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O que importa no Ibope

Os avanços de Haddad, de Ciro e de Amoêdo, e a rejeição crescente de Bolsonaro

José Roberto de Toledo | 06 set 2018_10h00
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As muitas oscilações dos candidatos no Ibope tiraram o foco dos dois movimentos mais importantes ocorridos na disputa presidencial após o início da propaganda eleitoral no rádio e na tevê. Quais foram? O crescimento rápido de Haddad e a marola que quebra à direita de Alckmin, com Amoêdo e Meirelles juntando-se a Bolsonaro e Alvaro Dias para limitar o potencial do tucano. Em conjunto, as duas ondas reforçam a impressão de polarização da eleição e de tamponamento de uma candidatura de centro.

Se dividirmos o eleitorado em dois grandes blocos, o lado petista e adjacências soma os 12% de Ciro com 12% de Marina, mais 6% de Haddad, 1% de Boulos, 1% de Vera e 1% de João Goulart Filho, totalizando 33%. Ou seja, todos os candidatos da banda esquerda do espectro político não chegam a quanto tinha Lula quando ele ainda aparecia nas pesquisas de intenção de voto.

É de se supor, portanto, que uma parte dos lulistas enviuvados ainda esteja oculta nos 28% de eleitores que declararam voto em branco, nulo ou não souberam responder ao Ibope em quem votarão. Esse é o eleitorado de reserva no qual Haddad mostra facilidade para crescer. O faz rapidamente, à medida que os lulistas se dão conta de que o nome de seu candidato preferido não aparecerá na urna eletrônica em 7 de outubro e de que Haddad é Lula.

Na banda antipetista, os 22% de Bolsonaro somam-se aos 3% de Alvaro Dias, e, agora, aos 3% de Amoêdo e aos 2% de Meirelles, totalizando 30%. Esse é o eleitorado em cima do qual a campanha de Alckmin montou sua estratégia para sair dos 9%. Os ataques frontais a Bolsonaro ocupam bom número das propagandas alckmistas e visam desgastar o militar da reserva junto ao eleitorado feminino e a quem teme que o Brasil vire Venezuela.

É cedo para conclusões, porque a pesquisa pegou poucos dias de propaganda na tevê, mas o Ibope não registrou qualquer sinal de que a campanha negativa de Alckmin esteja provocando o efeito planejado. Não apenas Bolsonaro oscilou dois pontos para cima: Amoêdo e Meirelles também foram na mesma direção. Juntos, capturaram cinco pontos entre eleitores antes indecisos contra dois conquistados pelo tucano. O saldo é, portanto, negativo.

Ressalvando-se uma segunda vez que é preciso esperar mais alguns dias de propaganda para medir todos os seus efeitos, essas primeiras variações captadas pelo Ibope sugerem que há mais disposição do eleitorado antipetista em experimentar candidatos de outros partidos do que votar novamente em um nome do PSDB. Mantida essa tendência nos próximos dez ou quinze dias, restará a Alckmin apelar para a defesa do voto útil anti-Bolsonaro.

Essa conversa emerge toda vez que alguém olha as simulações de segundo turno e constata que o tucano tem nove pontos de frente sobre o candidato que defende o golpe militar de 1964. Em comparação a Haddad, é uma vantagem aparentemente grande, já que o petista empata tecnicamente com Bolsonaro na simulação de segundo turno entre os dois. Alckmin, portanto, parece ter mais chances de evitar uma vitória da extrema direita.

É mais aparência do que fato. Em primeiro lugar, porque o tucano não é o único que se sai melhor do que Bolsonaro num confronto direto. Tampouco é quem tem mais vantagem: Ciro aparece onze pontos à frente de Bolsonaro na simulação de segundo turno entre eles, e Marina tira dez pontos de distância sobre o ex-militar. Não é difícil entender o motivo. Bolsonaro é, disparado, o candidato mais rejeitado que sobrou na corrida presidencial.

