado com o título de Conde de Oeiras e finalmente Marquês de Pombal, e usou nas cartas e documentos oficiais as três formas de assinaturas reproduzidas abaixo.

Sua ingerência em todos os assuntos, pequenos ou grandes, refletia bem o estilo da administração portuguesa, que muitas vezes superdimensionava detalhes enquanto lhe escapava o essencial. A carta deliciosa aqui reproduzida, datada de 1775, mostra bem o quanto Pombal se dispunha a imiscuir-se nos mínimos assuntos, até mesmo na alimentação dos doentes nos hospitais do Rio de Janeiro!

Pombal pede que se tome providências conforme uma recente descoberta de uma seríssima “conferência de médicos e cirurgiões em Portugal” que havia chegado a uma importante conclusão após “sérias reflexões e multiplicadas experiências”: o uso de galinhas na alimentação dos pacientes internados devia ser evitado a todo custo, pois não apenas não era recomendável, ? segundo “a prática de todas as Nações civilizadas”, ? como podia ser inclusive perigoso “pois aos enfermos que deviam sustentar-se em mantimentos tênues e de digestão fácil, se lhes ministrava na substância da galinha o fomento da mesma febre”. Estava portanto demonstrado que eram as galinhas as responsáveis pela febre dos doentes, pois sua absorção “era uma preocupação quimérica,  insubsistente e até contraditória dos princípios”.

Diante de tantas evidências, tomba a sentença do monarca: “Foi El-Rey meu Senhor servido ordenar que, em conformidade do que felizmente se está praticando em todos os hospitais reais e militares deste reino se remetesse… o novo regulamento em que se acertou o que devia constituir o alimento dos enfermos para que… se faça executar no hospital militar do Rio de Janeiro”.

Ficaram assim salvos os doentes da capital da distante colônia do pernicioso alimento que se lhes causava a febre…

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