De acordo com o Ibope, 44% dos eleitores dizem que não votariam no defensor da ditadura de jeito nenhum. Em comparação a agosto, sua rejeição aumentou. A taxa era 37% há menos de três semanas. Há duas explicações possíveis para esse crescimento: pode ter sido fruto da campanha negativa contra ele na propaganda eleitoral ou – mais provável – se deve à retirada do nome de Lula da lista de candidatos na pergunta sobre rejeição.

Do jeito que é formulada a questão, com o eleitor estimulado a apontar na lista de candidatos mais de um nome que rejeita, faz diferença se alguém com alta rejeição, como o ex-presidente, sai do rol. Quem rejeitava Lula acima de todos, mas também rejeitava Bolsonaro agora tem uma chance ampliada de apontar o nome do segundo que menos gosta pela simples falta de concorrência.

Seja pelo motivo que for, o candidato das corporações fardadas está quase vinte pontos à frente dos concorrentes em rejeição. Segunda mais rejeitada, Marina tem 26% de eleitores ostensivamente contra ela. Mas isso não é muito mais do que têm seus três adversários diretos pela vaga no segundo turno contra Bolsonaro. Haddad tem 23% de rejeição; Alckmin, 22%; Ciro, 20%. Assim como a intenção de voto, a rejeição ao petista cresceu também mais rapidamente do que a de seus concorrentes. Se Haddad é Lula para o bem, também é para o mal.

Além de todas essas razões, o discurso em favor do voto útil anti-Bolsonaro é frágil porque se baseia em um número que, historicamente, guarda pouca relação com o resultado da eleição. As simulações de segundo turno não conseguem reproduzir o mesmo estado mental do eleitor quando ele se defronta na urna com apenas duas opções de voto. Isso porque, no turno final, a lógica é oposta da do primeiro turno. Em vez de votar em alguém de sua preferência, o eleitor vota contra quem gosta menos.

Logo, o que realmente importa para avaliar as chances de um candidato no segundo turno é sua taxa de rejeição. Aí, se não é exatamente a mesma, a situação dos maiores rivais de Bolsonaro é muito semelhante. Apenas seis pontos separam os quatro.

Outro aspecto do recente levantamento do Ibope que recebeu menos atenção do que merece é a pesquisa espontânea. É a primeira pergunta sobre eleição a que o entrevistado é submetido – e ele responde o que lhe vem à cabeça, sem que tenha sido estimulado pelo cartão com os nomes dos candidatos. Por isso, tende a revelar um voto mais consolidado do que na pesquisa estimulada.

O que aconteceu na espontânea do Ibope foi que praticamente todos os candidatos cresceram, como era de se esperar depois do início da propaganda de rádio e tevê. Houve uma única exceção: Lula caiu seis pontos, de 28% para 22%. É o maior sinal de que, a despeito das táticas procrastinadoras do PT para tentar manter o ex-presidente na disputa, o eleitorado do ex-presidente começou a se mexer sozinho e a buscar um outro candidato.

Haddad conquistou apenas um terço dos eleitores que deixaram de declarar voto espontaneamente em Lula. Foi de zero para 2%. Em pontos, a intenção de voto espontânea do petista cresceu tanto quanto a de Ciro, que dobrou de 2% para 4%. Considerando-se que o grosso do crescimento de Ciro foi no Nordeste, significa que até um terço do eleitorado que deixou de declarar voto em Lula passou a nomear espontaneamente o pedetista como seu predileto.

Se a estratégia de Lula deu certo até agora, pois ele conseguiu manter e até ampliar seu cacife eleitoral, isso não implica que continuará funcionando indefinidamente. Ao contrário. Há sinais de que a manobra já deu o que tinha que dar e, a partir de agora, quanto mais tempo o PT e Lula demorarem para oficializar Haddad como candidato a presidente, maior será a oportunidade para rivais como Ciro aproveitarem para capturar seus eleitores.

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